O economista Roberto Campos Neto, indicado pelo governo para a presidência do Banco Central (BC), disse nesta terça-feira, 26, que, apesar de o mercado bancário brasileiro ser concentrado, existe competição. Segundo Campos Neto, no Brasil não há mais concentração bancária do que em outros países, como Alemanha e Inglaterra.
Campos Neto foi submetido nesta terça-feira a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Além dele, foram sabatinados Bruno Serra Fernandes e João Manoel Pinho de Mello, indicados para as diretorias de Política Monetária e de Organização do Sistema Financeiro do BC, respectivamente, e Flávia Martins Sant’Anna Perlingeiro, indicada para o cargo de diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
De acordo com Campos Neto, apesar de haver competição, o spread (diferença entre taxa de captação do dinheiro pelos bancos e a cobrada dos clientes) ainda não é adequado. Ele afirmou que cerca de 35% do spread devem-se à inadimplência, 25% ao custo financeiro, 25% aos impostos e 15% ao lucro.
Sobre a inadimplência, o economista disse que um dos problemas atuais é a falta informação às instituições financeiras para melhorar a avaliação do cliente ao conceder o crédito. Ele defendeu a aprovação do Cadastro Positivo, em tramitação no Congresso, como forma de disseminar informação.
Segundo Campos Neto, depois da operação de crédito contratada, há problema com a recuperação dos recursos não pagos por inadimplentes. Ele disse que, a cada R$ 1, os bancos recuperam R$ 0,13, em quatro anos, enquanto, em países emergentes, recuperam-se 60% do prejuízo em cerca de um ano e meio.
Campos Neto também defendeu reformas para reduzir a burocracia, o incentivo à inovação tecnológica, ampliar o acesso das empresas ao mercado de capitais e a atuação de cooperativas de crédito. Ele lembrou que existe também espaço para “remodelar mais” os depósitos compulsórios (recursos que os bancos são obrigados a depositar no BC), reduzidos recentemente pela instituição.
Mello, indicado para diretoria de Organização do Sistema Financeiro do BC, disse que se compromete a avançar na agenda de redução do spread bancário. “A primeira tentativa é sempre fomentando a concorrência. Se houver mais para a frente, com muita calma. Mais para a frente, com avaliação ponderada, consideram-se outros instrumentos que possam ser aplicados. Os níveis de algumas taxas de juros são muito incômodos, e temos que trabalhar para melhorá-los”, afirmou Mello.
Roberto Campos Neto defendeu a autonomia do Banco Central, que já existe em outros países. Segundo o economista, a autonomia é somente para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “O Brasil é uma jabuticaba nesse sentido. Temos um sistema de metas de inflação, mas não temos independência”, afirmou. Ele acrescentou que a aprovação da autonomia, em tramitação no Senado Federal, facilitaria a entrada do Brasil em organismos internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Após passar pela sabatina e aprovação na CAE, é preciso votação no plenário do Senado para que os indicados assumam o cargo. (Kelly Oliveira, da Agência Brasil)