As oposições se reunirão na chácara da senadora Kátia Abreu (PDT) às 10 horas desta sexta-feira, 6, com o objetivo de definir o projeto desses grupos de perfis múltiplos e, muitas vezes, contrastantes. O desafio é conseguir o consenso para enfrentar o governador eleito Mauro Carlesse (PHS) nas eleições de outubro, que saiu do segundo turno da suplementar turbinado por 368 mil votos, pela maior diferença entre candidatos de todas as disputas do Tocantins, um número enorme de líderes na base e ainda com a máquina do Estado a seu favor. Não é uma missão fácil.
Diante dessa empreitada hercúlea, as oposições precisam se unificar, o que por si só não é algo simples diante da miríade de interesses diversos e antagônicos em questão; definir um projeto que atraia o eleitorado e um nome que possa congregar todas as variáveis envolvidas. Considerando os votos válidos dirigidos aos candidatos da suplementar, mantendo-se os elevados índices de “não voto” — abstenções, brancos e nulos — e ainda a participação, direta ou indireta, da máquina do Estado no processo, ficará muito difícil para os adversários de Carlesse reverterem o resultado em outubro. É uma constatação praticamente matemática, como mostram as análises diversas publicadas pela coluna.
[bs-quote quote=”Resta saber se as vaidades e egos envolvidos vão permitir que cada um se veja de acordo com a realidade do cenário político do Estado, e conforme o tamanho que realmente tem para a disputa, e que não faça a avaliação pelo que vê pavoneado diante do espelho” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Contudo, o governo do Estado precisará manter sua base unida até as eleições, e a formação das chapas majoritária e proporcionais será um grande teste neste sentido. Essa coesão ainda passa pelo cumprimento dos compromissos feitos na eleição suplementar. Se Carlesse atender esses dois pré-requisitos se tornará um candidato quase imbatível em outubro pela configuração do modelo político-eleitoral do Estado, pelo qual os eleitores seguem a orientação do líder.
Às oposições, porém, cabe executar a única estratégia que pode mudar os rumos do processo eleitoral de 2018: reverter o “não voto”. Elas precisam convencer esse eleitor desmotivado, indignado e desacreditado na política a comparecer às urnas e votar no seu representante. Isso foi inteligentemente percebido pela senadora Kátia Abreu, que encomendou uma pesquisa qualitativa sobre o que quer esse eleitor apático. Os resultados serão apresentados aos participantes da reunião desta sexta-feira.
O “não voto” somou 443.414 eleitores (43,5% do total) no primeiro turno e 527.868 no segundo (51,8%), um crescimento de 19% de um período para o outro, baixo para uma eleição que tinha sete candidatos, dos quais só dois foram para disputa final. Basicamente, parte dos eleitores mais críticos, que tinham acompanhado Carlos Amastha (PSB) e Márlon Reis (Rede).
Isso significa que essa massa de “não votos” é quase estática. Deve se reduzir um pouco em outubro, com o engajamento que será provocado pelas campanhas de deputados estaduais e federais. Mas ainda assim tende a continuar alta, confirmando que esse grupo de eleitores não se sente representado por ninguém na disputa.
Qual a ideia que a Kátia demonstra ter em mente? Entender o que pensa e o que quer esse eleitor, e, a partir disso, definir um projeto de governo e um perfil de candidato que atenda as expectativas. A senadora está corretíssima. É a única saída possível para as oposições: convencer esse eleitor de que os adversários ao Palácio Araguaia possuem um projeto e um candidato que verdadeiramente possa representar os desanimados com a política.
A questão então vai girar em torno de qual projeto e de qual candidato. A própria Kátia vem dois insucessos eleitorais, apesar da vitória extremamente estreita de 2014. Nesta suplementar viu sua votação minguar. Em Palmas, por exemplo, mesmo com dois grandes puxadores de votos — Raul Filho (PSD) e Sargento Aragão (Patriotas) — foi a quarta colocada, com apenas 8,29% dos votos. O resultado pífio se repetiu por todo o Estado, sobretudo nos maiores colégios eleitorais.
Carlos Amastha vive o drama de ter falado demais e agora não pode desdizer. Atacou pesadamente os líderes tocantinenses, colocando a maioria no saco dos “vagabundos” e não consegue a capilaridade que precisa para se tornar um candidato verdadeiramente com condições de vencer. Com a radicalização cega da verborragia sectária do “nós e eles”, se hoje receber aqueles que criticava duramente em seu palanque perde discurso e também grande parte do eleitor que pensava que ele era diferente.
O senador Vicentinho Alves (PR) saiu do segundo turno menor do que no primeiro (127.758 contra 121.908, ou -4,6%), numa campanha excessivamente denuncista e profundamente antipática. Será difícil para ele, neste momento, partir para outra candidatura ao governo. Mas provável que tente a reeleição no Senado.
Essa é uma definição que precisa ser feita internamente com os olhos voltados para o público externo, em que os líderes devem demonstrar a grandeza de ceder, o que exige desapego ao poder. Resta saber se as vaidades e egos envolvidos vão permitir que cada um se veja de acordo com a realidade do cenário político do Estado, e conforme o tamanho que realmente tem para a disputa, e que não faça a avaliação pelo que vê pavoneado diante do espelho.
Buscar os “não votos” é a única forma de as oposições reverterem um já previsível resultado das eleições de outubro. Qualquer outro caminho que escolherem, todos sabemos onde vai dar.
Palmas, 5 de julho de 2018.