Dizia minha querida e inesquecível mãe que determinados acontecimentos em nossa vida, os quais denominamos de coincidência, na verdade são arranjos da Divina Providência para que ocorram desta ou daquela forma.
Narrado o fato seguinte, tirem suas conclusões: Residindo em Goiânia, capital do Estado de Goiás, sempre nos finais de semana me deslocava até Brasília, onde na década de 80, através de familiares da minha esposa, conheci o Coronel Danton, Presidente da Telebrasília, empresa de telecomunicações do Distrito Federal, que abrangia todo antigo nordeste de Goiás.
Sabendo que sou originário de Dianópolis, situada numa região tão abandonada do então Estado de Goiás, hoje o progressista Sudeste do Estado do Tocantins (à época denominado por muitos como o corredor da miséria, por se tratar de uma região, análoga a um corredor, pois pouquíssimos homens públicos levavam muito à sério aquele pedaço de Brasil), convidou-me para participar da inauguração do sistema de retransmissão de sinal de tv na minha cidade natal. Um fato inusitado por ser a primeira daquele sistema de comunicação em nossa cidade.
Dia combinado. Num final de semana desloquei-me de Goiânia para Brasília, onde minha família permaneceu. A comitiva composta pelo Cel. Danton, Dr. João Rodrigues Leal, outras pessoas que não me lembro bem e eu, fazíamos completa a lotação do avião bimotor que nos levaria ao nosso destino.
Recepção e festa como merecia o acontecimento. A cidade se rendeu à bondade daquele homem a quem devemos, também, a implantação do sistema telefônico. Ele se tornara, por afinidade e bondade, filho da nossa terra.
À noite, solenidade em praça pública. Acertado o retorno para o dia seguinte após o opíparo churrasco servido no clube do Banco da Amazônia.
Como um dos meus irmãos residia exatamente na saída para o aeroporto, resolvi por lá ficar à espera dos demais companheiros, quando percebo o roncar dos motores de um avião sobrevoando a cidade e tomando o rumo do Sul. Exatamente no momento que minha esposa ao telefone perguntava que hora eu chegaria em Brasília. Imediatamente solicitei meu cunhado e amigo Dr. Wilson Póvoa que me levasse ao aeroporto. De longe já percebi que não havia ali nenhuma aeronave. Realmente eu havia ficado para trás. O motivo? Não sabia. Vinha em minha mente apenas a perspectiva e expectativa de enfrentar dois dias de poeira no ônibus para Brasília, quando percebo um pequeno monomotor ali aterrissando. Solicitei ao piloto que chamasse pelo rádio um avião que acabara de decolar daquele local. Prontamente atendido, recebemos a resposta do Cel. Danton, que estava retornando para buscar-me, embora já com doze minutos de voo e quase fugindo à frequência do rádio, pois mais alguns segundos e essa comunicação seria impossível.
Nesse ínterim, questionado, informou-nos o piloto do pequeno avião, que seu destino seria o Pará, mas devido ao pouco combustível que restava, resolvera descer ali para tentar um reabastecimento.
Sem entender muito bem o ocorrido, o Cel. Danton, ao retornar foi explicando que o prefeito da cidade houvera informado que eu preferira ficar para retornar de ônibus no dia seguinte. Sabendo o Prefeito que a lotação do avião estava completa e tentando angariar dividendos com um determinado deputado federal, seu correligionário, inventou a história para ocupar a minha vaga no avião.
O constrangimento foi maior diante da afirmação do Cel. de que se tratando de seu convidado, com ele vindo, com ele retornaria e que amigo dele não ficava na chapada ou, literalmente, no cerrado, e se o referido deputado quisesse acomodar-se sentado no piso do pequeno corredor do avião, tudo bem. O que foi feito. E voamos uma hora e cinquenta minutos nessas condições.
Concluo que a esperteza do Prefeito não conhecia as surpresas que nos reserva a Divina Providência.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com