Eleição é um dos desafios mais complexos no rol das atividades humanas. Convencer milhares e milhares de pessoas de que você está à altura para representá-las exige uma série de requisitos pessoais e ainda depende de inúmeros fatores externos. Dentre esses últimos, o mais básico é um longo convívio com a comunidade votante. Está aí, possivelmente, o principal motivo de o ex-subprefeito da Região Sul de Palmas Adir Gentil (Podemos) ter se convencido de que não conseguiria votos suficientes e, por isso, jogou a toalha e desistiu de sua candidatura a deputado federal.
A justificativa de que deixou a disputa para coordenar a campanha de governador do ex-prefeito da Capital Carlos Amastha (PSB) é mera desculpa. Só desiste de candidatura quem não tem voto. Alguém pode dizer que também por falta de recursos financeiros. Quem tem votos arruma o dinheiro.
[bs-quote quote=”É bom lembrar que Amastha tem em sua coligação dois candidatos à reeleição a deputado federal, e fortíssimos: Vicentinho Júnior (PR) e Dulce Miranda (MDB). Dessa forma, tentando fazer seus dois principais aliados, Adir e Andrino, acabaria sendo derrotado nas duas tentativas” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
A candidatura de Adir só faria dividir os votos e prejudicar a campanha de outro braço direito de Amastha, o vereador de Palmas Tiago Andrino (PSB). Como o parlamentar já tinha feito uma excelente tentativa a federal em 2014, quando obteve incríveis 36.397 votos, a impressão de quem está olhando de fora é de que o candidato a governador do PSB decidiu focar. Aquela história: entregar os anéis para não perder os dedos, ou melhor um na mão do que dois voando.
Uma campanha de federal é altamente dispendiosa e absolutamente competitiva. Assim, para quem já encontra dificuldades para reverter um resultado totalmente desfavorável na eleição majoritária, melhor, pelo menos, salvar alguma coisa de 2018.
É bom lembrar que Amastha tem em sua coligação dois candidatos à reeleição a deputado federal, e fortíssimos: Vicentinho Júnior (PR) e Dulce Miranda (MDB), além de Osires Damaso (PSC), que tenta trocar a Assembleia pela Câmara. Dessa forma, tentando fazer seus dois principais aliados, Adir e Andrino, acabaria sendo derrotado duas vezes. Tudo indica que foi neste contexto que se optou pela desistência de Adir, uma vez que, como foi dito, Andrino já carrega uma histórico até muito bem-sucedido para quem foi candidato pela primeira vez e ainda tem uma base sólida em Palmas, onde foi o segundo mais bem votado em 2016.
Adir é o grande articulador da trajetória meteórica de Amastha. Esteve por trás da surpreendente estreia como prefeito em 2012, e foi o grande guru da gestão do pessebista. Contudo, o erro absurdo de estratégia para 2018 é um fato que não se sabe se é obra exclusiva de Amastha, por seus rompantes nas redes sociais, ou se houve a co-participação do ex-subprefeito de Palmas.
De toda forma, ambos apostaram na estratégia de vencer as eleições apenas com os principais colégios eleitorais, uma demonstração clara de que desconhecem totalmente a geopolítica tocantinense. O que parece que é Adir embarcou nesta única via possível depois de seu chefe comprar a briga inglória com toda a classe política tocantinense, devidamente rotulada, em sua maioria, nos acessos facebookianos, de “vagabunda”.
O que Adir, com toda a sua experiência na política catarinense, poderia fazer depois desses estragos, se não restringir a estratégia aos redutos de eleitorado mais independente, ou seja, os principais centros urbanos tocantinenses? É o que foi feito, obtendo o resultado óbvio e decantado por dois anos nesta coluna.
Após a derrota ainda no primeiro turno da suplementar, tentou-se corrigir a rota, mas já era tarde. Os estragos da verborragia virtual foram indeléveis. Se Amastha tivesse “varrido pra dentro”, após as eleições de 2016, o que significaria se tornar pólo de atração e não de repulsa da classe política, seu desempenho nas eleições suplementar e de outubro seria outro, e teria se tornado um candidato difícil de ser batido, em função de suas vitórias na Capital, da excelente aprovação da gestão e do domínio do marketing pessoal.
Contudo, como se comportou como um homem-bomba cujo alvo era ele mesmo, não conseguiu corrigir a rota após a suplementar. A situação dele, também antecipada por esta coluna, era a seguinte: se se mantivesse no discurso purista (“quase todos são vagabundos”) não ganharia capilaridade, mas se flexibilizasse o discurso radical também não adiantaria, porque perderia o eleitor que acreditou que ele era o “novo” e ainda não atrairia o que chamava com desdém de “velha política”. Optou pela segunda via e caminha para o mesmo fim da suplementar.
Assim, por mais que o barriga-verde Adir Gentil seja um excepcional articulador, e todos o elogiam nesta área, pouco pôde ou poderá fazer para consertar os erros de seu candidato já na largada, após a vitória de 2016.
Pelo menos, o grupo dará mais competitividade a Tiago Andrino.
CT, Palmas, 19 de setembro de 2018.