O candidato da coligação Governo de Atitude, Mauro Carlesse (PHS), é o penúltimo entrevistado da série do CT. Ele voltou a defender a necessidade de sua eleição no dia 3 de junho em nome da estabilidade do Estado. “Por isso temos defendido a estabilidade, isto é, o equilíbrio das contas públicas. Em tão curto espaço de tempo não dá para fazer muito, por isso, entendemos serem mirabolantes as propostas da maioria dos nossos adversários”, afirmou Carlesse.
O governador interino disse que se seus adversários “estivessem, de fato, preocupados com o Estado”, se uniriam a ele para ajudar a tirar o Tocantins da crise. “As discussões e propostas sobre os projetos para o enfrentamento da maioria dos problemas do Estado – no médio e longo prazos –, a nosso ver, devem ser feitas nas eleições regulares, de outubro, não agora”, defendeu Carlesse.
Confira a íntegra da entrevista do governador interino Mauro Carlesse:
[bs-quote quote=”O orçamento dos Outros Poderes e Defensoria Pública do Estado do Tocantins representa 19,88% do total orçado para o exercício de 2018. Comparando o orçamento desta década (2010 a 2018), percebe-se um crescimento de 170,62%, percentual bem acima da inflação no período, que foi de 54,98%” style=”default” align=”left” author_name=”MAURO CARLESSE” author_job=”É candidato da coligação Governo de Atitude” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/05/CarlesseBico60.jpg”][/bs-quote]
CT – O governo do Tocantins deve R$ 1,3 bilhão para fornecedores, prestadores de serviços, consignados e Igeprev. Tem um passivo de mais de R$ 1 bilhão de direitos trabalhistas. Está desenquadrado em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), com quase 55% de comprometimento da Receita Corrente Líquida com a folha. Todos os últimos governadores prometeram uma mudança radical na vida do Estado, mas, ao assumirem, apenas reclamaram da “herança maldita”. Como se vê, já é totalmente conhecido o caos financeiro e fiscal do Tocantins. Se assumir o Palácio Araguaia, o sr. considera que ainda terá direito de se dizer surpreendido pelos números? E o que fazer diante de tamanho caos administrativo, financeiro e fiscal?
Mauro Carlesse — Não temos esse direito, pois já conseguimos realizar o levantamento da situação da maioria dos órgãos do governo, como mostramos recentemente. Imediatamente após esse levantamento, adotamos medidas de contenção de despesas, como a redução da carga horária dos servidores, redução da folha de pagamento e das diárias, gastos com combustíveis, com água, luz, telefone, entre outras. Mas ainda temos condições de reduzir os gastos em pelo menos 40%. Essas medidas são necessárias, já que, mesmo com a evolução da receita, a despesa vem superando a arrecadação. A redução da folha é imprescindível, uma vez que ao ultrapassar os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) o Estado fica impossibilitado de captar recursos junto ao governo federal e, consequentemente, de fomentar a economia. Isso impede a geração de novos empregos e renda para a população tocantinense, fundamentais para o aumento da arrecadação.
CT — Os Poderes hoje recebem o duodécimo sobre o orçado e não o arrecadado. Têm os maiores salários, projetos milionários, empurram seus aposentados para a conta do Igeprev, aliviando seus orçamentos. O sr. pretende fazer uma conversa com os Poderes sobre a contribuição deles para solucionar a crise do Estado?
Mauro Carlesse —Sim, já estamos fazendo isso. O orçamento dos Outros Poderes e Defensoria Pública do Estado do Tocantins representa 19,88% do total orçado para o exercício de 2018. Comparando o orçamento desta década (2010 a 2018), percebe-se um crescimento de 170,62%, percentual bem acima da inflação no período, que foi de 54,98%. Em comparação com o restante da região Norte do País, o Tocantins é o segundo Estado que mais investe em receita para outros poderes, ficando atrás apenas de Rondônia. Mas estou certo de que, diante da situação difícil pela qual o Estado atravessa, também é interesse dos demais Poderes, além do Ministério Público, Defensoria e Tribunal de Contas do Estado, darem sua contribuição para sairmos dessa situação.
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CT — Uma das reclamações mais frequentes é sobre o excesso de nomeações de cabos eleitorais para atender deputados e conquistar apoio de todo o Estado. Como o sr. avalia essa preocupação e como pretende lidar com esta questão?
Mauro Carlesse — De fato, isso precisa acabar. Como já foi dito, o Estado não tem condições de suportar esse tipo despesa. Ao chegar ao governo, iniciamos esses cortes, exonerações, mas fomos impedidos [por decisão judicial] de continuar com o enxugamento da folha. Hoje, precisaríamos exonerar, no mínimo, 3 mil ou 4 mil servidores contratados e comissionados, para começar.
