As primeiras mudas e sementes de café foram trazidas para o Brasil por volta de 1727, vindo da Guiana Francesa e plantadas no Estado do Pará.
O início de tudo nos leva a Etiópia (antiga Abissínia) onde as plantas de café, depois de encontradas na natureza por pastores de cabras, foram cultivadas em monastérios islâmicos e os frutos usados pelos monges como infusão. Até o século 18 os árabes eram os únicos a cultivarem a planta, a produção da bebida e a venda dos grãos, que eram comercializados já torrados para não germinarem e, assim não se reproduzirem.
Porém apesar de todo esse cuidado dizem que os holandeses conseguiram alguns frutos e levaram, primeiro para as suas colônias asiáticas (Ceilão, Java e Sumatra) e, depois para as Antilhas Holandesas (ilhas de Curaçao, Bonaire e outras três pequenas). Conta-se que por volta de 1700 a Holanda presenteou o rei francês Luiz XIV mudas de café e plantadas nos jardins de Versailles. Foram dessas plantas que algumas mudas foram levadas para as colônias francesas na América e, daí para o Brasil.
Sabendo da sua fama na Europa como bebida, a ampliação do cultivo chegou até o Rio de Janeiro e depois, já no século 19, com o empobrecimento dos solos e o fim da escravidão, a produção rumou para o oeste paulista onde tomou outra dinâmica com empreendedorismo dos fazendeiros, com introdução de tecnologias mais produtivas. Depois ampliou para Minas Gerais e Paraná.
Em 1850 o Brasil já era o maior produtor mundial, com 40% da produção mundial.
Assim estabelece-se nova dinâmica na economia cafeeira com investimento em ferrovias, portos, modernização de cidades, criação de bancos, lojas comerciais, pequenas indústrias manufatureiras, gerando riqueza para o país, fortalecendo a economia e criando condições para a industrialização do Brasil.
Atualmente o Brasil é produtor das duas principais espécies de café, o arábica, que é um café mais aromática e suave e o conilon (robusta), que é mais amargo e marcante, com maior teor de cafeína. No mundo o arábica representa 60% da produção total e o conilon os outros 40%.
A variedade arábica é usada para consumo direto enquanto o conilon é principalmente utilizado na produção de café solúvel e na composição de misturas para obtenção de diferentes tipos de bebidas. Por isso os preços também são diferentes. Historicamente a cotação do conilon é 60% do arábica que é compensada pela produtividade do conilon que é, em média, 25% maior que o arábica e, pelo menor custo de produção e manutenção da lavoura.
A produção de café no mundo em 2020, segundo a Organização Internacional do Café foi de 175,3 milhões de sacos e, a produção brasileira representou 39% da produção mundial.
O consumo nesse mesmo ano foi de 166,4 milhões de sacos, concentrado principalmente nos países europeus com participação de 32,5% do total e a América do Norte com 18,6%. O Brasil consumiu o equivalente a 13,5% do café produzido no mundo.
No Brasil, os principais estados produtores de arábica são Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Paraná. Já o conilon é produzido no Espírito Santo, Rondônia e Bahia. Um dos fatores importantes para o cultivo desses cafés é a altitude e temperatura. Enquanto o arábica se adapta melhor em regiões acima de 800 metros, mais frias, o conilon em regiões mais baixas e mais quentes.
Na safra 2020/21 o Brasil produziu 48,8 milhões de sacos, sendo 33,4 de arábica e 15,4 de conilon, com redução de 22,6% em relação à safra anterior. Essa redução é devida a dois fatores, o primeiro é o efeito da bienalidade do arábica e, o outro foi a seca que atingiu as principais regiões produtoras, principalmente em Minas Gerais e São Paulo.
Para essa produção são cultivadas 1,82 milhão de ha, ocupando o arábica 1,44 milhão de ha e o conilon 380 mil hectares. Em 2021 há 390 mil hectares de café em formação, principalmente de arábica em Minas Gerais.
Além de maior produtor mundial, e segundo maior consumidor (o primeiro são os EUA), o Brasil é o maior exportador. Em 2020, as exportações de café totalizaram 44,5 milhões de sacos com receita cambial de US$ 5,6 bilhões.
O café é uma cultura bastante adequado para o pequeno e médio produtor, sobretudo pela pouca necessidade de área e a possibilidade de utilização de trabalho familiar. Nesse cenário o Estado do Tocantins tem um potencial muito grande para o cultivo da espécie conilon pela adaptação a baixa altitude e temperaturas mais elevadas. Os experimentos conduzidos na região de Palmas pela Embrapa e Ruraltins mostraram resultados animadores e no Bico do Papagaio já existe plantios em produção.
Como apoio a cultura o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento conta com o Funcafé, um fundo com recurso da ordem de R$ 5,9 bilhões para empréstimo aos produtores, industriais e exportadores, com as linhas de crédito de custeio, comercialização, aquisição de café e capital de giro para indústrias. A operação desse fundo é feito por bancos e cooperativas de crédito que contratam o crédito diretamente com os mutuários de acordo com as regras definidas pelo Conselho Monetário Nacional. Em 2021 são 31 agentes financeiros operando com o Funcafé. Vamos introduzir o café no Tocantins.
CESAR HALUM
É secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e apresentador do programa Mundo Agro, no SBT Tocantins.