Pela primeira vez em seus 2 mil anos de história, a Igreja Católica será comandada por um cardeal nascido nos Estados Unidos.
Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito nesta quinta-feira, 8, como o 267º papa, assumindo o trono inaugurado por São Pedro e ocupado por Francisco entre março de 2013 e abril de 2025, e vai liderar um rebanho de mais de 1 bilhão de fiéis em todos os cantos do mundo.
“A paz esteja com todos vocês. Caríssimos irmãos e irmãs, essa é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor que deu a vida para a Igreja de Deus. Também gostaria que essa saudação de paz entrasse no nosso coração e alcançasse nossas famílias e toda a Terra. Que a paz esteja convosco”, disse Prevost, que assumiu o nome de Leão XIV, em suas primeiras palavras às dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça São Pedro.
No discurso, o pontífice americano, alinhado com a ala reformista do clero, evocou bandeiras do finado Francisco, morto em função de um AVC no último dia 21 de abril, como a defesa incansável da paz e a promoção de uma Igreja “missionária e aberta a pontes de diálogo”, bem como a “todos aqueles que precisam de nossa caridade, presença e amor”.
“Deus ama a todos incondicionalmente, e ainda conservamos em nossos ouvidos aquela voz frágil e corajosa do papa Francisco, que dava sua bênção ao mundo inteiro naquela manhã de Páscoa.
Permitam-me dar sequência àquela mesma benção: Deus ama a todos, e o mal não prevalecerá”, acrescentou.
O Papa ainda defendeu uma “Igreja sinodal”, ou seja, aberta à contribuição de bispos do mundo, assim como pregava Francisco.
“Queremos ser uma Igreja que sempre busca a paz, a caridade e estar próxima daqueles que sofrem”, reforçou.
Nascido em 14 de setembro de 1955, em uma família de origem francesa em Chicago, Prevost é considerado um cardeal da Cúria Romana por ter ocupado postos importantes no Vaticano a partir de 2023, como prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, região com a qual mantém ligação profunda.
Entre 2015 e 2023, Leão XIV foi bispo de Chiclayo, no Peru, diocese que mereceu uma menção em espanhol no primeiro discurso do novo papa. “Se me permitem, quero dirigir uma palavra de saudação à minha querida diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhava seu bispo, compartilhava sua fé e deu tanto para seguir sendo a Igreja fiel de Jesus Cristo”, disse o americano, que também foi missionário por cerca de 15 anos no país latino.
Além de inglês e espanhol, Prevost fala italiano, português e francês e, em sua missão no Peru, sempre demonstrou atenção especial aos marginalizados e imigrantes, tema caro a Jorge Bergoglio. Como prefeito dos bispos, nomeou centenas de prelados, forjando uma geração de religiosos “como Francisco”, abertos e progressistas. Ao mesmo tempo, ganhou a reputação de ser um cardeal reservado e equilibrado.
Por outro lado, já foi acusado de ter acobertado abusos cometidos por padres em Chicago e no Peru. No primeiro caso, não teria tomado medidas contra dois agostinianos – ordem da qual ele foi prior geral por mais de uma década – posteriormente condenados por crimes sexuais cometidos entre os anos 1980 e 1990. Já no segundo, não teria dado sequência a denúncias de três mulheres sobre abusos cometidos por dois padres quando elas eram crianças.