O empresário Abílio Diniz, recentemente, disse a seguinte frase: “Paulo Guedes é liberal, mas em momentos de crise somos todos keynesianos”.
O liberalismo defende o livre mercado, o direito de propriedade privada, a liberdade da ação individual, a não intervenção demasiada do Estado sobre o mercado, a competitividade econômica e a geração de riqueza.
[bs-quote quote=”A pergunta que não quer calar: a iniciativa privada e o mercado resolveriam os problemas brasileiros, nesta época de pandemia do coronavírus? Lógico que não” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/TadeuZerbini180.jpg”][/bs-quote]
O keynesianismo se refere a teorias econômicas associadas ao trabalho do economista britânico John Maynard Keynes. Sua teoria foi importante durante e após a Segunda Guerra Mundial. Ele defendia a intervenção estatal para manter o bom funcionamento de uma economia. Se necessário, o Estado deveria se endividar para que essa intervenção ocorresse.
A dívida do Brasil é de aproximadamente R$ 4,3 trilhões. O nosso PIB, projetado para este ano segundo alguns bancos internacionais, será de (-) 4,5% podendo ter uma tendência de ser ainda pior. Temos 12,3 milhões de desempregados, 38 milhões de trabalhadores informais e mais de 30 milhões de aposentados e pensionistas. São 13,5 milhões de brasileiros na extrema pobreza e outros muitos milhões na pobreza. 35 milhões não tem acesso à agua tratada. Metade da população não tem esgoto tratado e nossos sistemas de saúde, educação e segurança são precários. Este cenário demonstra bem o que é o Brasil e sempre repito estes dados para reflexões.
A pergunta que não quer calar: a iniciativa privada e o mercado resolveriam os problemas brasileiros, nesta época de pandemia do coronavírus?
Lógico que não. O mercado está preocupado é com seus lucros e nesta pandemia espera que os governos aportem os recursos financeiros necessários para que os prejuízos possam ser minimizados. Dólar à quase R$ 6, bolsa de valores em queda e o preço das empresas despencando, demonstram que o mercado está desesperado e que sem ações do governo podem fechar suas portas, causando mais desemprego e queda na arrecadação de impostos.
Vocês já tinham ouvido dizer que uma empresa de petróleo estaria pagando para que o petróleo fosse retirado de seus estoques. Pois é, o mundo não é e nunca mais será o mesmo. O preço do petróleo continua a cair no mundo e o preço da gasolina no Brasil não diminui e se diminuir vai afetar diretamente os caixas da União, Estados e Municípios.
Hotéis, empresas de aviação, empresas petrolíferas, aeroportos, pedágios rodoviários, cidades turísticas, indústria automobilística, empresas de transporte público, escolas e universidades particulares, micro e pequenas empresas, empreendedores individuais e tantos outros segmentos da economia esperam que os governos, neste momento, ajam de acordo com as teorias keynesianas e não com as teorias liberais.
E o governo brasileiro está agindo para amenizar os impactos causados pela queda do consumo. Está injetando recursos na economia por meio de benefícios diretos aos mais necessitados, socorrendo Estados e Municípios, financiando as empresas para não demitirem funcionários, oferecendo novos empréstimos para micro e pequenas empresas, ou seja, está fazendo a parte dele. Mas será que está sendo suficiente? Só o futuro vai confirmar.
O Plano Socioeconômico que está em gestação pelo Governo Federal, como se fosse o plano Marshall implantado pelos Estados Unidos após a II Guerra Mundial para socorrer os países aliados poderá gerar milhões de empregos. O que é interessante é que o plano não tem a participação do Ministro da Economia, os militares é que o estão planejando.
Os governos liberais não são a favor de empresas estatais, mas não seria o momento de se constituir uma empresa estatal com a finalidade de produzir equipamentos hospitalares para atender o mercado interno e para futuras exportações? Prevenir é melhor que remediar e muito mais barato.
Outra pergunta que não quer calar: qual será o legado dessa pandemia para o Brasil? Só mortes?
Acredito que o novo cenário socioeconômico mundial pós pandemia vai permitir que o Brasil ocupe lugar de destaque, uma vez que o agronegócio brasileiro continua pujante e pode vir a ser o fundamental para o mundo.
Neste momento dependemos muito das decisões do governo federal e esperamos que as questões políticas não se sobreponham aos interesses e demandas dos mais necessitados.
Não podemos permitir que os “caminhões cata-véios” passem a ser chamados de “caminhões frigoríficos cata-véios”.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br