Quem leu a coluna nessa quarta-feira, 12, não foi surpreendido pela avalanche de reações contrárias às informações plantadas na imprensa por aliados da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), de que as conversas estariam bem avançadas ou fechadas com DEM e MDB. O que veio nas manifestações estava no texto. Essa precipitação foi um grande erro, que gerou desgastes e não dividendos ao projeto de reeleição de Cinthia. O responsável pelas informações plantadas não teve o cuidado de ler o cenário, que está muito óbvio.
[bs-quote quote=”Não será uma missão fácil para a prefeita, porque existem nomes de peso acreditando que essa fragilidade dela — necessidade de formar um grupo — é a grande oportunidade deles de conseguirem chegar ao comando do Paço” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Não se faz articulação via imprensa. Geralmente, “cavamos” muito para conseguir uma movimentação mínima de bastidores em torno de possíveis alianças eleitorais neste momento em que o silêncio deve imperar. Quando essas informações chegam às redações é porque os acordos estão muito bem amarrados, com declarações de ambas as partes e a foto que sela o “casamento”.
Justamente por ser uma faca de dois gumes. Se a aliança é divulgada sem a devida amarração, como forma de pressionar os líderes partidários — o que parece o caso —, podem haver duas consequências: se a legenda é fraca no processo eleitoral, ela pode até aceitar; no entanto, se tem nomes dispostos a encarar a disputa, se tem peso no processo, vem o desmentido, e o que tiro sai pela culatra. Foi o que ocorreu.
Desde o ano passado que a coluna defende que o maior desafio da prefeita Cinthia para 2020 é aumentar sua musculatura política, já que eleição não se ganha apenas com uma boa gestão. É preciso grupo. Contudo, essa conquista só será possível com uma articulação muito competente, habilidosa e que saiba captar o tempo exato de falar e de silenciar.
Não será uma missão fácil para a prefeita, porque existem nomes de peso acreditando que essa fragilidade dela — necessidade de formar um grupo — é a grande oportunidade deles de conseguirem chegar ao comando do Paço. Essa variável vai exigir ainda mais habilidade política, mais cuidados nas manifestações públicas e no relacionamento com a imprensa. Um passo em falso, como o desse episódio, pode fazer os possíveis aliados se blindarem e imporem ainda mais dificuldades ao projeto de reeleição.
Cinthia é uma pré-candidata de peso, forte, por conta da máquina que tem em mãos e pelo volume imenso de investimentos que está recebendo, que pode catapultar sua gestão muito facilmente diante do eleitorado. De outro lado, está ainda só do ponto de vista de líderes de capilaridade.
Muitas críticas, nesse caso, foram feitas ao desempenho do secretário de Governo e Relações Institucionais, Carlos Braga. No entanto, os observadores internos que me alimentam continuam insistindo que a conta não pode recair sobre ele, enquanto o Paço mantiver a crise de comando, com várias cabeças interferindo na articulação política. Do que adianta ter um nome experiente, que conhece por dentro o Legislativo e o Executivo, como Braga, e reduzir seu espaço de atuação ao dar ao competentíssimo — diga-se — secretário de Finanças, Guilherme Ferreira, o poder de articulação e coordenação política através da presidência do Comitê de Governança, órgão do qual o secretário de Governo sequer faz parte? A cabeça dos aliados fica confusa: em última instância, quem realmente tem poder e autoridade para articular? Braga ou Ferreira? Quem se deve procurar? Cinthia precisa resolver esse conflito de prerrogativa.
Sobre o episódio, como a coluna já havia antecipado, os partidos não vão se posicionar um ano antes das convenções. Se cedessem, teriam que renunciar a seus projetos de candidatura própria e se tornarem, de certa forma, reféns do projeto do Paço. É um tipo de decisão que só se toma aos 49 do segundo tempo. A não ser quando se trata de partido pequeno, sem propósito, a não ser conseguir empregos para seus dirigentes.
Fala-se que a deputada federal Dorinha Seabra Rezende (DEM) pode indicar um nome para a Secretaria da Educação da prefeitura, que a deputada federal Dulce Miranda (MDB) para a Assistência Social e que o senador Eduardo Gomes (MDB) para a Fundação de Esportes.
No entanto, é certo que, se isso ocorrer, serão indicações pessoais e não de seus partidos, que podem, ou não, estar na reeleição de Cinthia no ano que vem, ainda que tenham colocado fortes resistências. O que é certo é que isso não será decidido um ano antes.
CT, Palmas, 13 de junho de 2019.