Logo após as eleições de 2006, marcelistas empolgados pela vitória sobre o mito declaravam o fim de Siqueira Campos. Quatro anos depois, o ex-governador voltava ao Palácio Araguaia. Marcelo Miranda, cassado em 2009, da mesma forma, também teve o seu fim decretado. No ano seguinte, elegeu-se senador, ainda que não tenha assumido como reflexo da cassação. De toda forma, nas outras eleições, em 2014, conquistou o terceiro mandato de governador.
Como me disse um amigo, o eleitor brasileiro é binário, num ano laureia o 1 e noutro, o 0. Agora já se vê os incautos decantarem o fim da era Carlos Amastha (PSB), candidato, realmente, fragorosamente derrotado pelas urnas no domingo, 7. Em duas eleições consecutivas que disputou para o governo do Tocantins, em nenhuma delas o ex-prefeito de Palmas sequer conseguiu passar para o segundo turno.
[bs-quote quote=”O ex-prefeito de Palmas, se quiser, terá protagonismo garantido no Tocantins por muitos anos porque tem capital político para mostrar e sua presença, incômoda para muitos, é saudável para o Estado” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Não conseguiu eleger seu braço direito deputado federal, o vereador Tiago Andrino (PSB), que ainda viu sua votação minguar em relação a 2014 (38,1% a menos este ano, isto é, quase 40%!) e Amastha foi derrotado pela primeira vez por Palmas, a cidade que o amou por três eleições seguidas — 2012, 2016 e o primeiro turno da suplementar. Resultado mais devastador, impossível. No entanto, é importante “dar a César o que é de César”.
O primeiro ponto a considerar é que o reerguimento do ex-prefeito da Capital está condicionado ao desempenho de seu algoz, o governador Mauro Carlesse (PHS). Com um eleitor binário, se o Palácio Araguaia não apresenta o resultado esperado, Amastha volta a ser cortejado.
Além disso, Amastha tem um imenso capital político a seu favor. Por mais que seus adversários resistam a admitir, reforço que Palmas tem uma dívida histórica com o ex-prefeito. Ele assumiu o comando do Paço num período de baixa estima dos palmenses. A cidade estava largada ao mato quando o pessebista chegou à prefeitura. Como é um vendedor nato, Amastha soube cativar o cidadão, mexer com a autoestima de todos, valorizou a imagem da cidade.
Ninguém vai esquecer o primeiro final de ano da gestão, quando Palmas se iluminou para um Natal mágico. As famílias tomavam as avenidas e canteiros centrais, com os olhos brilhando e o coração cheio de orgulho. Nas redes sociais, todos apresentavam a nova Capital a familiares e amigos de todo o Brasil.
Também houve avanços, sim, e é preciso que se reconheça. O Resolve Palmas, a nova Unidade de Ponto Atendimento Norte (UPA), que recebe todos os elogios de quem já precisou de socorro por lá; a região norte da Capital avançou consideravelmente nesta gestão, as praias estão lindas. Enfim, Amastha tem, sim, o que mostrar, fez um bom governo, mas longe da perfeição megalomaníaca típica da retórica dele. Contudo, ignorar as conquistas de seus cinco anos é cegueira ou mero partidarismo.
A discordância da coluna sobre Amastha é sobre a tal “nova política”. Nesse campo não houve avanços. As práticas não se diferenciaram do que ele, como um excepcional homem de marketing, rotulou de “velha política”. Porém, é preciso dizer que mesmo essa definição maniqueísta de Amastha também deu uma enorme contribuição à democracia tocantinense.
Com essa discussão que iniciou, criando uma barreira gigantesca entre ele e o campo tradicional, um dos principais alicerces de sua derrota, Amastha instigou o debate sobre a necessidade de renovação da política do Tocantins. Ela não ocorreu no domingo, mas houve reflexão a respeito e não tenho dúvida de que uma importante semente foi plantada. A “velha política” agora precisará se reinventar porque teremos essa discussão cada vez mais presente e uma hora vai começar a ceifar carreiras.
Esse debate aberto por Amastha também permitiu o fenômeno Márlon Reis (Rede) do primeiro turno da eleição suplementar. O ex-juiz e advogado pegou o vácuo deixado pela incoerência do discurso e as práticas do ex-prefeito de Palmas. E foi um sucesso de quase 57 mil votos na suplementar.
Dessa forma, decretar o fim da era Amastha no Tocantins é precipitado e um equívoco típico dos apaixonados, como marcelistas do pós-eleições de 2006. O ex-prefeito de Palmas, se quiser, terá protagonismo garantido no Tocantins por muitos anos porque tem capital político para mostrar e sua presença, incômoda para muitos, é saudável para o Estado.
Só precisa aprender com os erros que cometeu. Se fizer o mea-culpa, ainda terá muito a contribuir com o desenvolvimento do Tocantins.
CT, Palmas, 12 de outubro de 2018.