O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, decidiu antecipar o fim de seu mandato, que só ocorreria no final do semestre, e, em carta na terça-feira, 24, anunciou que está deixando o cargo. Ele presidia a legenda desde 2019.
Em crise, nas eleições presidenciais do ano passado, pela primeira vez desde a sua criação em 1988, o PSDB acabou não tendo candidato, apesar de ter feito uma prévia para escolher seu nome na disputa. O vencedor foi o então ex-governador de São Paulo João Dória, que derrotou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
A vice-presidente nacional do PSDB é a deputada federal por São Paulo Bruna Furlan.
Confira a íntegra da carta-renúncia de Bruno Araújo:
Prezados colegas de longa jornada
É com imenso orgulho que me despeço neste momento da presidência do meu partido, do meu único partido, o PSDB.
Orgulho porque tenho a consciência da nossa importância para a história e o desenvolvimento do Brasil. Orgulho porque sei que passarão décadas e décadas, e nossa marca, nossas conquistas e valores ficarão.
Tive sorte de sempre acompanhar a trajetória desse partido. Aos 18 anos, já participava da equipe de transição do então governador eleito de Pernambuco, Joaquim Francisco, e na sequência fazendo parte do seu gabinete. Com 27 anos, assumia a presidência da Assembleia Legislativa do meu estado. Aos 39, assumia a liderança da nossa bancada na Câmara dos Deputados. Fui Ministro das Cidades, reequilibrando as contas e retomando obras em mais de 4 mil municípios brasileiros, criando a nova lei de regularização fundiária, elevando pela primeira vez a identificação oficial do brasileiro ao celular – CNH Digital – e encaminhando ao Presidente da República a proposta que se transformou na primeira medida provisória a inaugurar no Congresso Nacional o tema do Marco Legal do Saneamento. E assumi, aos 47 anos, a presidência do único partido pelo qual disputei todos os meus mandatos.
Atravessamos, sim, muitos momentos difíceis, isto é inegável. Mas são dos percalços, dos altos e baixos da longa trajetória da vida pública. Iremos superar todos.
O que ainda importa é que nossos pensamentos, nossas propostas históricas, estão aí, sendo discutidos pela sociedade, com vigor, com urgência.
O Brasil que clama por democracia sabe que nossos primeiros líderes estiveram na linha de frente da luta contra a ditadura no país. Pagaram por isso antes de serem devidamente reconhecidos. Nós pegamos suas bandeiras para entregar às novas gerações. Fernando Henrique Cardoso, Mario Covas, André Franco Montoro, José Richa – são gigantes que nos antecederam. Precisamos, ao mesmo tempo, olhar para frente e nos espelhar neles.
O Brasil, que infelizmente ainda possui milhões de pessoas na miséria e não consegue superar de vez a desigualdade, tem consciência de que nós fomos responsáveis por importantes ações e programas que tornaram essa chaga muito menor.
O Brasil que viveu a inflação e o desequilíbrio das contas públicas guarda na memória que membros do nosso PSDB foram responsáveis pelo maior programa de estabilidade da nossa história, que derrubou a inflação e colocou milhões no mercado de consumo. E toda vez que os governos que nos sucederam tentaram se afastar de nossa trilha, o resultado foi trágico.
Nós também modernizamos o Estado, as relações do Brasil com o mundo, a infraestrutura. Em vários estados que governamos, revolucionamos. Vejam os números de São Paulo, em desenvolvimento, na segurança pública, nas últimas três décadas.
Somos talvez o único partido do Brasil que combina preocupação social com responsabilidade econômica e liberdade de comportamento das pessoas. Ao mesmo tempo, sem dogmas!
Meu orgulho é ainda maior quando sabemos que a liderança do partido será entregue a novas e promissoras lideranças, que estão representadas na figura do jovem e brilhante governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Boa sorte, Eduardo! Que Deus o ilumine!
Terá ao seu lado governadores também jovens e com um longo futuro na vida política nacional: Raquel Lyra, a primeira governadora eleita da história do meu estado, Pernambuco, e Eduardo Riedel, do próspero e promissor Mato Grosso do Sul.
Teremos uma bancada coesa e aguerrida tanto na Câmara quanto no Senado. Um partido organizado, com as finanças estruturadas, sem débitos e com capacidade para planejar e executar os próximos passos. Temos deputados estaduais, prefeitos e vereadores em todo o Brasil. Os segmentos das mulheres, da diversidade, do Tucanafro. Sem falar dos nossos militantes, tão engajados, com tanta garra.
…
Há momentos em que é impossível não olhar para o passado.
Foram tantas batalhas que nós, tucanos, travamos nessas três décadas. As reformas que tornaram nossa economia mais moderna, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a criação dos primeiros programas efetivos de transferência de renda, o impeachment que nos livrou do colapso econômico e político. A oposição responsável e construtiva nos anos do PT, que eleitoralmente teve um custo para nossos líderes.
Fizemos também parte do anteparo democrático que evitou abusos autoritários do último governo. A cada avanço indevido, nós nos manifestamos e agimos: alto lá!
É preciso também lembrar que num governo tão turbulento, como o último, os maiores avanços ocorridos se devem a integrantes do PSDB: a reforma da Previdência e o Marco do Saneamento, sempre relatados por parlamentares tucanos.
Não tenho nenhuma dúvida de que muitos avanços sociais, econômicos e institucionais que o Brasil tem e manteve se devem ao PSDB. Precisamos ser altivos para defender nosso legado a todo momento!
O necessário processo de prévias partidárias foi turbulento, admito. Mas mostrou a imensa atenção que o PSDB recebe da sociedade brasileira. Pagamos o preço da ousadia, do pioneirismo, foi uma aposta na democracia.
As divergências entre nós têm sido inúmeras, desde a fundação, em 1988. É o preço de sermos de um partido onde nunca houve um chefe, mas de iguais que debatem e lutam por cada ponto, cada vírgula, talvez até demais. Precisamos também aprender com nossos erros.
O momento agora é de novos desafios. Temos nomes, temos entregas, temos conquistas que nos colocam novamente na disputa pela presidência da República. Podemos sim sonhar alto.
Temos o enorme desafio de ser uma oposição que nunca pode ser confundida com todos aqueles que desprezam a ordem democrática. Temos o desafio ainda maior de buscar de volta milhões de eleitores que já foram nossos, que tinham orgulho de votar 45.
Buscar o equilíbrio num país que flertou com os extremos. Conquistar pela razão, mas também pelo afeto e pela emoção. Pela esperança.
Conseguiremos? Sim, eu acredito nisso. Pelo simples motivo de que entre nós estão as pessoas, as ações e as ideias necessárias para que o País supere de vez tantas crises simultâneas que nos atingem há tanto tempo.
É hora de, mais uma vez, arregaçar as mangas. E, como sempre, contem comigo!
Bruno Araújo