Em 1941, o escritor austríaco Stefan Zweig publicou o livro “BRASIL, um país do futuro” que logo tornou-se um clássico. O livro traz um retrato do país sob a ótica de um estrangeiro que passou seus últimos anos de vida no Rio de Janeiro, após se refugiar das atrocidades cometidas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. A Legião Urbana consagrou nos anos 1980 a frase em uma canção intitulada “o Brasil é o país do futuro”. Depois disso, nas escolas, universidades e discursos políticos sempre o Brasil foi tratado como o país do futuro. Que futuro é este que nunca chega?
O famoso economista Luiz Carlos Bresser Pereira nos ensinou que uma sociedade que não possui a ideia de nação dificilmente experimentará um desenvolvimento sustentável. Os países que realizaram sua revolução capitalista originalmente e hoje são ricos desenvolveram-se sempre com base em um projeto nacional. A mesma experiência tiveram, no século XX, os países retardatários, mas essa experiência foi ainda mais marcante porque tiveram que enfrentar um obstáculo do qual foram poupados os primeiros: o imperialismo moderno, industrial, dos países que se industrializaram nos dois séculos anteriores. Ou o país retardatário logra se afirmar como nação, constrói seu Estado, e define uma estratégia nacional de desenvolvimento, ou crescerá lentamente e não alcançará os padrões de vida dos países ricos.
O Brasil é um país com dimensões continentais com desigualdades enormes e de difícil solução. Milhões de pobres e miseráveis foram esquecidos pela sociedade e pelos governantes. As demandas sociais por saúde, educação e segurança parece que nunca serão atendidas. O país que quer dar tudo de graça não se preocupa com a qualidade de seus serviços e nem tem recursos suficientes para isto.
As reformas necessárias passam de gaveta em gaveta no Congresso Nacional e quando aprovam alguma coisa é por interesse de terceiros. O Brasil não funciona como uma república, mas como regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas e a cada ano as diferenças vão aumentando. Não vemos mais os governadores defenderem o país, mas somente seus Estados e assim também o é com os municípios, não pensam no Estado como um todo, somente em seus territórios e cada um querendo mais do que os outros.
Não existe um projeto para o país, os Estados e Municípios são atendidos por emendas parlamentares em um regime de trocas de interesses. Vejam o caso do censo do IBG, ferramenta fundamental para o desenvolvimento do Brasil, que foi trocado por meia dúzia de emendas políticas. É uma vergonha mundial. O mundo inteiro está acompanhando as políticas públicas destinadas ao meio ambiente, ás relações diplomáticas e à pandemia que estão deixando o Brasil na periferia do mundo.
Mas temos uma janela para o futuro.
O Brasil é excelente no agronegócio e é conhecido no mundo por isto e desde sempre sua atividade principal foi no campo. Se o país é tão eficiente nessa área por que diversificar tanto os investimentos em diversas frentes por meio de subsídios e facilidades políticas? Quais são as indústrias importantes para o Brasil? Deve-se focar naquelas que trazem benefícios para o povo e para o pais e não para empresas transnacionais que pouco se importam com a situação do nosso povo.
O futuro do Brasil é o agronegócio e nesta área ele é bastante competitivo. Acontece que para produzir precisa importar muitos insumos que são caríssimos. Por que não produzir os insumos em nosso território? Quais as tecnologias que ainda não dispomos? Se somos o celeiro do mundo, por que não investir mais em ampliar os negócios?
As áreas de produção agropecuária precisam ser delimitadas, a produtividade deve ser melhorada e o mais importante, deve-se agregar valor aos nossos produtos por meio da tecnologia e de processos industriais. Vendemos produtos primários à séculos que acabam por centralizar a riqueza com a utilização das terras brasileiras.
Os investimentos em ferrovias, hidrovias e energias renováveis, agregadas ao reflorestamento permanente de áreas degradadas são fundamentais para tornar o Brasil o grande celeiro do mundo, não podendo esquecer os governantes, que não se deve fazer exportação de alimentos penalizando a população brasileira com aumento de preços de produtos básicos.
Temos que abrir uma janela para o futuro, como uma república e como um país unido. Nunca alcançaremos o desenvolvimento sustentável se continuarmos a gastar o dinheiro de tributos arrecadados do povo em mordomias, favores e programas que atendem somente aos mais ricos. Chega. Vamos abrir ao menos uma janela de esperança.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br