O candidato a governador do PSB, Carlos Amastha, tumultuou a última entrevista da rodada realizada pela TV Jovem/Record nesta sexta-feira, 28, para não ter que responder sobre os prejuízos de R$ 50 milhões de sua gestão ao PreviPalmas, o fundo de Previdência dos servidores municipais da Capital.
O PreviPalmas investiu os recursos nos fundos Cais Mauá e Tercon, cuja administradora é a Icla Trust, a mesma NSG Capital que já tinha gerado prejuízos ao Instituto de Gestão Previdenciária do Estado (Igeprev). O caso está sendo investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara, que já convocou para prestar esclarecimentos o ex-presidente do PreviPalmas Max Fleury, o ex-diretor de investimentos Fábio Martins e o ex-secretário de Finanças da Capital Christian Zini.
No relatório da comissão designada pelo próprio PreviPalmas para apurar danos causados por essas aplicações de risco, esses dirigentes e o próprio ex-prefeito Carlos Amastha são apontados como “principais responsáveis” pelos prejuízos “atuais e futuros” desses investimentos. Especialistas do mercado já disseram à imprensa, inclusive ao CT, que os R$ 50 milhões estão praticamente perdidos.
Este foi, com certeza, o motivo que levou Amastha a tumultuar a entrevista desta sexta-feira, para não ter que responder. Ele não deixou o jornalista Cleber Toledo, diretor executivo do CT e comentarista de política da TV Jovem/Record, concluir a pergunta, afirmando que não poderia ser usada a expressão “fundos podres”, que já vem sendo utilizada por especialistas do mercado e imprensa para se referir aos investimentos de risco feitos pelo PreviPlmas.
Contudo, ao invés de aguardar e só então questionar até mesmo esta expressão, Amastha passou a interromper Toledo para não permitir a conclusão da pergunta. Irritado, o jornalista disse que o candidato do PSB não o deixava terminar a questão por não ter o que responder por ser “covarde” e “medroso”.
Nomeação de corrupto
Amastha disse que não considera incoerente com seu discurso de moralização a nomeação do engenheiro Roberto Petrucci Júnior, de Maringá (PR), como secretário municipal do Desenvolvimento Urbano, Regularização Fundiária e Serviços Regionais de Palmas. Petrucci foi condenado a cinco anos e quatro meses de prisão e multa pelo crime de corrupção pela Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca do Paraná, acusado de pedir 50% de propina a um empresário maringaense. Em Palmas ele comanda uma pasta equivalente à da cidade do Paraná.
O candidato do PSB disse que a contratação de Petrucci não torna incoerente seu discurso por moralidade. Ele negou que o engenheiro tenha sido contratado a pedido do ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, como fontes de Palmas e também de Maringá afirmam. “O cara fez um trabalho excepcional lá, com duas secretarias, inclusive, e todo o Brasil sabe, Maringá é a capital da qualidade de vida. Então, convidei um grande profissional. Se deve ser demitido ou não tem que ser respondido pela prefeita Cinthia”, afirmou.
Conforme a Amastha, “suspeições têm demais”. “Agora provar que realmente haja alguma coisa… Até que prove ao contrário, a pessoa merece a nossa confiança. Como profissional, o que já fez em Maringá e o que já fez em Palmas”, elogiou, ignorando inicialmente que o engenheiro não está sob suspeita, mas condenado pela Justiça por corrupção, ainda que em recurso, mas depois emendou: “Mas ele foi condenado agora. Imagino que tenha recurso. Foi condenado depois de eu sair da prefeitura. Garanto que, independente de ele ser culpado ou não, ele fez um trabalho excepcional e está fazendo um trabalho excepcional também em Palmas”, defendeu o ex-prefeito.
O candidato do PSB disse que “certamente” Petrucci não fará parte de sua equipe de governo, caso seja eleito. “A partir do momento que já tem uma condenação, a gente precisa analisar se tem um recurso e como vai resolver essa situação”, justificou.
Nosotros
Amastha voltou a insistir que a Polícia Federal deveria “pedir desculpas” a ele pela Operação Nosotros, pela qual está indiciado por corrupção passiva, associação criminosa e excesso de exação (cobrança irregular de impostos). “Não tem absolutamente nada. Uma versão fantasiosa, montada para me prejudicar. Indiciado pode ser um milhão de vezes, quero ver é aceitar uma denúncia dessas e uma condenação. Isso não vai acontecer comigo. Sabe por quê? Porque nunca na minha vida agi de maneira errada. Não entrei para isso na política. Graças a Deus construi um patrimônio fora da política e a política não é lugar para ganhar dinheiro. A política é lugar para servir as pessoas. Isso foi o que fiz na Prefeitura de Palmas e é isso que vamos fazer no governo do Estado”, discursou.
No entanto, não é o que diz o delegado federal Júlio Mitsuo Fujiki, encarregado da Operação Nosotros, que está muito longe de se desculpar com o ex-prefeito. No seu relatório, o delegado afirmou que uma “associação criminosa” foi instalada na Prefeitura de Palmas e tinha como objetivo “lucrar com as valorizações em terrenos decorrentes das obras do BRT”. O relatório indica que empresários, municiados de informações privilegiadas sobre a futura instalação dessa modalidade de transporte, contrataram projeto urbanístico para a área que seria beneficiada pelas obras, alvo de Decreto de Utilidade do Paço.
A publicação desse decreto, inclusive, teve uma peculiaridade. Isso porque a desapropriação começou a ser feita pelo governo do Estado, na gestão de Sandoval Cardoso, mas, como se fosse leitura de pensamento, o ex-governador revogou o decreto num dia (10 de dezembro de 2014) e, 24 horas depois, o mesmo teor estava num documento publicado no Diário Oficial do Município (11 de dezembro de 2014).
No relatório, o delegado federal transcreveu uma fala que foi gravada de Amastha numa conversa com o advogado Egon Just, que contribuiu com a PF, em que o então prefeito diz o seguinte: “Você me acerta a vida e a gente levanta imediatamente”. Na entrevista desta sexta, Amastha alegou que o “acertar” era sobre a situação do advogado com a prefeitura.
“Esse cara [Just] entrou para me gravar e estava na frente de toda a equipe. Secretário de Finanças, procurador, todo mundo. Nunca me reuni com um cara desses em privado. Nunca”, garantiu Amastha na entrevista à TV. “Esses caras me odeiam e toda a população de Palmas sabe disso. A gente tocou nesses interesses, viraram um grande inimigo. Esse cara [Just] deve mais de R$ 80 milhões para o município de Palmas”, defendeu-se. “Olha o tamanho dos inimigos que a gente criou, [deputado federal Carlos] Gaguim, companhia, todas essas barbaridades, esses especuladores enormes. E batemos forte neles e mudamos a realidade da nossa cidade.”