O senador Eduardo Gomes (PL-TO), líder do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso, disse ao jornal O Globo nesta semana que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta turbulências na relação com o Parlamento mais por falta de “clareza” nos planos do que por deficiências de articulação política. Para ele, a oposição ao governo petista no Senado já conquistou uma envergadura neste primeiro ano que os opositores à antiga gestão só alcançaram no fim do mandato. Gomes previu que as eleições municipais vão reproduzir o embate entre petismo e bolsonarismo. “Vai ser muito acirrada, mas a tendência dos partidos do centro é caminhar mais ao lado do PL”, apostou.
FASE DE ADAPTAÇÃO
Em relação à falta de clareza, o senador tocantinense afirmou que todo governo, quando começa, tem essa fase de adaptação. “Também encontrou um Congresso com uma característica marcante de centro. No caso do Senado, até de centro-direita, uma composição mais conservadora. Há uma mudança completa da forma de governar. Isso leva tempo”, avaliou.
SEM EXTREMISMO
Gomes disse que não procurou o presidente Lula, mas que tem mantido “conversas permanentes (no Congresso)”. “Porque fui líder durante três anos e três meses e, em várias votações, tive o apoio dos parlamentares da oposição à época. É natural que eu tenha um bom relacionamento com os líderes do governo. Nem todos os parlamentares são extremados. Existem os que trabalham num campo de convergência. É o meu perfil”, defendeu.
ACIRRAMENTO DO PAÍS
O senador avaliou que, desde a redemocratização, o Brasil teve algumas eleições acirradas, mas, observou Gomes, “quando elas terminavam, a pressão tendia a diminuir”. “Agora não. É um fato inédito. Vivemos uma eleição que terminou há um ano e, no dia a dia das pessoas, da agenda política da população, ela continua. É como se a gente pudesse ter uma votação no domingo que vem e os dois candidatos estariam em condições eleitorais. Não tem como ter ciência total sobre um fenômeno que não foi estudado ainda. Essa circunstância responde pelo nome do Lula, que está na Presidência, e pelo do Bolsonaro, que está na rua”, explicou.
ESTÍMULO A MANTER BOLSONARO VIVO
Sobre a inelegibilidade de Bolsonaro, Gomes lembrou que Lula também já esteve inelegível. “O problema é que tudo que você vai questionar sobre Bolsonaro, para a população, funciona como um estímulo a mais para mantê-lo vivo politicamente”, ressaltou.