A Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) rejeitou nesta terça-feira, 23, o Projeto de Lei do deputado Júnior Geo (PSDB) que buscava dar o nome do médico João Neves de Paula Teixeira ao Hospital Geral de Gurupi (HGG). Com a decisão da maioria dos deputados, a unidade segue homenageando Ivo Carlesse, pai do ex-governador Mauro Carlesse (Agir), mas que não tem qualquer relação com o Estado. O produtor rural sequer visitou o antigo norte de Goiás antes de falecer em 1974, no Paraná.
REVOLTA E TRISTEZA DE GURUPI COM HOMENAGEM A IVO CARLESSE
Único deputado de Gurupi presente na sessão, Gutierres Torquato (PDT) foi duro na defesa da mudança de nome e relevou a intensa insatisfação da população com a atual homenagem. “A revolta do nome é tremenda. A tristeza com que o povo passa pelo hospital e vê o nome Ivo Carlesse lá é absurda. É o nome de alguém que não tem absolutamente nenhuma história com o Estado, não conhece absolutamente nada sobre o Tocantins”, afirmou. O deputado entende que a alteração “seria moralmente uma grande resposta ao povo tocantinense”. O pedetista também esclareceu sobre a sugestão do novo homenageado. “João Neves foi um médico que, inclusive, não foi uma escolha de uma ou duas pessoas. Houve um plebiscito em Gurupi para que escolhesse um nome que fosse de consenso do povo. Médico determinado, que foi para o enfrentamento no momento de maior fragilidade do sistema de saúde mundial, que faleceu inclusive vítima de Covid-19”, reforçou.
PROJETO PARTIU DA COMUNIDADE
Autor do projeto, Júnior Geo reforçou a argumentação. “Não é a coisa mais adequada do mundo deputado ficar propondo obras públicas com o nome de parente de governador. Já é minimamente tendencioso. O nome proposto é de uma pessoa falecida na década de 70, o Tocantins nem tinha sido criado. Uma pessoa que não é da área da saúde, que não tem história com o Estado, com a cidade mas se torna o nome de um hospital. É um desrespeito. Esse projeto não é meu, não partiu de mim, isso partiu da comunidade gurupiense”, acrescentou. Winston Gomes também se posicionou favoravelmente ao texto. “O pai do nosso ex-governador, pelo que eu sei, nunca nem esteve no Tocantins. Com todo o respeito à memória e tudo, acredito que nós temos tocantinenses hoje, sejam natos ou vindos, que merecem ser homenageados”, argumentou.
POSICIONAMENTO PELA MANUTENÇÃO DA HOMENAGEM A IVO
O presidente da Casa Leis, Amélio Cayres, foi o primeiro a se manifestar contrário à matéria. “Retirar o nome da pessoa, independente de quem seja, é, de certa forma, desmoralizar ou desrespeitar a memória. Quem está lá não pediu para colocar o nome dele. Alguém colocou”, justificou. Ivory de Lira revelou que assumiu o compromisso de não alterar o nome das homenagens. Luciano Oliveira afirmou não concordar em substituir o nome já aprovado pela Casa, entendimento reforçado por Nilton Franco, que ainda minimizou ações de homenagem, apesar do apelo de Gutierres Torquato. “É 99%, se não for 100%. Ninguém olha para aquela placa para saber o nome daquele hospital, O que o povo quer é uma saúde de qualidade, um atendimento de excelência”, pontuou. Aldair Gipão foi outro que se manifestou pela manutenção da homenagem a Ivo Carlesse.
PRECEDENTE PERIGOSO
O posicionamento do deputado Léo Barbosa (Republicanos), filho do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), que é adversário de seu antecessor, também chamou a atenção. O parlamentar teme que alterações de homenagens tornem-se comuns. “O que eu acho mais perigoso aqui é um precedente que nós estamos abrindo, de aprovarmos algo e depois passar por cima. Minha avó dá nome a um importante bairro da Capital. Já pensou ser alguém que não gosta do meu pai amanhã assumir a prefeitura? Vou tirar o Maria Rosa, vou tirar os Aurenys porque eu não gosto do Siqueira Campos. É algo a ser pensado também desse ponto de vista”, afirmou.
VOTAÇÃO
Os únicos favoráveis ao projeto foram o próprio autor, Júnior Geo (PSDB), e Winston Gomes (PSD). Gutierres Torquato não estava presente na hora da votação. Votaram pela manutenção do nome do presidente da Aleto, Amélio Cayres (Republicanos), Janad Valcari (PL), Jair Farias (UB), Cleiton Cardoso (Republicanos), Vilmar de Oliveira (SD), Nilton Franco (Republicanos), Fabion Gomes (PL), Aldair da Costa, o Gipão (PL), Cláudia Lelis (PV) e Luciano Olivera (PSD). Ivory de Lira (PCdoB) e Léo Barbosa (Republicanos) optaram pela abstenção.
HOMENAGEM A IVO
A homenagem a Ivo Carlesse foi aprovada em setembro de 2020 pela Aleto. O texto foi de autoria de Olyntho Neto (Republicanos), deputado de Araguaína, distante 534 quilômetros de Gurupi. O texto chegou ao Plenário apesar do parecer contrário da Procuradoria, que alegou descumprimento do princípio constitucional da impessoalidade. Nada parou o projeto, que passou com votos favoráveis da ampla maioria. Apenas Júnior Geo foi contrário. Em dezembro de 2021 foi sugerido o nome de João Neves de Paula Teixeira. Na época, a Coluna do CT pontuou que a proposta seria mais um embate entre Wanderlei Barbosa – governador interino na época – e Mauro Carlesse, rompidos. O então titular tinha sido afastado do Palácio Araguaia por decisão da Justiça e ainda respondia a um processo de impeachment na Aleto. No fim, Carlesse optou pela renúncia. Diante deste contexto, chama a atenção a manutenção do nome de Ivo no HGG, apesar do total controle que o atual chefe do Poder Executivo mantém no Parlamento.