Caro presidente Max Baroli,
Volto escrever-lhe para, desta vez, cumprimentá-lo pelo posicionamento corajoso, humano, civilizado e condizente com a mentalidade do século 21 dos vereadores de Araguaína em relação ao caso da Naiara Miranda, que ficou preocupada com a bala certeira que o prefeito de Colinas, Josemar Kasarin, diz ter. Como alguém que acredita pouco na eficácia do Poder Legislativo nos dias de hoje, foi um bálsamo para mim assistir a sessão de vocês dessa segunda-feira, com uma defesa clara, altiva e firme de valores corretos, dos marcos que nos garantem que vivemos numa época de evolução do pensamento e de emancipação da mulher, que deve ser muito bem-vinda nos espaços públicos e de poder. Mais do que isso, presidente: a mulher é necessária nessas esferas que sempre foram reservadas exclusivamente aos homens.
Como você bem disse, Max, os parlamentares tocantinenses não podem admitir essas situações. Tem toda razão. Todos foram atingidos, não só Naiara. Imagine que cada vez que o vereador ou deputado tomar uma posição ou fizer uma fala que desagrade o Executivo, o prefeito ou governador se sentir no direito de ir à tribuna da casa legislativa para se impor e até sugerir ameaças. Vocês estarão em maus lençóis. Nesse aspecto, presidente, o ato de constrangimento sofrido foi contra uma mulher, sem dúvida, mas também contra todos os parlamentares.
A coragem, humanidade e republicanismo que sobraram nos vereadores araguainenses faltaram a seus colegas colinenses. Os vereadores de Colinas fizeram talvez a sessão mais deprimente que já assisti nessas mais de três décadas de jornalismo. E olha que o que mais existe nos Parlamentos brasileiros em geral hoje em dia são sessões aviltantes. Mas a realizada pela Câmara de Colinas na noite dessa segunda-feira superou em degradação e deve ter feito Montesquieu, autor da teoria da separação dos poderes, se revirar no túmulo inúmeras vezes.
Caro Max, além de não ter havido nenhuma palavra em defesa de Naiara, tiveram a pachorra de fazer uma blindagem esdrúxula ao comportamento do prefeito. O pior foi ver essa sustentação partir até de vereadoras! Ou seja, presidente, a conclusão da sessão mais do que deprimente da Câmara de Colinas é que Naiara sofreu um segundo ato de constrangimento e intimidatório. O primeiro partiu do prefeito Kasarin, com o seu “Tu te prepara, que aqui a bala pega”, e o segundo de seus colegas, que deveriam ter se postado ao lado dela, mas preferiram cair nas graças do chefe do Executivo. Fez isso quem proferiu discurso indigesto, invertendo a ordem das coisas, e quem, covardemente, se calou.
Na verdade, é preciso reconhecer, presidente, que a insossa nota da Câmara de Colinas sobre o assunto, divulgada na sexta-feira, já antecipava essa presepada que, abismados, assistimos nessa segunda. Cheia de platitudes, não citou sequer o nome da colega que se sentiu agredida. Ou seja, amigo, um texto do tipo “me engana que eu gosto” ou “pra não dizer que não falei das flores”. Não havia qualquer intenção naquela nota de acolher a vereadora alvo do ataque, mas simplesmente tentar aplacar a indignação da opinião pública.
A preocupação agora, Max, é como será recebida a vereadora Naiara quando voltar ao plenário — me disseram que ela está em Brasília nesta semana tratando justamente desse caso. Será jogada contra a parede pelos colegas para que se desculpe com aquele que considera agressor? Será posta de castigo e todas as suas matérias legislativas serão rejeitadas? É de se pensar qualquer tipo de retaliação à vereadora depois do posicionamento ignominioso dos colegas dela na deprimente noite dessa segunda.
Como presidente de uma das principais câmaras do Estado e vizinho de Colinas, você pode agir para lhe dar o acolhimento que, pelo que vimos, ela não terá dos pares.
Novamente, meus cumprimentos aos vereadores araguainenses pela postura altiva, humana e sintonizada com nosso tempo.
Saudações democráticas,
CT