O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) está coberto de razão ao questionar a forma como os governos do PT contrataram os médicos cubanos, que se deu através da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), um braço da Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa entidade mediou, na verdade, o acordo dos petistas com a ditadura de Cuba.
[bs-quote quote=”Essa prática de fazer política pelo Twitter é uma tragédia. Bolsonaro tem que descer do palanque e também sair das redes sociais, que precisam ser administradas profissionalmente, não dessa forma apaixonada. No Tocantins temos exemplo recente para mostrar que, politicamente, isso termina em desastre” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
De 2013 a 2017, o Brasil pagou R$ 7,1 bilhões para ter esses profissionais pelo interior do País. Agora vejam o absurdo: a Opas fica com 5%, repassa apenas R$ 3 mil para cada médico cubano e a diferença do total de R$ 11.520 vai para a ditadura da Ilha dos irmãos Castro.
Para evitar que haja deserções do regime ditatorial, o governo cubano ainda impede que os médicos tragam suas famílias ao Brasil. Ou seja, recebem uma parte ínfima de seu trabalho e seus familiares são reféns dos irmãos Castro. Alguém ouviu alguma histeria de praxe de alguém dos Direitos Humanos?
Os médicos cubanos são importantes para o Brasil, mas esse contrato precisa ser revisto e os profissionais brasileiros têm razão ao exigir o revalida para atestar a qualidade dessa mão de obra. Contudo, precisamos olhar para a outra ponta dessa corda, os pacientes abandonados pelo interior do Brasil, e do Tocantins. O Estado recebeu 141 profissionais pelo programa Mais Médicos, dos quais 101 são cubanos, que atuam em 70 municípios e 10 pólos indígenas.
O presidente da Associação Tocantinense de Municípios (ATM), Jairo Mariano, calcula que dois desses profissionais, numa pequena cidade, fazem em média de 1 mil a 1,2 mil consultas por mês. Assim, Mariano avisa: “Se já temos problemas na saúde, agora vão se ampliar”.
Como equacionar essa questão? Médicos brasileiros querem ficar nos grandes centros. Então, quem vai ocupar esse vazio que aumentará de forma ainda mais preocupante a crise eterna da saúde brasileira?
Não será a primeira vez que o Tocantins passará por esse drama. O ex-governador Siqueira Campos foi pioneiro no País nessa parceria com Cuba para levar médicos para o interior. Ela foi feita ainda no final dos anos 1990. Porém, uma decisão judicial, por volta de 2005, em ação movida pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), mandou que o sucessor de Siqueira, Marcelo Miranda, dispensasse os cubanos. Caberia recurso, mas Fidel Castro se irritou, mandou um avião para o Brasil e os profissionais foram embora.
O interior ficou desassistido novamente. Naquela época eu viajava bastante pelo Estado em coberturas de eventos políticos e conversei com muitos pacientes e enfermeiras que trabalharam com os cubanos. Só ouvi elogios. Tanto no que diz respeito à qualidade do atendimento, à disposição ao trabalho e, sobretudo, pela forma humanizada, carinhosa, com que tratavam as pessoas.
Antes mesmo de sua posse, Bolsonaro criou um enorme problema, humanitário até, para resolver. Conforme a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), com a saída dos 8,5 mil profissionais, 28 milhões de brasileiros podem ficar desassistidos. O presidente eleito poderia ter agido com calma, em silêncio, aguardado a posse, iniciar as tratativas com governo cubano, enquanto buscava alternativas para substituição, caso fosse necessário.
O desastre em relação aos médicos cubanos pode se repetir sobre a mudança da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, com risco de sérios prejuízos econômicos ao País, como retaliação do mundo árabe.
Essa prática de fazer política pelo Twitter é uma tragédia. Bolsonaro tem que descer do palanque e também sair das redes sociais, que precisam ser administradas profissionalmente, não dessa forma apaixonada. No Tocantins temos exemplo recente para mostrar que, politicamente, isso termina em desastre.
No caso de um presidente da República, os efeitos são ainda mais devastadores, como deixa claro esse triste episódio dos médicos cubanos.
CT, Palmas, 16 de novembro de 2018.