A decisão do presidente Jair Bolsonaro de determinar que os quartéis deem as “comemorações devidas” ao golpe de 1964 — que ele refuta que seja “golpe” — não surpreende. Era esperado para quem reverenciou o torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de repressão da ditadura. O que assusta é o amplo apoio dos fanáticos do bolsonarismo.
[bs-quote quote=”Que a esquerda envolvida na luta armada nunca quis a redemocratização, isso é fato, agora negar que o País viveu sob uma ditadura militar horrorosa, que torturava, matava, humilhava e abusava do poder que tomou com os tanques nas ruas é de uma burrice ímpar” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Não sou do tipo que reverencia os líderes de esquerda que foram para a luta armada durante a ditadura militar. Muito pelo contrário. Tenho figuras do tipo de Carlos Marighella como bandidos e irresponsáveis, que levaram centenas de jovens à tortura ou à morte, iludidos com o engodo de substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado.
Dilma Rousseff, José Dirceu e outros jamais lutaram pela democracia, como hoje arrotam em discursos e entrevistas. Tentaram substituir uma ditadura militar por outra, socialista.
O fim da ditadura no Brasil, diga-se, não se deve à luta armada de Dilma, Dirceu e outros irresponsáveis do tipo, muito menos às músicas de protesto de Chico Buarque. Ele foi resultado do encerramento do período do “milagre econômico”. Quando a classe média já não podia mais comprar carro zero, comer bem e realizar paradisíacas viagens de férias, os militares perderam apoio popular. Na insensibilidade e no egoísmo que enredam o ser humano na era do consumismo, enquanto ele curte as maravilhas do mundo material, dá de ombros ao sofrimento alheio, seja à fome do irmão ou às torturas dos porões comandados pelo coronel Brilhante Ustra e outros fascínoras.
Que a esquerda envolvida na luta armada nunca quis a redemocratização, isso é fato, agora negar que o País viveu sob uma ditadura militar horrorosa, que torturava, matava, humilhava e abusava do poder que tomou com os tanques nas ruas é de uma burrice ímpar, típica desses tempos obscuros das redes “antissociais”, em que sua excelência O Fato é atropelada pela ignorância dos instintos, algo típico da idade média para trás.
Conheci jornalistas e tive professores torturados, que, já idosos, ainda sofriam com as sequelas dos abusos, da falta de respeito aos direitos básicos de qualquer ser humano. Em nome de todos esses irmãos brasileiros que padeceram todos os tipos de barbaridades nos porões da ditadura militar, essa data de 31 de março deveria ser um dia de luto nacional, não para ser comemorada como propõe o presidente Bolsonaro, em mais uma macaquice para entreter seus fanáticos das redes sociais.
Não satisfeito em enaltecer os torturadores do Brasil, semana passada, no Chile, Bolsonaro elogiou outro carrasco, o ditador Augusto Pinochet. Por isso, o presidente brasileiro foi muito criticado pelos líderes chilenos. O regime de Pinochet é acusado de ter deixado 40 mil vítimas, entre mortos, desaparecidos e torturados, entre 1973 e 1990.
Não dá para o Brasil tirar esses monstros do armário e elevá-los. Os que ainda estão por aí precisam ser punidos e os que já se foram devem ser esquecidos. São marcas da ignomínia em nossa curta história, não tem nada de heroísmo no que essa gente fez.
Quem tenta canonizá-los aos olhos da história ou são cúmplices de todo o seu autoritarismo e de suas barbaridades, ou analfabetos funcionais foragidos das escolas.
E tenho que repetir: pena que do outro lado estava o PT.
CT, Palmas, 26 de março de 2019.