Quem acompanha a coluna não se surpreendeu com a reeleição do governador Mauro Carlesse (PHS) nesse domingo, 7, com 57,39% dos votos válidos. As oposições ao Palácio são as grandes responsáveis pela vitória em primeiro turno por terem cometido todos os erros impossíveis e inimagináveis antes das convenções, nelas e depois delas. Dessa forma, Carlesse tinha que ser meramente protocolar. Como não errou, o resultado veio por gravidade.
A defesa que se fez era uma constatação muito óbvia: o Tocantins tem uma estrutura tradicionalíssima de fazer política. Nas palavras do ex-juiz e advogado Márlon Reis (Rede), é a “política de vaqueiro”. Ou o candidato tem seus “vaqueiros”, ou o “gado” não entra no “curral”. Termos fortes, concordo, mas que simplesmente expressam uma realidade que precisa ser mudada. Porém, ainda é assim que funciona.
[bs-quote quote=”Ficou a impressão de que a candidatura de Márlon serviu apenas de ‘barriga de aluguel’. Seus candidatos majoritários pouco lembravam de sua existência” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Se o candidato inicia a caminhada atacando os “vaqueiros” ao invés de atraí-los, vai, obviamente, perder a eleição. É o motivo básico da dificuldade que Amastha encontrou para atrair lideranças à sua campanha, como lhe disse franca e claramente, numa “missa de corpo presente”, como é de sua característica, o prefeito de Paraíso, Moisés Avelino (MDB).
Ao sair das eleições de 2016, o candidato do PSB tinha tudo para ser governador em 2018. Mas os antigos ensinam que quem fala demais (ou posta nas redes sociais tudo o que pensa) dá bom dia a cavalo. E o candidato do PSB deu até beijo em jumento. Com os exageros do “eu me basto”, criou uma barreira quase que intransponível entre ele e os líderes tocantinenses.
Depois vieram os erros mais básicos. Nas vésperas da convenção perdeu parte dos seus eleitores ao se aliar àqueles a quem impingia os piores adjetivos. Durante a campanha, demonstrou instabilidade ao desistir e recuar em 24 horas, criando mais desconfiança nos líderes; o cisma com o MDB, no episódio de Sítio Novo com Marcelo Miranda e Dulce; a falta de unidade com seus senadores, até a exploração fora de time da morte que não ocorreu na rebelião do Presídio da Barra da Grota; entre outras ocorrências públicas e privadas que só colocavam mais dificuldades numa missão que já estava muito espinhosa.
Ainda do lado das oposições, Márlon deu uma importante contribuição a Carlesse, e também a Amastha, ao contaminar o discurso purista da eleição suplementar, que tinha garantido a ele um desempenho excepcional, com alianças comprometedoras à sua mensagem e que o posicionaram na disputa como apenas mais um candidato. Pior: sem levar nada em troca, a não ser tempo de televisão, um latifúndio improdutivo no Tocantins, já que a audiência desses programas estão em queda e, quanto maior, mais caro é para se manter. E se havia uma coisa que o candidato da Rede demonstrou que não tinha era dinheiro para tocar a campanha.
Ficou a impressão de que a candidatura de Márlon serviu apenas de “barriga de aluguel”. Seus candidatos majoritários pouco lembravam de sua existência. Senador eleito, o deputado federal Irajá Abreu (PSD) se encontrou com o ex-juiz apenas no registro de candidatura, no início de agosto. Nunca pronunciava o nome dele e até na simulação da urna ignorou o cabeça de chapa de sua coligação. No entanto, teve com Márlon o que precisava: uma vaga para disputar o Senado. Ou seja, sem Márlon, jamais seria senador. Aliás, quem conhece o histórico das composições das últimas três eleições estaduais, não se surpreendeu.
De outro lado, o governador Mauro Carlesse, era um ilustre desconhecido de todo o Estado até março, e construiu imensa musculatura a partir da cassação de Marcelo. Um homem que ouve muito mais do que fala e assimila muito bem os conselhos dos mais experientes tem tudo para ser bem-sucedido. Foi esse o perfil que Carlesse demonstrou ao longo das duas eleições. Ainda evitou exposições desnecessárias, sabendo de suas deficiências de retórica.
Dessa forma, com a indispensável máquina nas mãos, o governador soube dosar a aplicação de toda a estrutura de que dispunha em benefício de sua campanha, mantendo-se na retaguarda, procurando ser propositivo e fazer apenas movimentos calculados. Essa foi a receita da vitória em primeiro turno.
Afinal, para que mais do que isso se as oposições fizeram o resto?
CT, Palmas, 8 de setembro de 2018.