Estimados leitores e leitoras! Como vocês estão? Devem estar felizes depois das festas juninas e das apresentações das “quadrilhas”. Lógico que falo das quadrilhas de São João. Daqui a alguns dias começa a temporada de praias pelo nosso Tocantins. Nosso verão é fantástico, não é mesmo? Muito sol, cerveja, churrasco e água abundante para todos os gostos. Aproveitem.
Voltaire Schilling, professor e historiador brasileiro, fez um excelente resumo sobre alguns políticos que eram amados em seus países, mas que foram responsáveis por milhões de mortes pelo mundo afora. Segundo ele, nos anos vinte do século passado, invariavelmente pela manhã, saía a trote em seu belo cavalo branco em direção à Vila Borghese, o grande parque de Roma, no caminho jovens e belas mulheres dirigiam a ele graciosos olhares e as crianças, espontaneamente, enfileiravam-se nas calçadas saudando-o com o cumprimento fascista. Era o passeio de Benito Mussolini, que acontecia cercado de satisfação geral. Uns tempos depois, na Alemanha nazista, o führer Adolf Hitler, quase era engolfado por multidões histéricas que freneticamente estendiam suas mãos para tocar naquele Deus vivo, marchando como carneiros obedientes para a mais das terríveis tosquias do século passado.
[bs-quote quote=”Por mais que a civilização avance, a paixão humana por um líder com discurso endeusado, que sempre promete um futuro melhor, acaba por levar milhões de pessoas à morte, à pobreza e à miséria” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/TadeuZerbini60.jpg”][/bs-quote]
Segundo Schilling, em dezembro de 1949, as estações de Moscou entupiram-se com intermináveis filas de vagões carregados de presentes vindos de todos os cantos do império soviético, para agradecer Stalin que estava celebrando o seu 70º aniversário. Não houve cidade, vilarejo, fábrica, ou escola, que não lhe enviasse algum tipo de presente. Suas raras aparições, no alto do palanque oficial, instalado no Kremlin da Praça Vermelha, provocavam violentas emoções na multidão que estremecia ao ver a figura do “Pai dos Povos”.
Na China, Mao Tse-tung, tal um mandarim lascivo, recebia em seus aposentos um infindável séquito de jovens mulheres que consideravam-se honradas em prestar favores sexuais a quem atribuíam dons divinos. Enquanto isto, lá fora, na Praça da Paz Celestial, seu nome escoava entre milhares de vozes que para lá afluíam como um mar humano, gritando slogans em seu favor.
Também foram milhares os que, em 1952, acompanharam chorosos o féretro da precocemente falecida mulher do ditador argentino Juan D. Perón, Eva Perón que, depois disto, tornou-se uma espécie de santa do justicialismo. Na ilha de Cuba, o líder revolucionário Fidel Castro, que mantinha grande parte da população eletrizada com seus discursos antiamericano, que se prolongavam por horas a fio, era o homem mais popular da história do país.
No Rio de Janeiro, no Maracanã, no princípio dos anos 70 anunciou-se pelos alto-falantes que o general Emílio Médici encontrava-se presente para ver o jogo. Espontaneamente, uma estrondosa salva de palmas de mais de cem mil mãos ecoou pelo estádio aclamando o general: era o “Presidente, amigo da gente!” Nada diferente do que ocorria no Chile naquela mesma época. Bastava o carro presidencial surgir numa das avenidas de Santiago para que os populares apinhados nas calçadas gritassem por Pinochet!”
Em Uganda, na África, o ditador Idi Amin deliciava seu povo fazendo com que os poucos brancos e alguns estrangeiros comessem o pão que o diabo amassou, submetendo-os à implacáveis humilhações públicas.
Estes exemplos extraídos de momentos diversos da história nos obrigam a constatar que bem ao contrário das esperanças dos humanistas e dos progressistas, as massas, independentemente da localização geográfica em que se encontram, da ideológica que seguem ou do estágio cultural que alcançaram, adoraram seus ditadores de direita ou esquerda, os tiranos que as governaram e que as levaram para o abismo da guerra. A liberdade e a fraternidade, na verdade, são breves suspiros no tempo, pausas curtas na História, durando apenas o suficiente para que os povos aguardem em silenciosa veneração a chegada salvadora do “grande homem”, de preferência chegando montado no cavalo branco.
A história não mente. Por mais que a civilização avance, a paixão humana por um líder com discurso endeusado, que sempre promete um futuro melhor, acaba por levar milhões de pessoas à morte, à pobreza e à miséria. É interessante como pessoas preparadas, inteligentes e empreendedoras acabam por ficar presas em “currais emocionais” sem perceberem que foram aprisionadas por discursos vazios e inconsequentes. O ser humano precisa evoluir mais.
No Brasil, as pessoas ficam defendendo governos de direita e de esquerda e se esquecem que o mais importante é qualidade de vida do povo. Acontece, que o egoísmo humano interfere diretamente na vida dos mais pobres e miseráveis. São milhões de brasileiros desempregados, principalmente os mais jovens, milhões de pobres e miseráveis e milhões de doentes sem atendimento adequado. Por outro lado, a elite brasileira desfruta de salários e aposentadorias de fazerem inveja aos marajás e que são pagos pelos brasileiros da classe média, pelos pobres e pelos miseráveis. Os bancos continuam a ter lucros jamais vistos em outros países e a maior parte desses lucros é proveniente da dívida pública brasileira. O Brasil não é um país sério.
Na economia, o crescimento do país é pífio, a concentração de renda é altíssima, a velocidade de mudanças é comparada à de um carro de bois. O Brasil é um país periférico que a cada dia é visto como uma aberração mundial, incapaz de resolver seus problemas internos, mesmo com toda sua potencialidade econômica. Por que não muda?
O discurso da necessidade de se fazer reformas não basta. Daqui a pouco teremos brasileiros morrendo por inanição. As grandes empresas brasileiras foram nocauteadas e talvez nunca mais se recuperem. Quais as novas grandes empresas que continuarão a construir e desenvolver nosso país? O colapso econômico e social não será resolvido enquanto os mais ricos ficam mais ricos e os mais pobres se tornam miseráveis. O povo ainda está em campanha eleitoral e, sem perceber, está promovendo um verdadeiro suicídio social.
Cuidado com os discursos endeusados de esquerda ou direita. Abram a capa do olho. Extremos sempre geraram dor e desespero. Pensem em seus familiares.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br