O CT publicou no sábado, 11, entrevista da Agência Brasil com o economista e doutor em direito Bruno Carazza, autor do livro Dinheiro, Eleições e Poder. Ele mostra que o País — e, claro, o Tocantins nele — terá pouquíssima renovação no Legislativo nas eleições de outubro. Os vícios que garantem a reeleição dos mesmos de sempre permanecem inalterados.
Parto sempre do princípio de que a política é um grande negócio. Lógico, falam em servir a comunidade, lutar pela transformação do País, blá-blá-blá, blá-blá-blá e blá-blá-blá. Que falem isso para os eleitores que gostam de ser enganados.
Dessa forma, para se manter como player é necessário que o sistema permaneça como está, com leves mexidas para passar uma sensação de moralização. Afinal, os “clientes” desse grande negócio estão indignados.
[bs-quote quote=”Para levantar os recursos necessários à reeleição, os políticos bebem na mesma fonte, que jorra dinheiro de forma incessante e volumes fartos a quem quiser contribuir com os interesses das empresas ao chegar no mandato” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Contudo, o essencial do sistema precisa permanecer intacto. O domínio da máquina partidária, por exemplo, para que trabalhe em favor de seus comandantes, geralmente deputados e senadores, é fundamental. Em época de fundo eleitoral, a canalização dos recursos é definida por quem comanda essa estrutura. E é óbvio que os maiores beneficiados serão aqueles que já estão no mandato.
Um patrimônio intocável do processo eleitoral brasileiro, que o sistema judicial não deu conta de eliminar, é o caixa 2, que está mais operante do que nunca. As empresas foram proibidas de doar legalmente para as campanhas, mas não há legislação que consiga impedi-las de fazer desaguar milhões de reais para o caixa paralelo dos candidatos.
Inclusive, o próprio Judiciário tem uma visão soft dessa forma de financiamento das eleições. É só ver como estão tratando aqueles políticos pegos com caixa 2 da Odebrecht, no Petrolão. Já os separaram dos que receberam recursos como propina, que terão tratamento mais rígidos do que aqueles que “apenas” pegaram esse dinheiro sujo para se reeleger em 2014.
Como bem afirmou Carazza, as empresas continuam tendo interesses diretos em negócios fartos e facilitados com o Estado. E não têm outro caminho: os políticos são o pedágio necessário.
Como conquistar voto para renovar o mandato custa muito caro, esse fundo eleitoral que está aí para produzir aquela sensação de pureza no processo não dá conta de suprir todas as necessidades. Assim, o caixa 2 é visto como a alternativa pragmática para garantir os recursos demandados pelo ritmo frenético da campanha. Ou seja, apesar da Lava Jato, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.
Para levantar os recursos necessários à reeleição, os políticos bebem na mesma fonte, que jorra dinheiro de forma incessante e volumes fartos a quem quiser contribuir com os interesses das empresas ao chegar no mandato.
O primeiro passo que deveria ser tomado rumo à moralização do processo eleitoral seria o barateamento dele. E isso não foi mexido. Até porque passa por temas que não interessam aos congressistas, como o voto distrital. Mas ter que ficar sempre na mesma região exigiria frequentes prestação de contas ao eleitor e acabaria com os paraquedistas, que, como gafanhotos, a cada eleição migram para uma região diferente.
Outro caminho seria o fim das superproduções dos programas de TV, que consomem o maior volume de recursos da campanha. A ideia é a mais simples possível: uma câmera na mão e propostas na cabeça. Os aliados poderiam manifestar apoio, e mais nada que isso. Acabaria com as maquiagens de candidatos desqualificados. Como o sistema atual exige uma embalagem bonita aos postulantes, claro que se trata de uma oferta totalmente indigesta.
Já que não sou dado ao vitimismo, temos ainda o eleitor, cúmplice desse sistema. Uns querem bens materiais em troca do voto e outros apoiam candidatos por promessas de empregos com trabalho pouco e ganhos fartos. Os mais incautos entram de graça num Fla-Flu, com uma defesa meramente passional de nomes que os prejudicarão e as suas comunidades, apenas por se simpatizar com frases de efeitos e ser atraídos pelo populismo, que garante que a saída para problemas complexos é só a vontade e uma pseudo honestidade. E assim vamos seguindo nessa marcha da insensatez que nos leva a um buraco cada vez mais profundo.
Quero muito estar completamente enganado, mas essa junção de um sistema feito sob medida para reeleger os de sempre com um eleitorado completamente despreparado para o processo democrático não tem como produzir algo de positivo.
Mas desejo muito estar errado.
CT, Palmas, 13 de agosto de 2018.