Muito além dos enormes desafios logísticos enfrentados pela pandemia ou da oscilação de preços de commodites agrícolas ou da guerra comercial entre Estados Unidos e China, um dos principais obstáculos enfrentados pelo agronegócio brasileiro atualmente é a dificuldade de se comunicar no campo, ser inserido num contexto digital que os ajude em seus resultados.
Recentemente na Feira Digital Agrotins 2021, que teve como tema Agro 4.0 Tecnologia no Campo, realizada pelo Estado do Tocantins, palestras, debates e painéis sobre a evolução da produção agropecuária foi amplamente apresentado e o evento está intrinsecamente ligado à conectividade. Segundo pesquisa da McKinsey & Company apenas 23% dos agricultores tem acesso à internet em toda a operação agrícola. O número cai para 13% em alguns segmentos, como o de algodão e o de grãos em algumas regiões. Isso deixa em evidência que a próxima década deverá ser marcada pela convergência do digital no setor agropecuário e o assunto precisa ser amplamente debatido a fim de propiciar assistência técnica ao grande e pequeno produtor, sem deslocamento, agilidade no tempo de resposta e a possibilidade de atender mais produtores com averiguação de imagens com eficiência e baixo custo, um ponto fundamental da importância da conectividade.
Na agricultura digital temos que olhar para a rápida transformação que a internet está promovendo no campo. Seja pelos avanços em conectividade, uso de ferramentas e tecnologia de aprendizagem virtual, blockchain, uso de robôs, drones, inteligência artificial, máquinas autônomas ou até mesmo o uso de sensores no auxilio da irrigação das lavouras.
É notório que a produtividade no campo pode aumentar consideravelmente com o uso de novas tecnologias e isso já se mostra em outros países. Já é possível o manuseio de tratores e outros maquinários ligados à internet, com GPS, e mecanismos para economia de combustível e manutenção mais eficaz que fazem toda a diferença na eficiência no campo. A internet também pode estimular a abertura e funcionamento de novas empresas, como startups do agro, e conectar pesquisadores e estudantes de agronomia, zootecnia veterinária com universidades no mundo para desenvolver novos projetos em assistência técnica e extensão rural.
Definitivamente, a conectividade no campo é a base para a transformação digital e prioridade para um novo paradigma da agricultura brasileira. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) atento às tendências e perspectivas de futuro para o agronegócio nacional, tem apontado para diretrizes de inovação claras e inequívocas para o setor, ancoradas em cinco pilares estratégicos: Sustentabilidade; Inovação Aberta; Bioeconomia; Foodtechs com Agregação de Valor e Agricultura Digital.
Como subsídios às suas formulações estratégicas no eixo agricultura digital, o MAPA apresentou o estudo “Cenários e Perspectivas da Conectividade para o Agro” onde mostra os cenários para a cobertura de internet 2G, 3G, 4G e 5G em um horizonte até o ano 2026, e junto a isso criou o programa Conectividade Rural, que visa justamente ampliar o acesso a internet aos produtores, pequenos, médios e grandes. Podemos comparar assim, que existirá um enorme esforço do ministério, onde a importância da expansão da conectividade no campo poderá ser comparada à universalização do acesso à energia elétrica, a qual atende a 99,8% da população brasileira.
Em um primeiro cenário seria aproveitada a capacidade de transmissão de 4.400 torres já existentes no Brasil. Isso permitiria ampliar a cobertura atual de 23% nas áreas rurais para 48% de iluminação de sinal no território agrícola nacional, proporcionando um aumento de 4,5% do Valor Bruto de Produção (VBP). Um segundo cenário compreende a instalação de 15.182 novas torres, que seriam suficientes para suprir uma cobertura final de 90% da demanda de conectividade no campo e traiam um acréscimo de 9,6% no VBP.
Além da conectividade, outras camadas e aplicações do digital serão a alavanca para o novo agro. Por isso promover ações em agricultura digital como ATER 5.0 levando conhecimento de assistência técnica e extensão rural aos produtores; desenvolver plataformas e programas de internet das coisas no campo; integração de bancos e plataformas de dados para prover painéis estratégicos; desenvolvimento de marketplaces digitais dentre outras aplicações são essenciais.
Estamos comprometidos com a tarefa de seguir transformando positivamente os sistemas agro-alimentares por meio das tecnologias na fronteira do conhecimento, principalmente da agricultura digital. O Brasil vem adotando estratégias ousadas de conectividade rural e esse é só o início de uma nova era e o Tocantins a exemplo do que fez com a AGROTINS (1ª Feira 100% digital do Brasil), pode e deve avançar como protagonista na conectividade rural.
CESAR HALUM
É secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e apresentador do programa Mundo Agro, no SBT Tocantins.