Dois especialistas em pesquisas que ouvi num programa de rádio de São Paulo na manhã desta segunda-feira, 19, avaliaram que a influência de figuras nacionais nos debates eleitorais de 2024 será mínima. Isso porque, ressaltaram, o que vai prevalecer são as discussões locais, as demandas das cidades. É o que tenho defendido há anos: numa eleição municipal, o que está à mesa é a situação do município, o perfil dos candidatos e suas propostas. Quem aposta na polarização rasa do Brasil entre esquerda e direita para ganhar voto para prefeito falará a um circulo minúsculo de fanáticos, e que quem quer ser competitivo, com chances reais de vitória, precisa ir muito além dessa bolha de lunáticos.
Na média geral, o eleitor sabe muito bem diferenciar as eleições colocadas à sua frente: a de governador e presidente e a de prefeito. Em 2020, quando essa disputa medíocre já estava colocada, vimos isso ocorrer. Em Palmas, aqueles que se colocaram como candidato de Bolsonaro e Lula fracassaram de forma retumbante porque seus discursos fora de nexo e de contexto foram ignorados pelo eleitor. E isso se repetiu em muitas cidades Tocantins e Brasil afora.
No Estado, inclusive, algumas localidades terão que escolher novos gestores em meio a um ciclo virtuoso de gestões, sobretudo Palmas, Araguaína, Gurupi e Paraíso, onde nas eleições de 2012 havia severas críticas dos munícipes aos administradores, e essa insatisfação generalizada elegeu Carlos Amastha (2013-2018), Ronaldo Dimas (2013-2020), Laurez Moreira (2013-2020) e Moisés Avelino (2013-2020). A mudança de ares, extremamente positiva, elevou o nível de gestão dessas prefeituras e promoveu o desenvolvimento que assistimos nos anos seguintes.
Todas elas se tornaram cidades melhores. Dimas e Avelino fizeram os sucessores com facilidade. Amastha não teve o privilégio por ter renunciado em 2018 por uma aventura eleitoral cujo fracasso já era previsível, a disputa pelo governo do Estado. E Laurez viu seu candidato, Gutierres Torquato, perder por diferença mínima numa eleição estadualizada, com a entrada de cabeça do então governador Mauro Carlesse em favor da atual prefeita Josi Nunes.
Assim, em 2024 pode-se dizer que o que está sendo “julgado” pelo eleitorado é se os sucessores desses importantes líderes conseguiram dar continuidade ao ciclo iniciado em 2013. Dessas cidades, a única onde a reeleição não estará em disputa é Palmas, uma vez que a prefeita Cinthia Ribeiro conquistou o segundo mandato em 2020. Contudo, o ciclo dela estará no “tribunal” do cidadão através do candidato que escolher apoiar. Amastha, que iniciou esse período virtuoso na Capital, se realmente concorrer, também se sentará no banco para ouvir a “sentença” do eleitor.
Em Araguaína, os cidadãos estarão de volta à mesma bifurcação em que estiveram em 2008, quando preteriram Dimas e colocaram Valuar Barros na prefeitura. Com a gestão desastrosa do ex-depuado estadual, a população corrigiu o rumo em 2012 e a história todos assistimos: o governo Dimas promoveu a maior transformação de todas as cidades tocantinenses. Araguaína era uma antes e se tornou outra depois.
Paraíso não foi diferente. Após uma série de gestões caóticas, Avelino colocou a casa em ordem, o que lhe garantiu uma fácil reeleição em 2016, com quase 50% dos votos, e a vitória ainda mais tranquila de seu sucessor, Celso Morais, que obteve incríveis 72,06% dos votos. Criatura e criador romperam, caminham agora para palanques opostos e caberá ao eleitor decidir se, mesmo assim, Morais deu conta do recado ou se será melhor tentar uma novidade. É a bifurcação.
Em Gurupi, a adversária de Laurez de 2020 está no comando. O ex-prefeito e atual vice-governador deixou a prefeitura com mais de 80% de aprovação. Ou seja, ainda mais por se oporem, é inevitável que a comparação dos governos Josi e Laurez seja o prato principal do debate eleitoral de 2024.
O que se espera, para quem torce, antes de tudo, pelo Tocantins, é que o eleitorado seja um bom “juiz”, tome a decisão certa e que nossas cidades não retrocedam ao período de deserto administrativo, mas que continuem no trilho do desenvolvimento, gerando mais e mais qualidade de vida a seus moradores.
CT, Palmas, 19 de fevereiro de 2024.