Outro dia em um bate papo informal escutei o seguinte comentário: “A Polícia mantinha a ordem no asfalto enquanto o crime estava no morro. Esta mesma polícia resolveu subir “o morro” e o crime veio para “o asfalto”. Ao ouvir, me indaguei: “Veio? Realmente foi isso?”
Não se tem dúvidas de que sempre houve prioridade e que tratar o crime nas áreas carentes sempre ficou em segundo plano e, desta forma, os marginais ali se colocaram. As prioridades políticas associadas à falta de estratégias, com pouca inteligência em todas as suas vertentes, geraram uma catástrofe que hoje se apresenta diariamente.
Respondendo as perguntas iniciais, o crime nunca saiu das comunidades e aproveitou as ações desestruturadas para também dominar os demais perímetros urbanos até então sob o controle do Estado.
E sabe o porquê? Na primeira vez houve uma intenção. Basta lembrar das ações políticas e cinematográficas das retomadas das áreas em poder dos traficantes por volta de 2010. Para não ter confronto não houve as prisões necessárias. Recordar daquela cena dos bandidos fugindo para alguns foi gratificante, porém aquilo foi ruim.
Aquele único tiro disparado no Complexo do Alemão, que alvejou um marginal que foi arrastado por comparsas, mostrou que poderiam ter sido encurralados, presos e tratados dentro da lei. Outros pontos negativos foram os anúncios anteriores as operações onde parte dos bandidos conseguiram se movimentar e armas puderam ser escondidas ou remanejadas. Também não houve inteligência e buscas posteriores aos marginais fugitivos. Vieram apenas propagandas políticas de uma falsa paz. Na verdade, o que houve de fato foi um “pisão no formigueiro”.
Bandidos e armas para todos os lados e o crime se espalhou a vontade. Em paralelo, o Estado não se preparou. Ao contrário, se deu por satisfeito, houve desinvestimento e, ainda por cima, veio junto a crise financeira agravada pela corrupção.
Corrupção esta que alavancou uma crise moral e ética. Para piorar, os marginais, de forma organizada (não fazendo apologia a criminosos, mas é prudente reconhecer que o crime é organizado) utilizaram de inteligência para suas missões.
Estratégicos, eles começaram a trazer armas e munições, a cooptarem desempregados e desestabilizaram em todas as pontas, roubando pessoas nas ruas, seus carros, explodindo caixas eletrônicos, roubando cargas e como bola de neve na crescente mais armas e mais pessoas. Embaralhado a isso os agentes da segurança pública foram colocados de um lado para o outro, e pouco efetivo, sem salários e com greves. Pronto! Aos poucos fortalecidos os marginais passaram a não ter mais limites.
Analisando, a segurança pública foi encarcerada junto com a população que sem ter como combater o crime veio (e vem) infelizmente contando a morte de policiais. Por isso, a intervenção é, sem nenhuma dúvida, bem-vinda e extremamente necessária. O que se espera como primeiro passo é sair do campo da política e partir para a seara da estratégia e de combate.
O ponto de entendimento fundamental é saber que o planejamento é necessário, mas necessitamos do ver e agir. No mais, estaremos cometendo a mesma falha ao deixar que os bandidos fujam, que desloquem suas armas para áreas estratégicas.
Na sequência é necessário entregar segurança para quem sabe e tem disposição para fazer segurança, pois não há como negar que confrontos ainda ocorreram e serão necessários. Tem que confrontar, estruturando e entregando a polícia para quem sabe e gosta de ser policial. As Forças de Segurança Pública são excepcionais e devem ser a ponta neste teatro de operações, lançando os quadros e serviços para apoiar e, acima de tudo, ter o seu suporte forte do líder, mantendo o respeito, a ordem e o compliance.
O último passo importante é pensar em futuro já estruturando com planos sólidos e transparentes que devem ser divulgados, uma vez que a população conhece ela controla. Não se pode errar, estamos no mais alto nível para solução, precisamos de uma intervenção e não de uma nova intenção, temos que acreditar e apoiar, afinal todos juntos somos o braço forte e a mão amiga para o Rio voltar a ter tempos de paz.
CARLOS GUIMAR FONSECA JUNIOR
É gerente de segurança corporativa na ICTS Security, empresa de consultoria e gerenciamento de operações em segurança
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