O poderoso secretário estadual da Infraestrutura, Habitação e Serviços Públicos, Claudinei Aparecido Quaresmin, sentado à cabeceira da mesa era a presença física do Palácio Araguaia na reunião do deputado estadual Toinho Andrade (PHS) com seu grupo na noite dessa quarta-feira, 30. Não existe outra leitura possível: o governo Carlesse não entrou na eleição da Assembleia, ele simplesmente a invadiu.
Não sem razão. A presidência da Assembleia é fundamental para garantir tranquilidade e segurança ao Executivo e agilidade, ou não, quando conveniente, à tramitação das matérias de interesse do governo. Um presidente do Legislativo tem a capacidade de ajudar ou de atrapalhar.
[bs-quote quote=”Carlesse sabe de cátedra a importância de colocar um aliado da mais estrita confiança na presidência da AL. Por isso, não tinha como não entrar na eleição da Mesa” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O próprio Mauro Carlesse (PHS) que o diga. Sua gestão à frente da Assembleia assombrou durante todo o período de cerca de um ano e meio o governo Marcelo Miranda (MDB). Ele se elegeu em meados de 2016 e tomou posse em fevereiro de 2017. Na época da disputa da presidência da Mesa, a cúpula governista se dividiu entre Carlesse e o então titular do cargo, Osires Damaso (PSC).
Nos bastidores, o que se dizia era que o ex-secretário estadual de Infraestrutura Brito Miranda, muito experiente e com olhos de lince, preferia Damaso, que, à frente do Legislativo, havia garantido a estabilidade que Marcelo precisava; a então primeira-dama e deputada federal Dulce Miranda (MDB) apoiou Carlesse. O governador se manteve distante.
Carlesse venceu e montou uma oposição — que chamava de independência — a Marcelo. A primeira coisa que fez ao assumir foi desengavetar o pedido de impeachment do então governador. Ainda teve o caso das MPs que não foram votadas no prazo, tirando até o subsídio do óleo diesel para o transporte público; e o total desvirtuamento dos projetos de empréstimo junto à Caixa e ao Banco do Brasil para agradar prefeitos. E ainda dá-lhe pressão para receber as malfadadas e indigestas emendas parlamentares. Tudo numa constante queda-de-braço com o Palácio.
Assim, Carlesse sabe de cátedra a importância de colocar um aliado da mais estrita confiança na presidência da AL. Por isso, não tinha como não entrar na eleição da Mesa.
Ao pôr 21 dos 24 deputados na reunião de Toinho, inclusive alguns tidos como possíveis eleitores da atual presidente Luana Ribeiro (PSDB) — como os do PV, Issam Saado e Cláudia Lelis —, e entronizar no encontro seu homem forte, Claudinei Aparecido Quaresmin, como avalista dos acordos, o governador Mauro Carlesse estava claramente dizendo que aquela era uma chapa essencialmente governista.
O resultado deve ser uma vitória de Toinho altamente expressiva nesta sexta-feira, 1º, o que confirmará o que a coluna já disse, que Carlesse terá a mais ampla base aliada na AL dos últimos oito anos. Em meio à enorme crise em que o Estado se afundava, os governos Siqueira Campos (2011-2014) e Marcelo Miranda (2015-2018) não conseguiram construir uma bancada sólida.
Num determinado momento, Siqueira teve que colocar um suplente — Carlão da Saneatins (PSDB) — como líder do governo porque os demais não queriam assumir a função. Marcelo era criticado em todas as sessões pelos parlamentares, e não havia um aliado que saísse em sua defesa.
Com a passagem pelo Parlamento e cercado de políticos ainda mais experientes que ele próprio, como o vice Wanderlei Barbosa (PHS), Carlesse preferiu não dar sorte para o azar e, 48 horas antes da eleição da Mesa, acionou o tratoraço e atropelou a atual presidente Luana Ribeiro.
CT, Palmas, 31 de janeiro de 2019.