Voltava de São Luís (MA), onde passei uma semana de férias com a família, em janeiro de 2011. Mal entrei em casa e um amigo me enviou uma mensagem assustadora: o recém-empossado governador Siqueira Campos exonerou cerca de 20 mil comissionados. Retirei as malas do carro rapidamente e fui em disparada para a Redação do CT.
A equipe já estava no tema, todo mundo louco atrás de mais informações, um desespero enorme entre os servidores exonerados, uma grande tristeza. Ninguém tem o que comemorar quando isso ocorre. Não há prazer, é uma lástima, um drama social para milhares de famílias que terão que buscar espaço num mercado de trabalho que não é tão elástico.
[bs-quote quote=”Assim, os dois primeiros anos de governo são fundamentais para o reequilíbrio das contas do Estado. Não há saída fácil, que não exija sacrifício de todos. As medidas para esse ajuste vão impor ao governador Mauro Carlesse (PHS) talvez o maior desafio em sua vida como gestor” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
De toda forma, a medida drástica de Siqueira mostrou, naquele momento em que ocorria, seriedade do novo governador com a coisa pública. Houve outra leva de exonerações, que ampliava o enxugamento para 25 mil comissionados.
Fontes da Secretaria Estadual de Fazenda diziam que, com salários, encargos, plano de saúde e Igeprev, essa redução significaria algo em torno de R$ 60 milhões de economia mensal ao Estado. Numa conta de padeiro, daria um alívio ao Tocantins de R$ 720 milhões ao ano e de R$ 1,44 bilhão até o final do primeiro biênio do governo.
Claro que haveria necessidade de pensar os serviços públicos, que não poderiam ser interrompidos por conta da economia de pessoal. No entanto, se mantivesse essa situação, a redução de gastos poderia até se estender um pouco mais, considerando menos despesas com energia, telefones, combustível e diárias.
Era o início da reorganização do Estado, que ainda precisava chamar os Poderes para uma conversinha. Se eles aderissem, mais economia seria gerada. O governo também teria que rever os alugueis para garantir renda gorda aos amigos do “rei”, contratos, no mínimo, obscuros de consultorias e processos administrativos burocráticos, ineficazes, que só encarecem as contas públicas.
O que significaria isso na prática? Dois anos de sacrifícios enormes para a população, sim, verdade. No entanto, ao final desse período, teríamos um Estado enxuto, e com grande parte da capacidade de investir recuperada. Era manter uma política austera de controle das contas a partir daí e o Tocantins, enfim, se reencontraria e recomeçaria a avançar.
Infelizmente, o governo Siqueira não conseguiu segurar essa primeira medida de austeridade, cedeu à pressão dos deputados, dos prefeitos e aliados diversos. Logo o CT estaria publicando que o governo voltara a recontratar. Na época, parlamentares de oposição e sindicatos diziam que o Palácio elevou os salários de parte dos comissionados. Assim, contratava até menos, mas com ganhos mais robustos. Foi nesse período que o então governador soltou a frase que ecoa até hoje: “Sou um gerentão de folha”. Todos os sucessores continuam sendo.
Dessa forma, os dois primeiros anos de governo são fundamentais para o reequilíbrio das contas do Estado. Não há saída fácil, que não exija sacrifício de todos. As medidas para esse ajuste vão impor ao governador Mauro Carlesse (PHS) talvez o maior desafio em sua vida como gestor. É preciso coragem para enfrentar a pressão que virá dos aliados, dos atingidos diretamente com as medidas saneadoras e dos oportunistas que sempre apostam no quanto pior melhor para faturar eleitoralmente.
No entanto, se não recuar, se enfrentar a tudo e a todos com firmeza, com responsabilidade e espírito público, não há a menor dúvida de que terminará um governo bem-sucedido.
Com o recuo do governo Siqueira, a gestão chegou ao final aos tropeços com um enorme desgaste, que teria sido evitado se, na época, o Palácio tivesse se mantido na linha da austeridade que com a qual iniciara a gestão.
Temos que aprender com a história.
CT, Palmas, 24 de outubro de 2018.