Dispensado da Delegacia Regional de Araguaína, Bruno Boaventura conversou com o CT na manhã desta segunda-feira, 19, e avaliou que a medida adotada pelo governo do Estado não se trata de um “ataque pessoal” a ele, mas sim contra a instituição Polícia Civil (PC) como um todo. Além dele, outros 11 delegados deixaram chefias regionais. O argumento dado pelo Executivo para as exonerações – redução de despesas – também foi duramente questionado.
“Esta perseguição foi muito mais direcionada à Polícia Civil como um todo do que diretamente a mim. O governo sentiu uma PC forte, que estava independente e indo para cima de crimes que estão lesando o erário. Acho que entendeu que isso era perigoso”, disse Bruno Boaventura. “Não sou eu o atingido desta exonerações, porque a partir de agora a organização administrativa da PC está abalada. E isto traz reflexos depois nas investigações”, acrescentou o delegado.
Bruno Boaventura reforça que a decisão pode vir a prejudicar a atuação da instituição. “O governo está deixando as regionais acéfalas, sem a pessoa que comanda. Se você não tem alguém para dar suporte, organizar as operações, isto vai ter reflexo lá na frente”, argumenta. “Entendo isto não como ataque pessoal, mas um ataque à instituição”, acrescenta.
O delegado cita a Operação Expurgo de Araguaína como exemplo desta preocupação do Palácio Araguaia. “Eu sei que a minha postura como delegado regional não estava agradando o governo. A partir do momento que viram que as nossas ações de investigação poderia de alguma forma desestruturar o governo, porque estava envolvendo o líder na Assembleia [Olyntho Neto], optaram por desestrutura a PC”, analisa.
“Desrespeito com a inteligência das pessoas”
Em nota, o governo nega interferência política na exoneração de delegados regionais e garante que medida é para redução de gastos. Tal argumento foi duramente questionado por Bruno Boaventura. “O argumento de contenção de gastos é um absurdo. Os regionais recebem R$ 800,00 [ para ter este encargo, e quase ninguém quer. Você se desgasta muito”, conta.
Boaventura calcula que a economia com a dispensa da função comissionada dos 12 delegados é de somente R$ 10 mil mensais, contenção que defende que poderia ser realizada em outros setores. “Tem funcionário fantasma, contratos que a gente não sabe como funciona, e vem me falar de economia retirando os regionais das chefias. Isto é um desrespeito até com a inteligência das pessoas”, encerra.