Nos últimos anos, o Tocantins viu nascer uma quantidade incomum de sites de notícias. Um levantamento recente aponta que já são mais de 500 veículos ativos no estado. À primeira vista, esse crescimento poderia sugerir o fortalecimento da imprensa regional. Mas a realidade é diferente: boa parte desses sites foi criada sem redação, sem jornalista responsável e sem rotina mínima de apuração.
A criação de sites de notícias passou a funcionar, muitas vezes, como uma renda extra ou, simplesmente, como a lógica do “se nada der certo, vou abrir um site de notícias”. Muitos surgiram apenas para disputar verbas públicas de campanhas institucionais, sem compromisso editorial ou preocupação em informar a sociedade.
Enquanto isso, gestores de comunicação em diferentes administrações convivem com pressões externas. A cada nova campanha, surgem indicações para incluir sites recém-criados, sem histórico ou credibilidade. Sem regras claras, o gestor fica exposto: se cede, compromete a eficiência do gasto; se resiste, sofre assédio político.
Por que isso importa
Campanhas públicas tratam de temas essenciais como vacinação, matrículas escolares, queimadas e serviços básicos. Quando a verba migra para canais sem alcance real ou sem responsabilidade editorial, a mensagem não chega a quem precisa. E a conta é paga pelo contribuinte. Órgãos de controle já vêm apontando falhas recorrentes: falta de planejamento, ausência de indicadores e superficialidade na análise de planos de mídia.
O que diferencia site jornalístico de fachada
Existem sinais objetivos que permitem separar veículos que cumprem função jornalística daqueles criados apenas para captar recursos. Entre eles estão:
CNAE compatível com atividade jornalística;
Tempo mínimo de constituição do veículo;
Jornalista responsável com formação ou registro profissional;
Produção de conteúdo próprio e original, com atualização regular;
Política editorial e canal de contato públicos;
Conformidade técnica: domínio seguro, política de privacidade e rotulagem clara de conteúdos patrocinados;
Ferramenta de medição ativa para auditoria de tráfego, usada como rastro de verificação, não como barreira de entrada;
Compromisso antifraude de audiência — sem compra de tráfego, bots ou artifícios para inflar estatísticas.
Esses requisitos não são burocracia: são garantias mínimas de seriedade editorial e responsabilidade no uso do dinheiro público.
A experiência de Alagoas
Recentemente, analisei a iniciativa do governo de Alagoas, que criou um cadastro público para sites digitais interessados em publicidade oficial. O processo é online, transparente e baseado em critérios claros. No mês passado, já havia 114 sites homologados como aptos às novas regras.
Esse modelo oferece previsibilidade e reduz o espaço para indicações políticas ou improvisos. A lógica é simples: se existe um cadastro público, todos sabem as regras para participar e o gestor fica protegido. Se não está no cadastro, não entra.
Oportunidade de valorizar quem faz jornalismo de verdade
Os órgãos do Tocantins responsáveis por direcionar mídia precisam adotar critérios semelhantes: cadastro público de sites de notícias, regras técnicas de habilitação, planejamento de mídia e mecanismos antifraude.
Não se trata de fechar portas, mas de abrir a porta certa, do jeito certo. Com transparência e critérios claros, a verba da publicidade institucional cumpre sua função: levar informação de interesse coletivo à sociedade, valorizar quem faz jornalismo de verdade e proteger o dinheiro do contribuinte.
RAMON FLAUBERT MACEDO
Jornalista, professor e fundador do Jornal Sou de Palmas.