Essa disputa sobre qual movimento foi maior, se o desse domingo, 26, pró-Bolsonaro, ou se o do dia 15, em defesa da educação, parece aquelas disputas fálicas machistas para ver quem se destaca em centímetros e não em resultados práticos. Desculpem-me a comparação, mas se encaixa. Ambos foram movimentos fortes. Num porque a educação é uma bandeira nacional e noutro porque, com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal extremamente desgastados, o discurso populista conquista adeptos.
[bs-quote quote=”Não acredito que deputados tenham temido o movimento desse domingo a ponto de quererem aprovar a reforma da Previdência o mais rápido possível” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
É preciso considerar que grande parte da eleição de Bolsonaro não se deve a seus séquitos, mas ao anti-petismo. Desde a posse, com polêmicas inúteis e falta de resultados, o governo Bolsonaro, num processo de alta entropia, vem perdendo popularidade desse grupo que não acreditava nele, mas que também não queria o PT de volta. Várias pesquisas mostram isso. Assim, Bolsonaro investe no ânimo de seus seguidores mais fieis, através das redes sociais, com o discurso da “nova política” e com teorias conspiração exdrúxulas embaladas pelos filhos e por seu guru, o auto-proclamado filósofo Olavo de Carvalho.
Foi justamente investindo na força das redes sociais que o presidente conseguiu levar seus seguidores mais fiéis às ruas nesse domingo. O lado positivo é que fortaleceu a bandeira da reforma da Previdência diante da opinião pública, uma proposta impopular mas fundamental para o País. Agora, daí a ter conseguido sensibilizar o Congresso é outra história.
Tudo bem que não sou, digamos, um otimista, nem mesmo um “realista esperançoso”, na definição do saudoso e grande mestre Ariano Suassuna. Mas o fato é que não acredito que deputados tenham temido o movimento desse domingo a ponto de quererem aprovar a reforma da Previdência o mais rápido possível.
Na verdade, o processo é inverso. Quem teme mesmo qualquer movimentação do povo na rua é o Executivo. Porque, se o movimento é contra ele, a popularidade cai, e, se não contiver a sangria, termina como Fernando Collor e Dilma Rousseff. No Parlamento não há temor nesse sentido, sobretudo considerando que o movimento foi forte, mas não a ponto de assustar como os de junho de 2013.
Uma exceção é quando falta pouco tempo para as suas eleições. Foi o que ocorreu na legislatura passada. Com Temer envolto em escândalos de corrupção, o governo perdeu a força para aprovar a reforma da Previdência ainda em 2016 ou no primeiro semestre de 2017. Quando tentou colocar a proposta em pauta já faltava um ano para as eleições de 2018 e nenhum parlamentar queria mais saber de nada que fosse impopular. Para as eleições da atual legislatura ainda faltam quatro anos. Assim, o que temer?
Vejo três grupos em torno da reforma da Previdência no Congresso: aquele que sabe da importância dela para o País e quer aprová-la, o que tem fortes relações com corporações sindicais e optam pelo populismo para rejeitá-la e os que querem aproveitar a impopularidade do tema para faturar. Esse último é o maior e foi o principal alvo das manifestações desse domingo.
Trata-se de um grupo sem escrúpulos e que se mantém frio como um psicopata à “voz roucas das ruas”, numa expressão de FHC. Com a participação direta do presidente da República e seu entorno, que deram gás para que seus séquitos tomassem as ruas, o que pode ocorrer mesmo é que, a partir de agora, a conquista do voto desse grupo extremamente calculista, e com o ego ferido, se torne ainda mais difícil. Ou seja, mais caro.
CT, Palmas, 27 de maio de 2019.