O ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) foi convencido a reassumir sua candidatura a governador. Pediu perdão, falou em depressão, arrancou risadas e, mestre na arte e ciência do marketing pessoal, conseguiu dar gás à militância e aliados do médio e baixo cleros. Contudo, ele terá dois problemas a superar. A desconfiança com a qual a própria cúpula enxerga silenciosamente essa bipolaridade dele e, o que é mais grave, a dos líderes que pretende alcançar por todo o Estado. “Se eu já não confiava nele, agora é que não confio mesmo”, relatou à coluna, já na noite dessa terça-feira, 7, um prefeito da base do senador Vicentinho Alves (PR).
O motivo que levou Amastha a se aliar àqueles que sempre xingou, como o próprio Vicentinho e o ex-governador Marcelo Miranda (MDB), é a necessidade que tem de obter capilaridade. Com as agressões que fez ao longo do tempo ao que chama de “velha política”, o ex-prefeito da Capital ergueu uma imensa barreira entre ele e os líderes do interior profundo do Tocantins, que sempre se sentiram atingidos a cada “vagabundo” e outras bobagens que dizia.
[bs-quote quote=”A militância mais próxima é movida a palavras de ordem, incentivos, abraços e cumprimentos, por isso, supera tudo rapidinho, e vive como se nada tivesse ocorrido. A passionalidade a domina. Mas candidatos e coordenadores do entorno de Amastha, puramente racionais, veem com desconfiança e estão silenciosamente indignados” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Foi dessa forma que Amastha passou a ser visto como um político que não passa segurança e desequilibrado, tudo que rejeitam os líderes de maior ascendência sobre o eleitorado do Estado.
Ao buscar os “velhos políticos” para chegar onde sozinho não tinha condições por esses erros táticos, Amastha precisava também provar que esses defeitos de personalidade não passaram de uma má impressão ou de ruídos em sua comunicação com a sociedade. Pelo grau e forma dos ataques — áudios, por exemplo —, essa versão já era muito difícil de ser vendida. A coluna ouviu isso de mais de uma dezena de líderes de regiões diferentes. Estão dispostos a apoiar Vicentinho, o senador Ataídes Oliveira (PSDB) e a deputada federal Dulce Miranda (MDB), por exemplo, mas rejeitam a possibilidade de pedir votos para o candidato a governador deles.
É nesse contexto que precisa ser medida a gravidade do gesto tresloucado de Amastha de, sem mais nem menos, desistir da candidatura e 24 horas depois refluir, como se nada tivesse ocorrido. O pedido de perdão é um gesto bonito de humildade, mas também atestado de reconhecimento de que agiu sem pensar, o que é crime gravíssimo nas relações políticas. Porque se sempre fez isso no passado não tão distante e repete um gesto intempestivo, quando dizia viver um momento diferente, significa que outros episódios lamentáveis do mesmo naipe deverão se repetir logo, logo. Aí o líder pensa como o personagem do início do texto: se já não se confiava, como confiar a partir de agora?
De outro lado, a militância mais próxima é movida a palavras de ordem, incentivos, abraços e cumprimentos, por isso, supera tudo rapidinho, e vive como se nada tivesse ocorrido. A passionalidade a domina.
Mas candidatos e coordenadores do entorno de Amastha, puramente racionais, veem com desconfiança e estão silenciosamente indignados porque sabem que a fundação do projeto está seriamente comprometida e que, consequentemente, também foram atingidos, ainda que por estilhaços.
Alguns já disseram à coluna que do ex-prefeito esperam qualquer coisa a partir de agora. Assim, cuidarão de suas candidaturas e, se preciso, vão isolar seus nomes para, pelo menos, a contaminação ser a mínima possível, no caso de novas atitudes impróprias.
Por isso, o Dia do Fico de Amastha não foi a superação cabal de um episódio corriqueiro de campanha, mas uma inflexão que deixou marcas profundas que só elevam ainda mais as dificuldades que o candidato a governador precisa superar.
CT, Palmas, 8 de agosto de 2018.