O Estado do Tocantins gasta em média R$ 2,12 ao dia na saúde de cada habitante, somando um total ano de R$ 764,22. Isso corresponde a 35% dos que os beneficiários dos planos de saúde gastam por ano para ter direito a assistência complementar. Dos 139 municípios, somente 43 possuem leitos de internação, 70 possuem leitos de observação e repouso e apenas três – Palmas, Araguaína e Gurupi; possuem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Os dados foram apresentados nesta quarta-feira, 13, à imprensa pelo presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, acompanhado de conselheiros federais e da diretoria do Conselho Regional de Medicina do Tocantins (CRM-TO). Segundo o dirigente, o financiamento em saúde tem sido insuficiente e ainda se soma a isso a falta de competência da gestão pública para uma efetiva aplicação das verbas. O resultado: hospitais sucateados com longas filas de espera, corredores superlotados, dificuldade de marcação de consultas, exames e cirurgias e déficit de leitos.
– Confira os dados apresentados pelo Conselho Federal de Medicina.
No total, segundo o CFM, o Estado conta com 134 leitos de UTI. Em 2010, a oferta era de 98 leitos. Durante sete anos, o Executivo implantou apenas 36 novos leitos. O crescimento foi menor que o populacional. No mesmo período, a população tocantinense aumentou 12%, passando de 1,3 milhão para 1,5 milhão.
Para atender a demanda, o Executivo estadual acaba recorrendo à terceirização, ou transferência do paciente para outro Estado. De acordo com o levantamento, os leitos de UTIs privadas estão presentes em quatro municípios do Tocantins e cresceram mais de três vezes em relação a quantidade registrada em 2010, eram 22 e chegaram a 77 ao final de 2017.
Óbitos por câncer
O levantamento do CFM mostrou ainda que o Estado tem alto índice de óbitos por câncer. Em 11 municípios, a doença é a principal causa de morte. São eles: Divinópolis, Silvanópolis, Aragominas, Caseara, Conceição do Tocantins, Maurilândia, Ipueiras, São Salvador, Chapada da Natividade, Crixás e Itaporã. A dificuldade do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, são fatores que contribuem para essa estatística, conforme o CFM.
Fila de espera
Dados de 2017, divulgados pelo Conselho, apontam também que 5.886 pessoas estavam na fila de espera para realização de cirurgias eletivas pelo SUS. O número atualizado pelo governo, em abril deste ano, quando foi lançado o programa “Opera Tocantins”, é de 5.547 pacientes. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) o mutirão pretende zerar a fila de cirurgias eletivas e já foi iniciado.
Visitas
Após a coletiva os representantes do CFM e CRM-TO visitaram os principais hospitais do Estado, Hospital Geral de Palmas (HGP) e Hospital e Maternidade Dona Regina. A comitiva se dividiu e o presidente do CFM, Carlos Vital, acompanhado dos conselheiros Celso Murad, Henrique Silva, Mauro Ribeiro e Nemésio Tomasella, estiveram no HGP, já o grupo formado pela presidente do CRM-TO, Jussara Martins, na companhia dos conselheiros, José Iran Gallo, Jecé Brandão e Lúcia Caetano foi ao Dona Regina.
O caso mais crítico, contudo, é o do Hospital de Dianópolis que provavelmente será interditado eticamente. Ele foi visitado nesta semana mas o CRM-TO constatou que nenhuma mudança sugerida anteriormente foi implementada e que a escala dos plantões continua comprometida.
O hospital tem trabalhado com no máximo dois médicos de plantão por dia. Segundo o CRM-TO, além de “insuficiente” a prática é “desumana” e “desrespeitosa” para com os pacientes e profissionais médicos. De acordo com a Resolução 2.077/14 do CFM, por ser um hospital de referência ele deveria contar com o mínimo de especialidades distintas diariamente (um clínico geral, um pediatra, um gineco/obstetra, um anestesista e um ortopedista) além do plantonista, o que não ocorre.
Na próxima reunião plenária que acontecerá nesta quinta-feira, 14, o CRM-TO avaliará o caso e dará encaminhamento aos trâmites. Segundo o conselheiro federal, representante do Tocantins, Nemésio Tomasella, provavelmente a unidade sofrerá interdição ética, ou seja, não poderá internar mais nenhum paciente.
Outro lado
Em nota ao CT, a Secretaria Estadual de Saúde informou que vai tomar providências assim que receber comunicado oficial dos Conselhos Regional e Federal de Medicina, referente às visitas realizadas nas unidades hospitalares do Estado.