Novo líder da bancada evangélica no Congresso Nacional, o deputado federal Eli Borges (PL) foi o personagem de uma entrevista da Folha de São Paulo publicada no domingo, 25. Na conversa, o tocantinense reforçou as pautas conservadoras, admitiu “afinidade” com as bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sugeriu a existência de uma “ditadura da toga” e saiu em defesa de golpistas que participaram no ato do dia 8 de janeiro em Brasília, que terminou com a depredação das sedes dos três Poderes da República.
TEM MUITA GENTE BOA QUE ESTÁ PRESA
Eli Borges saiu em defesa dos golpistas ao afirmar que existe uma “ditadura da toga” sendo exercida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação do parlamentar, os atos terroristas do dia 8 de janeiro foram de “uma pequena minoria de baderneiros infiltrados” ou de “algumas pessoas na sua simplicidade […] que não representam o pensamento da maioria”. “Tem muita gente boa que está buscando a sua liberdade e está presa”, defendeu o tocantinense, que também condenou o “ativismo” do Judiciário em questões como ideologia de gênero [sic] e aborto. Em outro momento, o tocantinense ainda disse não ter visto “nada de errado na sociedade fazer o seu clamor” por uma intervenção no resultado das urnas, que também o elegeu.
AFINIDADE COM BOLSONARO
O líder da bancada evangélica confirmou ter “afinidade” com as bandeiras que Jair Bolsonaro defende, mas não se disse ‘bolsonarista’. Eli Borges também defendeu o correligionário das críticas pela postura após o processo eleitoral, de ficar fora do Brasil. “Entendi que ele apenas exercitou a prudência que deveria ter e não se envolveu em função de estarmos vivendo, entre aspas, uma ditadura da toga no Brasil. E isso com certeza levou o Bolsonaro a exercitar o espírito prudente nesse tempo de início do governo Lula [da Silva, PT]. Ele é um ser humano, e nós temos que respeitar”, pontuou. Além disso, o deputado projeta que o ex-presidente poderá manter o apoio maciço dos evangélicos se “continuar defendendo o que as igrejas defendem”.
CONTRA O ABORTO ATÉ EM CASOS DE ESTUPRO
Em relação às pautas conservadoras, Eli Borges revelou ser contra com qualquer prática de aborto, inclusive em casos de estupro, como atualmente permite a legislação. “Tem omissões aí, que é esta criança. […] É importante pensarmos que tem essa figurinha lá, que a mãe emprestou sua barriga para que ela nasça. […] Defendo a vida desde o nascituro. Defendo a vida, e o dono da vida é Deus”, justificou. O deputado ainda argumentou existir “uma cristofobia forte” no Brasil e defendeu tocantinense o direito da participação política de religiosos. Nos sindicatos, eles têm os seus candidatos. No segmento bancário eles têm os seus candidatos. Qual é o problema de a igreja também ter os seus?”, questionou.
GOLPISMO, OBSCURANTISMO E MISOGINIA
A entrevista de Eli Borges repercutiu mal na mídia nacional. O jornalista Reinaldo Azevedo, do próprio grupo UOL, condenou completamente as falas do tocantinense. “Não há tese reacionária ou estúpida em que não tenha incidido o deputado, falando em nome da bancada evangélica. Espero que as pessoas lúcidas, parlamentares ou não, adeptas das mais variadas correntes religiosas reunidas sob tal signo reajam para que o exercício da fé não se misture com golpismo, obscurantismo e misoginia”, escreveu. O texto do colunista dispara principalmente contra os comentários do tocantinense em relação ao 8 de janeiro. “O coordenador da bancada evangélica acha que tentar dar um golpe é um direito, que se ampararia na Constituição. E é destemido na bobagem. É uma tese golpista. Nas boas democracias do mundo, deveria ter de responder ao Conselho de Ética da Câmara”, acrescentou.
ESTUPROU A CONSTITUIÇÃO, A LÓGICA E A PACIÊNCIA ALHEIA
Josias de Souza, também do UOL, é outro que condenou a entrevista e foi duro nas palavras. “Foram três violações. […] Estuprou a Constituição, a lógica e a paciência alheia. Tudo em nome de Deus, da pátria e da família”, escreveu o jornalista, citando, respectivamente, as falas de Eli Borges quanto aos atos golpistas, à suposta cristofobia no Brasil e a defesa do fim de qualquer prática de aborto.