Com o 5 de agosto se aproximando, o “Dia D” das convenções, os bastidores vão se tornando mais agitados porque não dá para mais adiar as decisões. Para os partidos que não vão encabeçar majoritária, o debate sobre candidato a governador é totalmente secundário. Eles querem saber como vão abrigar, com condições de competitividade, seus candidatos a deputado federal e a estadual.
Por três motivos: já que não terão governador do partido, precisam de representantes na Assembleia e na Câmara para se fazerem fortes perante o novo inquilino do Palácio Araguaia; também porque seus deputados não querem ficar sem mandato; e ainda por pressão de suas executivas nacionais, que estão preocupadas com a cláusula de barreira. Sem votação mínima e representação no Congresso, podem podem perder fundo partidário e outras regalias.
[bs-quote quote=”Como se pode ver, as definições para a eleição suplementar foram muito simples. Era só definir quem seria o candidato a vice e tudo estava resolvido. Agora a questão mudou de figura, se tornou altamente complexa e delicada” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Por isso, o apoio aos pré-candidatos a governador depende do que eles têm a oferecer para garantir essas condições de competitividade. Sob esse aspecto, muita reclamação e insatisfação na base do governador Mauro Carlesse (PHS). Aliados acusam o Palácio Araguaia de estar negligenciando esse aspecto fundamental da disputa. Segundo eles, o grupo do entorno de Carlesse está com foco total nele, o que é importante, mas não demonstra nenhuma preocupação com a engenharia para tornar essas coligações proporcionais atrativas. Ao contrário, deram de ombros para o presidente regional do PSDB, senador Ataídes Oliveira, que foi se abrigar na majoritária do ex-prefeito Carlos Amastha. Também desdenham da importância do grupo da senadora Kátia Abreu (PDT).
A formação das proporcionais incide direto no volume de campanha que o candidato da majoritária terá. Poderá ter uma base aguerrida, com fortes postulantes ao Legislativo, ou apagada, se não conseguir agregar nomes de peso. Com a negligência, o Palácio pode perder partidos e candidatos importantes para a campanha de Carlesse. O excesso de confiança talvez se deva ao fato de o governo estar apostando todas as fichas no apoio de dezenas de prefeitos, que são importantes, mas não precisam de votos.
É fundamental pensar numa campanha forte num primeiro turno e ainda prospectar um possível segundo turno, quando, se os adversários tiverem formado proporcionais fortes, poderão se juntar contra o Palácio e a disputa, então, não será a moleza que se viu no final da eleição suplementar. Há muita gente ligando para reclamar do “salto alto” dos governistas. Lembrando que teve candidato na suplementar que desfilava em elevadas tamancas, certo de que era imbatível e vencia no primeiro turno. Foi derrubado das alturas e agora rasteja humilde com a sandália da humildade, em busca dos apoios que esconjurava até então. A história ensina e é preciso aprender para que ela não se repita.
Do lado de Amastha, a situação é muito delicada, no que diz respeito às proporcionais, e qualquer decisão que for tomada vai descontentar um aliado. O critério que PSB, Podemos e PCdoB estão estabelecendo de uma coligação com mandatários e outra de candidatos sem mandato tende a morrer na praia. Os deputados de mandato querem e precisam de “escadinha”, dos candidatos que acham que pedem voto para si, mas, na verdade, trabalham para quem tem mais poder de fogo. Sem esses coitados, não há reeleição possível. Assim, a chiadeira contra esse acordo será enorme e deve derrubá-lo.
Se realmente fechar com PSDB e PT, Amastha estará com a campanha muito bem atendida no que diz respeito a tempo de TV. Mas os emedebistas têm muito a oferecer por conta da capilaridade, já que o partido do ex-governador Marcelo Miranda está entranhado em todos os 139 municípios tocantinenses. Diga-se: é capilaridade que o ex-prefeito de Palmas mais busca nestas eleições. Se Amastha realmente optar pelos petistas, o senador Vicentinho Alves (PR) ficará numa situação extremamente difícil. Não terá espaço para buscar a reeleição com Carlesse nem com o pré-candidato da Rede, Márlon Reis.
Contudo, o quadro que se desenha para o pré-candidato do PSB é lindo de longe, mas confuso de perto. Justamente porque comportar tantos nomes de peso nas disputas proporcionais não será uma engenharia simples. Começa pelo PSDB, rejeitado pelo MDB para coligação proporcional. Fontes do PT já disseram que não querem se coligar com os emedebistas. E o malfadado critério de mandatários e debutantes do PSB, PCdoB e Podemos está assustando possíveis aliados de Amastha e até internamente.
Márlon Reis também precisará pensar em como abrigar novos aliados e garantir a eles condições de competitividade. O PV quer o pré-candidato da Rede, o Pros, da deputada federal Josi Nunes, dizem que o partido mais desejado por todos os lados, leva muito a sério essa possibilidade de estar ao lado do idealizador da Lei da Ficha Limpa. Outro que estuda é o PSC, do deputado estadual Osires Damaso.
César Simoni (PSL), homem do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), parece que caminhará com chapa pura. Assim, terá menos problemas para montar essas chapas.
Como se pode ver, as definições para a eleição suplementar foram muito simples. Era só definir quem seria o candidato a vice e tudo estava resolvido. Agora a questão mudou de figura, se tornou altamente complexa e delicada. Qualquer movimento equivocado, de lado a lado, resultará na perda de importantes aliados e colocará em risco o projeto de conquista do Palácio Araguaia.
É a hora em que se deve dar espaço a experientes engenheiros da política agirem, e quase nunca são aqueles que encabeçam as chapas.
CT, Maringá (PR), 23 de julho de 2018.