O Brasil virou à direita nas eleições deste ano, o que, como liberal que sou, é motivo para comemoração. Respeito a todos, mas gosto de expressar o que penso. O sujeito que não flertou com a esquerda na época da faculdade, não curtiu a vida. É muito divertido e pedagógico. Agora, se manter à esquerda depois dos 40 anos, é por inocência ou má-fé.
Nessa fase da vida começamos a entender o ser humano e constatamos que a causa dos problemas do mundo não é o regime, mas o homo sapiens. Uma das maravilhas do homem é que cada um é único. Podem ter temperamentos semelhantes, rostos parecidos, o mesmo sangue nas veias. Mas nunca um indivíduo será igual ao outro. Este ano foi muito forte o debate sobre se o fascismo é de direita ou de esquerda. Um fato é inquestionável: fascistas e comunistas pregam o domínio do Estado sobre o cidadão, e o liberalismo, a liberdade do indivíduo.
[bs-quote quote=”A eleição de Bolsonaro pode ser o início de um novo caminho, à direita, com o liberalismo na pauta dos debates nacionais. Mas ainda não é o ideal. Precisamos de uma agenda mais econômica, discutir mais mercado, não uma direita em que o centro dos debates seja tão somente costumes e moralidade” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O comunismo tenta horizontalizar as potencialidades humanas. Como se fôssemos formigas, o Estado comunista, totalitário, arrefece o espírito empreendedor e o dinamismo de seus dominados. Um cidadão com elevado potencial é trancafiado numa fábrica com outro sem as mesmas capacidades. Ambos ganharão os mesmos salários e terão as mesmas oportunidades, mas nunca a elevada energia do primeiro trabalhador poderá ser colocada plenamente à disposição da sociedade. Se dependesse do comunismo, não teríamos praticamente nada do que o mundo moderno capitalista oferece.
Dou o testemunho de quem conheceu o comunismo. O grande jogador sérvio Dejan Petkovic, de passagem memorável pelo meu Mengão, viveu na antiga Iugoslávia socialista. Veja o que ele relatou ao jornal espanhol El País, em junho:
“Eu vivi muito bem no socialismo, mas nem sabia o que isso significava. Era criança. A ideologia é fantástica, mas, na prática, não funcionava. Um exemplo… Tenho amigos que são trabalhadores, muito profissionais. Mas também tenho os que são ‘boleirões’, gostam de vida boa, não querem fazer nada. Imagine se esses amigos recebessem o mesmo que os trabalhadores dedicados? Isso desmotiva quem quer trabalhar. Mas tinha emprego pra todo mundo. Essa era a parte boa do regime socialista, algo que o governo realmente tem de fazer. Criar oportunidades de trabalho. Mas, como as empresas viviam de subsídio, não importava o resultado. A produtividade era baixa. Uma fábrica que poderia operar com 3 mil funcionários tinha 30 mil. Como meu pai dizia: comia a si mesmo”.
Quem está dizendo não é um utópico professor-mestre-doutor, que leu tudo de Marx, Lenin e companhia. É alguém que viveu o chamado socialismo real.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resumiu perfeitamente ao falar da falência venezuelana: “A Venezuela não falhou porque o socialismo foi mal implementado, mas porque ele foi fielmente implementado”.
No entanto, para qual direita devemos ir? O Brasil tomou esse caminho, mas ele não tem uma estrada única. A direita representada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) também é uma via perigosa. Torço para ele dar a volta e tomar uma rua mais bem pavimentada e iluminada, mas o que vejo, a princípio, é uma rota também populista, que tanto fez mal ao Brasil na era PT.
Muitas frases fortes, polêmicas, demonização do comunismo, discussão exclusiva sobre costumes e moralidade, pirotecnia, mãos ensaiando o porte de um fuzil. Mas quase nada de liberalismo. A esperança é que o futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, imponha a agenda liberal ao governo Bolsonaro. Como membro das Forças Armadas, o capitão ainda tem uma tendência ao nacionalismo retrógrado, também uma direção a seguir nada produtiva para um país que quer se desenvolver.
A eleição de Bolsonaro pode ser o início de um novo caminho, à direita, com o liberalismo na pauta dos debates nacionais. Precisamos de uma agenda mais econômica, discutir mais mercado, não uma direita em que o centro dos debates seja tão somente costumes e moralidade. São discussões importantes para que o Estado não invada a vida privada de seus cidadãos, violando a liberdade.
Porém, é preciso muito mais: um percurso estritamente liberal, com a redução do Estado e incentivo ao espírito empreendedor do povo brasileiro. Isso significa avançar nos pontos positivos do governo Temer, como a reforma trabalhista e o teto de gastos. A reforma da Previdência é questão urgente. Depois a tributária, para dar competitividade a um país impedido de disputar mercado com o mundo em condições de igualdade por causa de um Estado caro, cheio de privilégios e ineficiente.
Assim, tomar à direita para ficar exclusivamente discutindo moralidade e costumes é continuar patinando num pântano não muito diferente daquele em que a esquerda nos enfiou.
CT, Palmas, 30 de outubro de 2018.