Especialistas que desde o início do ano têm abastecido a imprensa com as informações que levaram ao escândalo dos R$ 50 milhões de investimentos de risco do PreviPalmas, o instituto de Previdência dos servidores públicos da Capital, disseram à coluna que não acreditam nos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que se propõe justamente a investigar essas operações irresponsáveis.
[bs-quote quote=”A CPI não pode ser concluída simplesmente para que os vereadores que foram eleitos deputados estaduais deixem a Câmara com a consciência aliviada. É necessário que se aprofunde as investigações e que todas as nuances dessas operações sejam devidamente dissecadas” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Para eles, há muita espuma para pouco chope, e um objetivo dos trabalhos, defendem, está claríssimo: não aprofundar nas investigações. Quem entende do riscado pergunta por que a CPI não convocou ninguém que nadou de braçada sobre os R$ 50 milhões? Cadê os responsáveis pelo tal Cais Mauá, de Porto Alegre (RS), que levou toda essa bolada? Por que não chamaram o povo da tal Icla Trust, a antiga NSG Capital, mesma empresa que geria o fundo BFG, responsável pelo rombo de mais de R$ 303 milhões ao Igeprev, e que movimentou milhões dos servidores de Palmas?
Os especialistas defendem que era importante a presença desses operadores para que explicassem o que estão fazendo para reenquadrar o PreviPalmas e quais os movimentos para dar liquidez ao fundo. Ainda: por que a obra do Cais Mauá está paralisada? Também precisavam esclarecer sobre a Operação Gatekeepers, da Polícia Federal, deflagrada em abril, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, para averiguar fraudes relacionadas a fundos de investimento. De acordo com a PF, administradores do fundo investigado são ligados à administração do consórcio Cais Mauá do Brasil S.A, que controla investimentos para as reformas no Cais gaúcho e que recebeu R$ 50 milhões do funcionalismo palmense. Isso não precisava ser esclarecido à CPI?
Ou seja, quem entende desse complexo mercado defende que não dá para fazer uma CPI para investigar um investimento e não ouvir quem recebeu a grana. Precisam dizer por que receberam os recursos do instituto numa operação desenquadrada, por que receberam um dia depois de terem sido credenciados, por que foram credenciados com certidões vencidas. Os especialistas afirmam que são questões primordiais e a CPI não está atrás disso.
Dessa forma, os depoimentos que serão colhidos na tarde desta terça-feira, 6, são importantes, mas apenas um lado da moeda. Não é possível chegar a uma conclusão, fechar um relatório, sem ouvir quem foi diretamente beneficiado pelos R$ 50 milhões recolhidos do bolso dos servidores de Palmas.
A CPI não pode ser concluída simplesmente para que os vereadores que foram eleitos deputados estaduais deixem a Câmara com a consciência aliviada. É necessário que se aprofunde as investigações e que todas as nuances dessas operações sejam devidamente dissecadas. E isso se faz com tempo, com calma, não a toque de caixa para fechar os trabalhos antes do início da legislatura na Assembleia para atender aqueles eleitos em 7 de outubro.
A Câmara de Palmas deu um passo importante, que o Legislativo estadual, pressionado, não ousou fazer no governo Siqueira Campos, para apurar a roubalheira que ocorreu no Igeprev naquele período. Contudo, precisa fazer o trabalho completo, ter verdadeiro interesse de elucidar o que ocorreu e apontar devidamente os irresponsáveis envolvidos.
E os especialistas têm razão: é impossível fazer todo o percurso desses recursos, apontar responsáveis e fechar um relatório com aquilo que os servidores e toda a sociedade esperam sem que quem se beneficiou diretamente com muito dinheiro dê a sua versão.
CT, Palmas, 6 de novembro de 2018.