A revelação do senador tocantinense Ataídes Oliveira (PSDB) de que já havia alertado para a possibilidade da tragédia de sexta-feita, 25, na barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, e em outras três de Minas Gerais mostra a falta de compromisso das autoridades brasileiras com a segurança da população. O alerta foi feito em meio à dor do País com tragédia semelhante ocorrida também na cidade mineira de Mariana. Mas nem isso foi capaz de sensibilizar nossas autoridades a agir para evitar mais mortes de brasileiros.
Só confirma que, para a classe política em geral — e, claro, que aí existem honrosas exceções à regra —, a população é um mero meio, na verdade, um obstáculo a ser ludibriado, para se alcançar o poder. Quando se assume o mandato, o único objetivo é usá-lo para negociatas em geral, enriquecimento pessoal, e tudo o que as operações policiais têm revelado à Nação.
[bs-quote quote=”Essas empresas são extremamente poderosas, com tentáculos em todo o meio político. Podem calar autoridades à base do dinheiro. Quando constatamos que vivemos um momento em que faltam homens públicos comprometidos com o País, é juntar a fome com a vontade de comer, ou o corruptor com o corrupto” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
É surreal imaginar que, após Mariana, não houve uma alteração sequer para tornar nossa legislação mais rigorosa contra executivos como os da Vale, empresa já passou de todos os limites no que diz respeito à responsabilidade, e dirigentes de órgãos públicos responsáveis pelo funcionamento e fiscalização dessas barragens. Não existe demonstração mais clara de falta de compromisso do Congresso Nacional com o País do que essa terrível constatação.
No final de semana, um especialista disse à imprensa que o que ocorreu em Brumadinho não foi um acidente, mas um crime. Ele explicou que acidente é quando havia planos previstos para todo o tipo de eventualidade imaginável, mas, apesar disso, a barragem rompeu. No caso, disse o especialista, não havia qualquer plano para nenhum tipo de eventualidade. Então, concluiu, o que correu em Minas foi simplesmente criminoso. Endosso cada palavra.
Concordo com o senador Ataídes. O que vai fazer essa gente ter mais responsabilidade é tornar a legislação extremamente rigorosa, impondo multas milionárias e bilionárias não só às empresas, mas também é preciso tomar o patrimônio de seus dirigentes. Mais: meter nessa gente 50 anos de cadeia. É assim que se resolve. Qualquer outra medida, é só para fazer uma cortina de fumaça diante de uma opinião pública indignada.
Essas empresas são extremamente poderosas, com tentáculos em todo o meio político. Podem calar autoridades à base do dinheiro. Quando constatamos que vivemos um momento em que faltam homens públicos comprometidos com o País, é juntar a fome com a vontade de comer, ou o corruptor com o corrupto.
O que fez que com a tragédia de Brumadinho ocorresse foi a impunidade de Mariana. Essa mesma impunidade pode dar vez a mais três tragédias em Minas Gerais em dois ou três anos, como alertou o senador Ataídes, com base em estudos e depoimentos de especialistas. Até quando seremos este País de mentalidade subdesenvolvida?
E aqui no Tocantins? Como estão as fiscalizações sobre as barragens que existem? Sobre a da Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães, de Lajeado, Ataídes não teve dúvidas ao dizer ao CT que não existe por lá qualquer tipo de fiscalização. E ressaltou sobre o que ocorrerá se essa barragem romper: “Não sobra nada de cinco ou seis cidade abaixo dela”.
Repito a pergunta: até quando seremos um país de mentalidade subdesenvolvida?
CT, Palmas, 28 de janeiro de 2019.