O ano de 2023 representa para o Brasil um momento de reconstrução da democracia e do desenvolvimento sustentável da nação. A vitória em outubro de 2022 da chapa Brasil da Esperança, encabeçada por Lula, trouxe uma nova moral para o país superar a crise política, econômica e sanitária (resquício da pandemia da Covid-19) causada pelo desgoverno de Jair Bolsonaro.
Fiel representante da extrema direita no Brasil, Bolsonaro governou sob a égide do fascismo, negando os fundamentos científicos no combate à pandemia, sufocando o financiamento das pesquisas, negando-se a realizar o principal instrumento para o planejamento de gestão do país, que é o Censo Demográfico realizado pelo IBGE, desinvestindo em Educação e incitando cotidianamente o ódio no imaginário coletivo através de uma rede sofisticada de fake news, respaldada por líderes religiosos evangélicos e católicos defensores de pautas de costumes.
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Após a inquestionável derrota nas urnas, Bolsonaro ainda tentou mais três golpes contra a democracia. O primeiro ainda em 2022, passada a eleição, quando reuniu com os comandantes das Forças Armadas e sugeriu não repassar o poder. Nesta ocasião, após receber o apoio dos comandantes da Marinha e da Aeronáutica, o então presidente foi repreendido pelo comandante do Exército brasileiro. O ato do comandante do Exército, contudo, não representou primeiramente uma obediência aos princípios constitucionais: ele já havia consultado se haveria, por parte do presidente dos EUA, o apoio ao ato, de onde veio a negativa. Para Joe Baden e a CIA uma intervenção direta no Brasil causaria forte reação mundial, uma vez que o mundo tinha grande expectativa com o terceiro governo de Lula.
A segunda tentativa de golpe se deu na diplomação de Lula no dia 12 de dezembro de 2022, quando atos de vandalismo, desordem e tentativa de golpe tomaram conta de Brasília, a capital federal. Por fim, a terceira tentativa foi no início do mês de janeiro e deveria ter acontecido inicialmente no dia primeiro, porém a mobilização popular só esteve preparada no dia 08 daquele mês. Numa ação coordenada com frações das polícias Militar do DF e Rodoviária Federal, bem como com fração do comando do Exército, militantes direitistas acampados nas cercanias do quartel desta força armada em Brasília marcharam rumo à Praça dos Três Poderes, onde ocuparam as casas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário e causaram completa destruição. Foi um dia de grande terror, em que a ordem só foi reestabelecida no início da noite.
O dia 8 de janeiro de 2023 ensinou a nós, brasileiros, o risco e o perigo da junção entre a religiosidade baseada na pauta de costumes, a desinformação pautada em fake news e a política populista com incitação à violência. O resultado polvoroso desta combinação culminou num cenário caótico que assustou a grupos políticos de todas as tendências e ideologias e todas as instituições de Estado. Esse susto produziu uma união de forças diferentes e antagônicas em defesa da democracia, expressando a sua essência e a sua importância na consolidação de um Estado forte e contemporâneo.
O dia 8 de janeiro de 2023 deve entrar para a história não como o dia do golpe, mas como o dia em que a democracia venceu o golpe, desarticulando a desinformação e o ódio.
ADÃO FRANCISCO DE OLIVEIRA
Doutor e pós-doutor em geografia, historiador e sociólogo, é professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Foi secretário de Educação do Tocantins.
Confira algumas imagens dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 (clique na foto para ampliar):
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