Existe um problema sério no Estado do Tocantins.
Segundo o IBGE, temos 486 mil pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza e 102 mil pessoas vivendo na pobreza “extrema”. É um cenário assustador para o futuro do nosso Estado. Estamos falando de seres humanos que não tem suas necessidades básicas atendidas. Considerando que nossa população projetada é da ordem de 1.555.229, podemos afirmar que 31% da população passa por grandes dificuldades.
A taxa de desemprego no Tocantins gira em torno de 12%, ligeiramente abaixo da média nacional, o que é muito para um Estado novo como o nosso. A maioria das pessoas procurando emprego no nosso estado tem entre 25 e 39 anos e representam 35,1% do total. A segunda colocação ficou com candidatos entre 18 e 24 anos, que são 32% do total. Somando estas duas faixas de idade, pode-se afirmar que os jovens tocantinenses representam 67,1% dos desempregados. Para eles, o futuro é sombrio e para o Estado, um problema estratégico.
[bs-quote quote=”O Estado do Tocantins precisa resgatar grande parte da população excluída da sua economia. Não é uma tarefa fácil e nem imediata, mas precisa iniciar” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/TadeuZerbini180.jpg”][/bs-quote]
Como manter o sistema de saúde, de educação e de segurança com esses indicadores? Nem com mágica é possível.
De que adiantam bilhões de reais consignados no orçamento estadual se as políticas públicas não estão chegando aos mais necessitados. Bilhões são gastos anualmente para atender o pagamento de pessoal e a manutenção da máquina pública dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Alguma coisa precisa mudar e com urgência. O futuro do Estado está em jogo, mesmo porque o Estado do Tocantins foi criado para melhorar a qualidade de vida da população e não para atender uma pequena parcela privilegiada. Precisa distribuir renda e de forma rápida. Ficar esperando que grandes indústrias se instalem no Estado, que é um discurso arcaico em um mundo altamente tecnológico, não resolverá o problema, mesmo porque um parque industrial precisa ser competitivo e dispor de matéria prima e mercados apropriados.
Por isto o Tocantins é um Estado de monoculturas, tendo como carro chefe a soja, seguida da carne bovina e do milho. A monocultura tem impactos negativos na natureza que, a longo prazo, trará problemas com o uso excessivo do agrotóxico que irá contaminar os lençóis freáticos e as bacias hidrográficas onde as monoculturas estiverem inseridas.
Um estudo do DEPEC – Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco sobre o Estado do Tocantins, divulgado no mês de julho deste ano, apresentou alguns dados interessantes. Segundo o Bradesco, a população do Estado apresenta as seguintes classificações: classe A, 4%, classe B, 3%, classe C, 43%, Classe D, 23% e classe E, 27%.
Por outro lado, o estudo afirma que 41,6% da população tem o fundamental incompleto ou não tem instrução nenhuma. É um absurdo.
78,4% da nossa população reside nas cidades o que demanda mais serviços públicos de saúde, educação e segurança. Se o projeto do governo federal que trata da extinção de municípios for aprovado pelo Congresso Nacional a situação ficará ainda mais desoladora.
Ainda, segundo o estudo, a composição setorial do nosso PIB tem a participação da indústria da transformação com 4%, a construção civil com 6%, a agropecuária com 14%, o comércio com 18%, os serviços com 26% e a administração pública com 32%. Quando grandes empresas tomam conhecimento deste cenário, se não houver uma excelente contrapartida por parte do Estado, elas não se estabelecem aqui.
O Estado do Tocantins precisa resgatar grande parte da população excluída da sua economia. Não é uma tarefa fácil e nem imediata, mas precisa iniciar. A implementação de grandes projetos sociais aliados às possibilidades apresentadas pelas diversas cadeias produtivas, já muito bem definidas pela FIETO, podem transformar o Estado.
As centenas de assentamentos rurais implantados no Tocantins, transferiram as demandas sociais para os pequenos municípios ao mesmo tempo que esses municípios não recebem o apoio necessário para fazer frente às demandas. Deveriam receber recursos específicos para essas comunidades que acabam por serem isoladas do mundo do trabalho, da tecnologia e da transformação.
Não é só o emprego que transforma a vida das pessoas. A geração de oportunidades de novos negócios e afazeres que venham a gerar renda são tão ou mais importantes que um emprego formal.
O avanço tecnológico vai impactar ainda mais os tocantinenses que estão abaixo da linha da pobreza. Soluções devem ser buscadas imediatamente para que o Estado do Tocantins alcance uma qualidade de vida ao menos razoável para a maioria da sua população.
Tem que se buscar um pacto institucional para reverter o cenário que hora se apresenta. Cabe um papel fundamental à Assembleia Legislativa e às Câmaras Municipais para que tenham mais atenção quando das discussões dos orçamentos públicos. São os representantes do povo, ou não?
Seria muito interessante se buscar ajuda junto às Organizações Não Governamentais Internacionais que já tem experiências exitosas pelo mundo afora na solução de problemas como estes do Tocantins.
As pontes e estradas que devem ser construídas no Estado não precisam ser necessariamente de concreto e asfalto, mas sim de amor, esperança, oportunidades e renda.
Pensar grande é pensar no bem estar geral e não em reconhecimento dos pares nas tomadas de decisões que privilegiam uma parcela de seres humanos mais abastados.
O Tocantins é para todos.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br