O episódio recente envolvendo a influenciadora Virgínia Fonseca e a promoção de apostas online acendeu um debate importante sobre os limites da influência digital. É natural, e até saudável, que a sociedade questione o papel de quem fala para milhões e usa esse alcance para promover promessas de enriquecimento fácil, ainda que potencialmente destrutivas para famílias inteiras.
Mas é preciso ir além da superfície. O caso da Virgínia não é a origem do problema. É apenas um de seus sintomas. Há décadas, políticos, religiosos e meios de comunicação utilizam o carisma e o poder de persuasão para explorar sentimentos como medo, a fé, o desejo de vencer. A diferença é que, agora, tudo isso acontece em tempo real. Em um mundo conectado, a influência se tornou mais rápida, mais visível e infinitamente mais lucrativa.
Tenho me dedicado intensamente à missão de comunicar o agronegócio com responsabilidade e profundidade tanto nas redes sociais quanto em meu programa de televisão no Canal Rural e no Canal do Criador. Faço isso porque acredito que quem gera valor real para o país, quem alimenta, sustenta economias, impulsiona territórios precisa ocupar o protagonismo. E mais: precisa ser compreendido.
Durante muito tempo, muitos setores do próprio agro acreditaram que “o resultado fala por si”. Mas não fala mais. Porque, na era da hiperexposição, quem não comunica, silencia. E palco vazio vira vitrine para qualquer um.
Não se trata de transformar o agronegócio em entretenimento raso. Mas de disputar atenção com inteligência, estratégia e propósito. De mostrar que é possível influenciar com responsabilidade. De inspirar, em vez de apenas impactar.
O debate não é sobre julgar ou absolver Virgínia. Nem sobre condenar quem erra. No fim das contas, a influência mais poderosa não é a que provoca um clique impulsivo. É aquela que dita comportamento, estabelece tendências e molda decisões de longo prazo e nesse quesito, Virgínia foi bem-sucedida: construiu um império porque sabe para onde o olhar das pessoas se volta.
O agro, assim como tantos outros setores essenciais para o país, também precisa ditar tendência. Precisa se tornar influente, visível, compreendido e isso só acontece quando nos comunicamos de forma ativa, clara, honesta e estratégica.
No fim, não estamos falando apenas de apostas ou lavouras e rebanho, estamos falando de escolhas. De quem escolhemos admirar. E do que decidimos valorizar como sociedade.
JÚLIO PRADO
É jornalista e apresentador da Expedição Rural.