O que move as pessoas são os desejos, os quais podemos traduzi-los em expectativas, planos e sonhos. Por meio de objetivos claros buscamos alcançá-los e concretizá-los. Contudo, na maturidade, das pessoas e da sociedade, temos que pesar o que queremos e o que precisamos.
Em pleno aumento da Covid-19, o que queremos enquanto coletividade é segurança e ação das instituições públicas, a continuidade de esforços dos agentes estatais, o comércio funcionando e as indústrias produzindo bens e gerando empregos, mas não ao custo de vidas humanas. Em países com melhores resultados no combate ao novo coronavírus a receita foi: testes em massa, respostas efetivas do governo, como o isolamento social, e cooperação dos cidadãos.
[bs-quote quote=”O Estado, o Mercado e as entidades do Terceiro Setor precisam se aproximar ainda mais, sobrepor ações, proteger as pessoas e auxiliar na sobrevivência das empresas e dos milhões de empregos que trazem dignidade a famílias inteiras” style=”default” align=”right” author_name=”CARLOS JOSÉ DE ASSIS JÚNIOR e JÚLIO EDSTRON S. SANTOS” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2020/04/carlos_assis_julio180.jpeg”][/bs-quote]
Passados 67 dias desde o primeiro caso descoberto no Brasil, segundo a Imperial College de Londres, uma das universidades mais respeitadas do mundo, estima-se que nós temos a maior taxa de transmissão da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Segundo o estudo, assinado por 47 pesquisadores, a taxa de transmissão do país é R2,81, ou seja, em média, no Brasil, cada pessoa com Covid-19 passa a doença para outras três, demonstrando que momentos ainda mais difíceis virão nos próximos dias, tal como já é presenciado em Manaus e Rio de Janeiro.
Porém, o que precisamos é de paciência e resiliência para passarmos juntos pela maior crise global do século atual.
Nós, o povo brasileiro, por ações ou omissões, aceitamos os 13,5 milhões de brasileiros abaixo da linha de pobreza, ou seja, indivíduos que recebem menos do que R$ 176,00, por mês; enquanto sociedade, geralmente, não nos incomodamos com os 38 milhões de trabalhadores informais que não têm acesso a Seguridade Social.
Deixamos que a educação fosse relegada a um plano inferior: o governo que já chegou a investir R$ 2,28 bilhões em 2012, hoje investe R$ 307,9 milhões; e doenças que estavam erradicadas voltassem ao panorama nacional, como, por exemplo, o sarampo. No entanto, o Senado acabou de aprovar, na última sexta, projeto de R$ 125 bilhões de socorro aos Estados, numa demonstração clara de falta de planejamento de recursos essenciais para manutenção dos serviços previstos pelo governo. Enquanto seres humanos, deixamos de lado as necessidades do próximo e nos isolamos em grupos, geralmente pelas redes sociais, alienados, como tanto escreveu Zygmunt Bauman.
Agora, assistimos atônitos uma pandemia que não para de infectar pessoas, inclusive, os heróicos profissionais de saúde, levando milhares de pessoas a morte, as condições estatais na área de saúde e de educação ao extremo e os empresários ao desespero.
O coronavírus além de atacar a saúde de milhões de pessoas, também se espalha como o patógeno do medo, que somente pode ser superado por ações colaborativas, senão vejamos: centros de saúde experimentam a troca constante de informações e a adoção de medidas de prevenção coordenadas, ainda que tomadas de forma independente; estudos para desenvolver uma vacina contra o vírus estão sendo feitos simultaneamente em locais tão diversos quanto a Universidade de British Columbia, no Canadá, a Universidade Tsinghua, em Pequim, e o Instituto de Pesquisa Biológica, em Israel; a iniciativa privada também está contribuindo na corrida pela cura da nova doença, onde, da Microsoft à Ford, da Amazon ao grupo LVMH, milhares de empresas estão doando recursos ou materiais para ajudar equipes de pesquisa e centros médicos que atendem a população atingida.
Na contramão do que estamos vendo hoje, no passado recente, os governos estabeleceram tetos para os gastos públicos, impactando sobretudo as populações mais carentes e isolando orçamentariamente seus entes federados.
Não seremos mais os mesmos, enquanto sociedade. No momento atual, devemos acompanhar a qualidade da prestação dos serviços públicos e a utilização de recursos financeiros para o combate a pandemia, exercendo o controle social sobre a Administração Pública. E no futuro, governos e sociedades precisam ser um só para garantir a realização de ações cidadãs e impedir infortúnios como o que estamos vivendo.
Empresários devem ser resilientes e acreditar no conhecido refrão da música de Chico Buarque “apesar de você, amanhã a de ser um novo dia”. Não vemos o mundo com tons róseos, sabemos que a crise é grave, que a situação pode piorar, contudo, nos momentos de maiores problemas é que a execução de planejamentos estratégicos criativos e práticos podem fazer a diferença.
O Estado, o Mercado e as entidades do Terceiro Setor precisam se aproximar ainda mais, sobrepor ações, proteger as pessoas e auxiliar na sobrevivência das empresas e dos milhões de empregos que trazem dignidade a famílias inteiras. Esse sentido amplo de coordenação de ações e recursos, previstos em Planos e Projetos, deve se tornar realidade, para além da pandemia, e deixar de ser discurso de convencimento. Da qualidade total nos anos 90 até hoje, governos e empresas não introduziram a cultura do planejamento em suas organizações. O planejamento estratégico prevê municípios e estados mais inclusivos, seguros, sustentáveis e resilientes a desastres ou a eventos incomuns. Fortalecer a administração pública é igualmente importante e faz-se essencial no pós pandemia.
Por fim, nos lembrando do exemplo do presidente norte-americano Abraham Lincoln, que, de lenhador, se tornou advogado, depois parlamentar e atingiu o cargo máximo do Poder Executivo dos EUA, sendo lembrando como um herói nacional, para quem: “O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho”, esperamos que em um futuro próximo possamos nos orgulhar das ações que tomamos agora.
CARLOS JOSÉ DE ASSIS JÚNIOR
É graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Campina Grande (PB), pós-graduado em Comércio Exterior pela Fundação Dom Cabral e em Políticas Públicas para MPE pela Unicamp. Trabalhou 20 anos no Sebrae e seis anos na Fieto; atualmente é servidor do TCE.
carlosjose.assisjunior@gmail.com
JÚLIO EDSTRON S. SANTOS
Doutor em Direito pelo Centro Universitário de Brasília – UNICEUB. Mestre em Direito Internacional Econômico pela UCB/DF. Diretor Geral do Instituto de Contas 5 de Outubro do TCE-TO Professor e Coordenador Acadêmico do IDASP/Palmas. Professor da Uninassau de Palmas. Membro dos grupos de pesquisa Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor (NEPATS) da UCB/DF, Políticas Públicas e Juspositivismo, Jusmoralismo e Justiça Política do UNICEUB. Editor Executivo da REPATS.
edstron@yahoo.com.br