O governador Mauro Carlesse (DEM) é o último participante do quadro Conversa de Política de 2020. Ele falou sobre o ajuste fiscal do Estado e garantiu que não vai abrir mão da austeridade. Também respondeu sobre a relação com a Assembleia e com a bancada federal, sobre a pandemia da Covid-19 e ainda sobre as eleições de 2022. “Provavelmente eu termino o meu mandato em dezembro de 2022”, afirmou Carlesse, que é cotado como candidato a senador, para o que teria que renunciar em abril do ano das eleições estaduais. Contudo, o governador avisou que vai continuar trabalhando e só lá na frente” decidirá, mas que seu sentimento hoje é de permanecer até o final do mandato.
Sobre a minirreforma que anunciará no início de janeiro, Carlesse revelou à Coluna do CT que, na minirreforma do início de janeiro, vai desmembrar o Planejamento da Secretaria Estadual da Fazenda. Segundo ele, os primeiros dois anos de gestão foram para dar estabilidade ao Estado e reenquadrá-lo à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A meta agora é melhorar as condições de trabalho e alcançar as metas que serão estabelecidas para cada área.
Direitos dos servidores
O governador afirmou que uma lei federal impede neste momento qualquer reajuste ou progressão aos servidores, como contrapartida do Estado para o auxílio do governo federal na pandemia. No entanto, garantiu que, com o ajuste feito por sua gestão, já há uma margem de cerca de 4 pontos percentuais dentro que estabelece a LRF para começar a pagar direitos trabalhistas congelados no pacote de ajuste das contas estaduais — o Estado anunciou que neste momento chegou a 42% do comprometimento de Receita Corrente Líquida com folha, e o limite de alerta é de 46,55%. “Estamos aguardando as condições legais e estou mais ansioso que os servidores”, afirmou, dizendo que, assim que a lei permitir, vai chamar as classes para conversar.
Um tema que Carlesse disse que o preocupa são os passivos já decididos pela Justiça e que podem ter que ser pagos a qualquer momento, como o caso dos 25% e a diferença de URV de parte de policiais militares. Ele citou também a PEC dos Pioneiros, do ex-senador Vicentinho Alves (PL) e que o deputado federal Vicentinho Júnior (PL) trabalha para ser aprovado pela Câmara. “São contas bilionárias. Só a PEC dos Pioneiros dá R$ 11 bilhões. Acha que isso é possível? Tenho feito com que a Procuradoria seja mais ativa, mais firme, para não deixar o Estado cair numa situação dessa porque não tem como segurar”, disse o governador, que disse não concordar com a conta apresentada por Vicentinho Júnior de que o impacto seria de apenas R$ 71 milhões.
Apoio de Bolsonaro na pandemia
Carlesse disse acreditar que o Estado já poderá começar a vacinar a população contra a Covid-19 a partir de fevereiro. “O Tocantins é um Estado pequeno. Muito rápido nós vamos estar imunizando pelo menos boa parte da população, priorizando a de risco. Estamos preparados. Já temos a seringa e estamos preparando os funcionários para, junto com os municípios, fazer um rápido atendimento dessas pessoas”, contou.
O governador afirmou que não tem do que reclamar, “mas só agradecer o governo Jair Bolsonaro” pelo socorro ao Estado nesta pandemia. “Se algum governador reclamar que faltou recurso e assistência para os Estados, ou é adversário político ou não está normal, porque tivemos todo o apoio do governo federal. Financeiro, a compensação da perda de ICMS, o auxílio emergencial foi fundamental, recursos para mais de 1 milhão de kit alimentação para o Tocantins, implantação de UTIs, que precisa de aprovação do ministério. Eu aqui, no Estado, não posso reclamar, só tenho que agradecer”, disse.
Alguns congressistas zangaram
Ele contou que consegue manter uma boa relação com a Assembleia, onde conseguiu aprovar até os projetos mais polêmicos e desgastantes, porque não tem “vaidade política por ser governador” e que sempre dialogou com todos, inclusive os demais Poderes. Já sobre a bancada federal, com quem a relação do Palácio é instável, Carlesse disse que isso se deve ao fato de ele ser novo na política — “tem alguns que são adversários e, como entrei na política muito recente, não me respeitam como governador, mais ou menos isso” — e ainda porque “acham que continua naquele mesmo jeito antigo, de ter secretaria, de ter uma quantidade de pessoas deles”. “E eu não deixei. Todos os nossos secretários são indicados por mim. Não tem um secretário aqui que seja indicação de fulano ou de sicrano. Aqui dentro do Estado todo mundo entendeu isso; fora não entenderam. Acharam que teriam que essa preferência”, contou.
O governador disse que não deixou porque sabia que teria uma administração que “não seria fácil, mas dura”. “E eu tinha que ter o poder de mando para fazer com que os objetivos fossem atingidos. Não que eu tenha algo contra. Tem muitas pessoas boas indicadas por políticos. Mas nesse momento eu não deixei. E alguns deles zangaram. A Dorinha queria a Educação, eu não deixei; o Vicentinho Júnior queria não sei o que, eu não deixei; e assim por diante”, apontou.
Demagogia
Ele disse que vê “com naturalidade” a lei de autoria do Executivo que prevê segurança de PMs para ex-governadores. “Tenho a condição de continuar ou não na política, e agradei e desagradei muita gente. Para consertar o Estado, tivemos que tirar empresas que não faziam nada, que estavam enraizadas. E eu tenho essa preocupação. Para mim, contratar segurança e pagar não muda nada. O que muda é ter uma segurança com qualidade, com o nível que tem uma Polícia Militar”, defendeu.
Sobre o fato de ex-governadores terem dito que não querem a segurança da PM, Carlesse apontou que existe aí uma dose de demagogia. “Vi alguns ex-governadores dizendo que não precisam, não querem, abrem mão. Vai lá na porta da casa deles e veja quantos policiais têm lá cedidos pelo Estado. Então, é demagogia. E não vejo nenhum constrangimento”, avisou.
Ele disse que ninguém chega perto dos ex-presidentes da República. “Tem oito, dez ou doze seguranças a vida inteira. Nós aqui do Estado temos que sair de cara limpa, ‘nego’ xingando a gente na rua. Por quê? É o preço da cadeira. É a única coisa. Não estou pedindo aposentadoria, nada disso. Só segurança para que a gente tenha um pouco de liberdade. Pelo serviço prestado, é uma contribuição. E não é exagero. Quantos ex-governadores temos, três ou quatro?”, perguntou.
Assista a íntegra do quadro Conversa de Política com o governador Mauro Carlesse: