O advento da produção de soja no Brasil produziu uma das mais extraordinárias transformações não só na agricultura, mas em toda a economia do país, em toda sua história. O seu plantio se estende hoje por todas as regiões do país, de norte a sul e de leste a oeste. É o principal produto de exportação de nosso comércio exterior.
Na agricultura, a soja praticamente nasceu moderna com plantio, manejo e colheita totalmente mecanizados. Seu avanço para todo o interior do país elevou a renda da terra e consequentemente provocou uma modernização em praticamente todos os cultivos mais importantes. Seu plantio na vasta região do chamado “cerrado”, viabilizou uma ocupação e modernização sem precedentes na história da agricultura tropical do mundo.
Uma especial consequência do plantio da soja no Brasil foi a viabilização da chamada segunda safra de milho numa dimensão inexistente em qualquer lugar do mundo. Duas safras seguidas numa mesma área de sequeiro e com possibilidade de uma terceira irrigada foi um feito extraordinário.
Na economia como um todo os dois principais fatos muito importantes foram: (1) a interiorização do desenvolvimento econômico em curtíssimo espaço de tempo para regiões antes completamente desabitadas, como o norte, centro oeste mais ao norte e uma larga faixa do interior do nordeste, noroeste de Minas Gerais e nosso estado do Tocantins; os Índices de Desenvolvimento Humano – IDH de algumas cidades nessas regiões hoje estão entre os mais altos do País, e; (2) a forte geração de divisas cambiais, coloca a soja ao lado do minério de ferro, como os dois principais produtos a garantir uma maior estabilidade e solvabilidade nas contas externas do país; nossas reservas cambiais hoje superiores a US$ 350 bilhões, foram formadas em parte importante com as exportações do setor soja, do qual somos os maiores exportadores do mundo.
E tão importante quanto tudo o que foi dito é que este desempenho tem sido mantido por 15 anos consecutivos de crescimento no plantio e com excelentes perspectivas para o futuro. Vamos agora aos números.
O Brasil é hoje o maior produtor mundial de soja com 137 milhões de t.. Cinco anos após passarmos os EUA, em 2021 já produzimos 25 milhões de t. a mais do que os norte-americanos. O País é de longe o maior exportador mundial de soja em grãos com 85 milhões de t.. Somos o segundo maior exportador mundial de farelo e óleo de soja. As divisas cambiais geradas pelo setor devem superar US$ 50 bilhões em 2021. Nada parecido em toda a economia brasileira.
A área plantada de soja no Brasil deve atingir 40 milhões de ha em 21/22, saindo de 20,7 milhões em 2006/07. Serão 15 safras consecutivas de aumento de área ininterruptas com um média de acréscimo de 1,4 milhões de ha ao ano. Representa hoje 57% da área plantada de grãos no país.
No caso principalmente do centro oeste, este plantio de soja com tecnologias e sementes sofisticadas tem permitido a consecução de uma segunda safra de milho ou algodão em dimensões inexistentes em outro lugar do mundo.
No mercado interno o Brasil conseguiu implantar uma indústria de carnes avícola e suína de alta tecnologia devido a existência de dois insumos básicos, o milho e o farelo de soja. O Brasil é hoje o terceiro maior consumidor de farelo de soja do mundo só perdendo para a superpopulosa China e para os Estados Unidos. Com isso nossa indústria de frangos é a maior exportadora mundial e de suínos a quarta.
No caso do óleo de soja, temos um mercado doméstico todo abastecido além de sermos o segundo exportador mundial. Nos últimos anos o uso do biodiesel se concentrou basicamente no uso do óleo de soja que responde por 80% da matéria prima do combustível.
Desta forma a soja além de gerar um valor extraordinário de divisas cambiais, abastece o país na área de carnes, de óleos vegetais comestíveis e na produção de biodiesel. Portanto não é apenas uma cultura de exportação.
No nosso estado do Tocantins já plantamos 1,1 milhão de ha de soja, com uma produção de 3,5 milhões de t.
A soja, portanto, é um fenômeno que ajudou a modernizar de forma acentuada a agricultura do país. E as perspectivas são muito positivas já que os grandes consumidores asiáticos, notadamente a China demandam cada vez mais proteína derivada da soja. A oferta se concentra basicamente no Brasil, EUA e Argentina, sendo o único com terras disponíveis para expansão expressiva no futuro.
CESAR HALUM
É secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e apresentador do programa Mundo Agro, no SBT Tocantins.