O termo “Síndrome de Estocolmo” foi cunhado pelo psiquiatra e criminologista Nils Bejerot e foi usada na mídia pela primeira vez em 1973 após um roubo a banco em Estocolmo, na Suécia. Os assaltantes fizeram reféns durante o roubo e após a soltura deles, realizada depois de seis dias, os reféns passaram a defender seus sequestradores e se recusaram a testemunhar contra eles. Segundo os reféns, eles haviam sido bem tratados, mesmo com as ameaças e atos de violência sofridos.
De acordo com Vanusa Vaz, psiquiatra da Clínica Holiste (BA), em entrevista ao Site UOL, a síndrome é caracterizada por um estado psicológico singular, em que uma pessoa que fora vítima de alguma situação crítica e perigosa estabelece uma relação de afeto com o agressor/criminoso. “A vítima estabelece uma relação psicológica dependente”, disse a especialista, além de ressaltar que isso acontece de maneira inconsciente, como uma forma de defesa.
Será que grande parte da população brasileira está apresentando sintomas que caracterizam a Síndrome de Estocolmo?
Será que essa parte da população sofreu sequestro psicológico?
Acho que sim.
Vamos ver.
Mais de 70% das famílias brasileiras estão endividadas e não demonstram insatisfação com a política econômica do país, parecem cordeiros sendo levados aos abatedouros.
Os preços dos alimentos dispararam e me parece que a população acha que está tudo dentro da normalidade, não existe reação.
Combustível, gás de cozinha e carne aumentaram mais de 35% e tudo parece razoável para parte da população.
Mais de 600.000 brasileiros morreram em razão da Covid-19, muitos por causa do negativismo e muitos outros por causa de políticas públicas de saúde ineficientes e ninguém é responsabilizado.
No Congresso Nacional, os votos dos políticos são comprados por meio de emendas secretas do relator do orçamento que somam bilhões de reais e ninguém está preocupado.
A miséria, a pobreza e o desemprego continuam a aumentar e nada é feito para resolver a situação. A solução encontrada foi criar o auxílio brasil, mais uma política de governo e não de Estado que ameniza a situação, mas não resolve o problema. Estado discutindo o valor do auxílio e não a solução para a fome. A população atingida continua em silêncio, concordando e até achando boas as decisões que estão sendo tomadas.
A situação político-econômico-social-ambiental em que se encontra o Brasil somente pode ser explicada pela Síndrome de Estocolmo. Não é possível uma nação apresentar tamanhos problemas e a maioria de seu povo aceitar passivamente que os poderes constituídos não encontrem uma solução definitiva.
Essa síndrome não é uma doença e nem um distúrbio, pois não se encontra na CID-10, que é a Classificação Internacional de Doenças, nem no DSM-5, que é o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. “Mas com o aumento da divulgação de casos de violência doméstica, psicológica e até de relacionamento abusivo, tem se amplificado esse tema, gerando mais estudos sobre o assunto”, diz Vanusa Vaz.
É muito triste ver um país caminhando para o abismo. De que adianta PIB positivo, Bolsa de Valores crescendo e o dólar nas alturas, se nossos irmãos estão passando fome, desempregados e na miséria.
De que adianta teto de gastos se o povo está sofrendo.
Os mais ricos continuam mais ricos e são esses mais ricos que definem o futuro dos miseráveis. E os miseráveis continuam a escolher os mais ricos no processo que se diz democrático.
O brasileiro deve ser estudado com mais profundidade porque muitos ainda acreditam em mula sem cabeça, saci-pererê e papai noel.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br