A partir desta segunda-feira, 17, faltam apenas 20 dias para as eleições do dia 7 de outubro. É um marco para a intensificação das campanhas, que agora precisam se movimentar mais, mostrar volume e exibir novos aliados para garantir a todos que o candidato cresce absurdamente, como foguete e não como rabo de cavalo. Tudo isso significa investir muito mais recursos financeiros e humanos, com uma cota de sacrifício pessoal e até familiar muitas vezes inimaginável.
É o momento de quem precisa virar a disputa prometer tudo. O eleitor não vai pagar mais taxa de nada, vai sobrar vaga em hospital, emprego todo mundo poderá escolher qual quer e a educação terá excelência a ponto de, enfim, dispensar a necessidade de se transferir os filhos para uma escola particular para que passem numa boa universidade pública.
Sempre vejo esta etapa das eleições como uma demonstração clara de quem está atrás e de quem está à frente. Os ataques ao primeiro colocado se intensificam e as propostas mirabolantes também, sinais claríssimos de que esse candidato come poeira.
[bs-quote quote=”A política é um grande negócio, o mais lucrativo de todos. Por isso, todos querem um mandato, sem o qual não podem entrar no paraíso da vida fácil. Assim, quanto mais conhecimento o eleitor tiver das manobras de que é vítima, como se viu, desde a Roma Antiga, ou antes dela, mais facilmente poderá rechaçar os espertalhões ” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Lembro-me de uma eleição em que os dois líderes da pesquisa estavam bem próximos e o que se viu foi a “batalha das maquetes”. Cada um fazia uma promessa mais fantasiosa que o outro e a materializava com desenhos em 3D, como verdadeiros vendedores de ilusões. “Isso pode ser seu, é só votar em mim”, diziam nas entrelinhas daqueles modelos computadorizados que levavam o incauto eleitor a transitar virtualmente pelo interior de suntuosos hospitais, escolas de primeiro mundo e por aí ia. Óbvio, quem ganhou sequer tirou uma maquete dessas da gaveta.
No verdadeiro vale-tudo em que entraremos nestes últimos 20 dias, a coluna traz ensinamentos da Roma Antiga, resgatados na coluna deste domingo do jornalista Merval Pereira, de O Globo. As lições romanas constam do livro “A campanha eleitoral na Roma Antiga”, do historiador alemão Karl-Wilhelm Weeber. Conforme Merval, nele há referência a um pequeno manual da campanha eleitoral, atribuído a Quinto Túlio Cícero, para orientar seu irmão mais velho, o grande orador Marco Túlio, eleito cônsul em 63 a.C. Confira algumas dicas, conforme o jornalista de O Globo:
1. Prometa tudo a todos. De acordo com o resgate de Merval, exceto nos casos mais extremos, “os candidatos devem dizer o que um determinado grupo quer ouvir”. “Diga aos conservadores que você tem repetidamente apoiado valores tradicionais. Diga aos progressistas que você sempre esteve do lado deles. Depois da eleição, você pode explicar a todo mundo que adoraria ajudá-los, mas, infelizmente, circunstâncias fora do seu controle o impediram.”
2. Importantíssimo, reproduz o jornalista de O Globo: cobre todos os favores. “É hora de delicadamente (ou não tão delicadamente) lembrar a quem ajudou que eles são seus devedores. Se alguém não dever nenhuma obrigação a você, deixe que saibam que o apoio deles agora porá você em débito para com eles no futuro. E depois de eleito você estará em condições de ajudá-los quando eles precisarem.”
3. Atenção, garotos e garotas: não saiam da cidade. “Na época de Marco Cícero, isto significava permanecer perto de Roma. Para os políticos modernos, isto significa estar no lugar certo, fazendo campanha corpo a corpo com os eleitores chave. Não existe dia livre para um candidato sério. Você pode tirar férias depois que vencer.”
4. Questão até de mercado hoje em dia, quando dizem que o cliente sempre tem razão: puxem o saco dos eleitores abertamente. “Marco Cícero era sempre educado, mas podia ser formal e distante. Quinto alerta que ele precisa ser mais receptivo com os eleitores. Olhe nos olhos deles, bata nas costas deles, e diga que eles são importantes. Faça os eleitores acreditarem que você se importa realmente com eles.
5. Essa dica está voltada a certa campanha nascida da carceragem curitibana: dê esperança às pessoas. “Até os eleitores mais cínicos querem acreditar em alguém. Dê às pessoas a sensação de que você pode tornar o mundo delas melhor, e elas se tornarão seus seguidores mais devotados — pelo menos até depois da eleição, quando você irá inevitavelmente desapontá-las. Mas nessa altura isso não fará mais diferença porque você já terá vencido.”
Pensando bem, não há muita novidade no que os romanos antigos faziam nas campanhas eleitorais. Depois deles, vieram ainda Nicolau Maquiavel e outros pensadores para ensinar os políticos como se perpetuar no poder. Todos essas regras valem para direita e para a esquerda, não têm qualquer coloração ideológica.
Resta ao eleitor também aprendê-las para se precaver. A política é um grande negócio, o mais lucrativo. Por isso, todos querem um mandato, sem o qual não podem entrar no paraíso da vida fácil. Assim, quanto mais conhecimento o eleitor tiver das manobras de que é vítima, como se viu, desde a Roma Antiga, ou antes dela, mais facilmente poderá rechaçar os espertalhões que continuam buscando o melhor emprego do mundo.
Afinal, o eleitorado precisa aprender o maior de todos os pensamentos dos políticos: em eleição só não vale perder, de resto, vale tudo.
Palmas, 17 de setembro de 2018.