A transformação da política brasileira foi o mote dos discursos e debates das eleições do ano passado. Não tanto como se precisava — sobretudo no Tocantins, onde a renovação foi mínima —, os eleitores fizeram mudanças e impuseram derrotas a partidos tradicionais. O presidente Jair Bolsonaro liderou a frente de renovação e, de carona com ele, vários líderes chegaram poder, casos dos governadores do Rio, Wilson Witzel, e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
Ainda na esteira bolsonarista, muitos novatos conquistaram vaga na Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas, com votações recordes, como a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL), com 2.031.829 votos; e os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, com 1.751.748 votos; e Joice Hasselmann, com 1.078.659 votos.
[bs-quote quote=”Para os novatos de mandato, gente que talvez há bem pouco tempo nunca tenha sequer sonhado em estar no Congresso ou numa Assembleia, a política é, tão somente, sinônimo de negociatas, de corrupção, de crimes de colarinho branco. Assim, não acreditam numa nova política, mas na apolítica.” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
A pergunta que se faz é que nova política é esta que se apresenta ao Brasil? O que se entende por nova política? Nas leituras que se faz das barbaridades postadas diariamente nas redes “antissociais” por novos políticos e fanáticos defensores dela, a premissa de que partem é da marginalização da política. Ou seja, para os novatos de mandato, gente que talvez há bem pouco tempo nunca tenha sequer sonhado em estar no Congresso ou numa Assembleia, a política é, tão somente, sinônimo de negociatas, de corrupção, de crimes de colarinho branco. Assim, não acreditam numa nova política, mas na apolítica.
Dessa forma, o essencial para o exercício dessa autodeclarada nova política é não fazer política para se conservar num ambiente de total assepsia moral, o que, em grande parte, explica o naufrágio da Reforma da Previdência até este momento.
Gente com essa mentalidade evita até estudar os fenômenos políticos e históricos e preferem se fechar na segura — para eles, claro — redoma da ignorância. Nessa área de recolhimento, os conceitos de mundo não são formados a partir de leituras e reflexões, mas, como em períodos anteriores ao medieval, se dá pelas sensações, por impressões primárias, por simpatias e antipatias.
É nesse contexto que se pode avaliar a aliança cega, por exemplo, de Bolsonaro com Israel. Nada contra essa aproximação, até porque, como bem disse o secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Aquicultura (Seagro), César Halum, no quadro “Entrevista a Distância” dessa quarta-feira, 3, “nosso interesse é promover a paz no mundo, fazer com que todos possam ser clientes do produto brasileiro, especialmente do nosso, o tocantinense”. Devemos preservar a tradição da diplomacia brasileira de paz com todos os povos.
Contudo, a “nova política apolítica”, ainda que liderada por um político experiente como Jair Bolsonaro, mas que sempre se fechou nessa redoma da segurança asséptica, não se apega a tradições diplomáticas nem estuda a história dos povos para decidir como se portar para evitar complicações comerciais à economia brasileira, que ainda tenta se levantar após 13 anos de estragos feitos pelo PT. Simplesmente, sente e essas sensações, como metodologia medieval ou até neandertal de análise, são o suficiente para que emita declarações “seguras”.
Assim é que o Tocantins corre sério risco de perder milhões ou até bilhões de dólares de investimentos do mundo árabe, uma articulação, diga-se, política com “P” maiúsculo, que o secretário Halum vez fazendo desde quando era deputado. Já faz um bom tempo que a coluna acompanha nos bastidores essa movimentação dele, que tem potencial para transformar o agronegócio do Estado.
Contudo, anos de busca de relacionamento e confiança podem ser prejudicados por tomadas de posição, declarações e decisões atabalhoadas, de quem a cada dia se mostra muito menor do que o cargo que ocupa.
Nunca me cansarei de repetir: pena que do outro lado estava o PT.
CT, Palmas, 4 de abril de 2019.