Em entrevista exclusiva ao CT, o já ex-presidente do Banco da Amazônia Marivaldo Gonçalves de Melo avaliou sua gestão à frente da instituição por mais dois anos e revelou ter entregado na segunda-feira, 2, sua carta de renúncia ao Ministério da Fazenda e ao Conselho de Administração do banco para entrar na política nas eleições deste ano pelo PSD. Ele será candidato a deputado federal no Acre, sua terra natal.
Melo, que foi superintendente do banco no Tocantins, lembrou que ter assumido o banco na crise econômica mais forte enfrentada pelo País. “Pegamos o banco em um momento muito difícil, em uma crise econômica muito forte, a maior na história do País. Desde o ano de 1903, quando o PIB começou a ser medido, nunca teve uma queda tão brusca. Foram mais de dez pontos em praticamente três anos. Isto afetou muito o resultado do banco, mas estamos fazendo uma gestão extremamente técnica, ou seja, o necessário para enfrentar a crise”, disse.
Segundo ele, no período de sua gestão foi feita uma restruturação na matriz. “Nós tínhamos 33 gerências executivas, diminuímos para 23. Acabamos as secretarias executivas. Ficamos apenas com uma. Em dois anos seguidos, conseguimos diminuir despesas administrativas em 1,8% nominalmente. O Basa foi o único banco público que conseguiu fazer essa gestão em despesa. Foi a forma para que pudéssemos nos adequar nesse momento de dificuldade na economia”, ressaltou.
Melo contou também que foi realizado um processo de centralização de crédito. “Por exemplo, um cliente situado lá no Bico, em Xambioá, entrava com um processo de crédito lá, vinha aqui para a superintendência por meio de malote e daqui seguia para Belém. Hoje esse mesmo cliente, entra digitalmente chega na central daqui ou em Belém, dependendo do valor. Isso proporciona um dinamismo muito grande. Com toda restruturação, nós conseguimos crescer em 25% na aplicação de 2016 para 2017 ”, contou.
Balanço
O presidente disse que o resultado estrutural do banco foi publicado semana passada na KPMG. “O balanço apontou que foi o melhor resultado estrutural que o banco teve nos últimos cinco anos. A KPMG, que é a nossa auditoria independente, só colocou uma leve ressalva em nosso balanço. O primeiro ano que ela analisou o nosso trabalho, ela sequer emitiu opinião, que é o pior para quem tem ações na bolsa como o banco tem. É o pior resultado do mundo”, revelou.
Plano de Cargos e Salários
Melo contou ainda que com a restruturação está sendo aprovado o novo Plano de Cargos e Salários dos funcionários. “Temos um plano desde 1994 e está totalmente defasado. Está bem encaminhado. Ontem [segunda-feira], eu estive no Ministério da Fazenda e fomos muito elogiados pela forma que o plano foi construído”, disse.
Tecnologia
O presidente enfatizou ainda que o banco investiu mais de R$ 200 milhões em tecnologia. “ Agora, o cliente do Basa tem acesso aos seus extratos de financiamento pelo aplicativo instalado no celular. Hoje nós temos também a análise sócio ambiental na Amazônia de forma digital, ou seja, o aplicativo informa ao produtor como está a situação ambiental da propriedade dele. Estamos caminhando a passos largos para modernizar o banco”, comemorou.
Ele afirmou que o açaí movimenta dois bilhões de dólares por ano na Amazônia. “Nós agregamos valores aos produtos da Amazônia. Temos que caminhar para isso. Aqui no Tocantins tinha uma polêmica que não podia plantar açaí porque não era da região, hoje nós temos uns três ou quatro plantios do produto que são um sucesso. A inclusão do pequeno produtor é fundamental para que possamos desenvolver a forma sustentável. Estamos trabalhando para sermos um banco diferente”, garantiu.
Estado em crescimento
Durante a entrevista, ele afirmou que o Tocantins foi o Estado que mais cresceu em 2017. “Apesar de todas as dificuldades que tem passado nos governos, ele tem se desenvolvido. Foi um dos estados que mais cresceu o PIB. A melhor superintendência do banco está no Tocantins. A iniciativa privada do Tocantins está de parabéns por todo esse movimento. E o banco tem atuado aqui na área de saúde, turismo, educação e comunicação. Fizemos agora vários financiamentos para empresas que passou do analógico para o digital. O banco tem atuado em todos os setores”, comentou.
Melo lembrou que o Banco da Amazônia aplicou R$ 800 milhões no Tocantins em 2017. “O Tocantins foi um dos estados que a aplicação não caiu. Tivemos uma queda em 2016, mas recuperamos em 2017. E para 2018 as perspectivas serão muito boas”, enfatizou.
Política
Ele comentou da sua desincompatibilização da unidade financeira para disputar as eleições de outubro pelo Acre, sua terra natal. “Eu entreguei ontem [segunda-feira] a minha carta de renúncia ao Ministério da Fazenda e ao conselho de administração do banco. Vou sair dia 6 [sexta-feira]. Eu gosto de política, da boa política. Eu vi que precisamos de pessoas no Congresso que possam entender um pouco de fundo constitucional e de desenvolvimento. Eu encontrei no Nordeste o deputado Júlio Cesar, que entende muito do assunto. Ele domina. Tudo que ele fala vira lei. Ele é um parlamentar admirável. Ele é focado na questão do empreendedorismo. Precisamos de pessoas para isso”, avaliou.
Melo afirmou que pode contribuir na política. “Eu acho que tenho muito a contribuir para a modernização do Estado. Não podemos ter mais um Estado ineficiente. Estamos no século 21. O Estado não pode mais viver no atraso. Não podemos ter parlamentares que vão para o Congresso apenas pensando na sua reeleição. Eles deixam de pensar no Estado. Precisamos ter mudança. Eu acredito muito nisso. Não podemos ter um parlamento onde as pessoas vão apenas para barganhar cargos, espaço, emendas, e esquecem que tem uma população que está precisando de saúde e educação. As pessoas focam muito no presidente e esquecem do parlamento que é extremamente decisivo para que as coisas aconteçam”, asseverou.
Para ele as empresas públicas têm que ser eficientes. “A revolução tecnológica está acontecendo no mundo em todos os setores. As empresas têm que se modernizar ou ficam para trás, não tem jeito. O setor bancário em 2030 vai ter 75% de ocupação pela inteligência artificial. A economia precisa se modernizar, crescer. Precisamos ser competitivos. O Estado precisa cumprir a sua função. Precisa ter mecanismo para que as empresas possam destravar. Tem muita coisa para discutir e isso me anima bastante. Não podemos mais ficar engessados em uma série de coisas”, finalizou.