CT — Se eleito, o senhor terá um mandato de seis meses, apenas. A despeito de concorrer ou não em outubro, e considerando também as eleições ordinárias, o que dá para fazer em tão pouco tempo?
Mauro Carlesse —Por isso temos defendido a estabilidade, isto é, o equilíbrio das contas públicas. Em tão curto espaço de tempo não dá para fazer muito, por isso, entendemos serem mirabolantes as propostas da maioria dos nossos adversários. Se estivessem, de fato, preocupados com o Estado, se uniriam a nós para tirarmos o Tocantins da crise. As discussões e propostas sobre os projetos para o enfrentamento da maioria dos problemas do Estado – no médio e longo prazos –, a nosso ver, devem ser feitas nas eleições regulares, de outubro, não agora. Estou organizando o Estado, criando as condições mínimas para o funcionamento da máquina pública, ou seja, buscando a estabilidade, resgatando a credibilidade do Executivo. Para isso estamos negociando com todos os credores, pois os serviços oferecidos à população não podem sofrer interrupções.
CT — Cinco dos seis ex-governadores do Tocantins enfrentam graves problemas com o Judiciário. O Estado viu ex-governador sendo preso, conduzido coercivamente, suspeitas de desvios de milhões. Ou seja, o eleitor tem todo o direito de estar desconfiado. Como resgatar a confiança do eleitor na figura da maior autoridade do Estado nesse contexto?
Mauro Carlesse —Vivemos uma crise de representatividade sem precedentes. Quer dizer, as pessoas não se sentem representadas pelos seus representantes políticos. É troca-troca de governadores, políticos até então respeitados sendo presos… Enfim, há um descrédito geral dos políticos. Porém, não é evitando os políticos ou deixando de votar que vamos mudar essa realidade. Na verdade, vamos mudar esse quadro fazendo justamente o contrário: participando da política, nos candidatando a cargos eletivos. Por isso mesmo, não tenho o direito de errar, como tenho dito diariamente a todos os secretários. Vamos resgatar a credibilidade do governo fazendo uma gestão honesta e eficiente – mesmo com tantas dificuldades.
CT — Um dos problemas mais graves e urgentes do Estado é com a saúde. Morte de bebês cardiopatas, filas em hospitais, falta de remédio para pacientes de câncer, prédios de hospitais sucateados [caso do Dona Regina, que engenheiros dizem não ter condições para continuar como uma unidade hospitalar]. Diante da crise financeira e fiscal, comprometimento elevado da receita com pessoal, como dar dignidade ao cidadão que busca atendimento na área de saúde?
Mauro Carlesse —Além desses problemas citados, encontramos vários outros, como a falta de ambulância para os municípios, falta de o repasse (também para os municípios) de recursos para a aquisição de medicamentos para as Farmácias Básicas, entre outros. Neste momento, dada a gravidade da situação deixada pelo governador cassado, estamos adotando medidas emergenciais. Por exemplo, já determinei o início do mutirão de cirurgias para zerar a fila de espera. É um absurdo as pessoas ficarem esperando por meses, às vezes até por anos, por uma cirurgia. Inclusive, na semana passada já foram realizadas cerca de 20 cirurgias pediátricas de baixa complexidade, durante um mutirão no Hospital Infantil de Palmas. Precisamos, enfim, zerar a fila de cirurgias em nosso Estado. Há outros problemas que precisam ser enfrentados, mas entendemos que esses são os mais graves, e precisam de medidas urgentes, às quais já estamos providenciando.
[bs-quote quote=”Ao chegar ao governo, iniciamos esses cortes, exonerações, mas fomos impedidos de continuar com o enxugamento da folha. Hoje, precisaríamos exonerar, no mínimo, 3 mil ou 4 mil servidores contratados e comissionados, para começar” style=”default” align=”right” author_name=”MAURO CARLESSE” author_job=”É candidato da coligação Governo de Atitude” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/05/CarlesseBico60.jpg”][/bs-quote]
CT — Como o Estado tem papel fundamental para a economia regional se movimentar, o que os fornecedores, que tem para receber R$ 344.850.827,99, podem esperar de sua gestão?
Mauro Carlesse —As respostas às perguntas iniciais trazem justamente o resultado de uma perspectiva de ajustes fiscais, o que possibilitará ao Estado honrar seus compromissos, inclusive suas dívidas, deixando claro que nada se pode fazer de um dia para ou outro, mas estipulando em seus resultados fiscais bimestrais e quadrimestrais.
CT — As perdas do Igeprev com investimentos de risco em governos anteriores podem chegar a R$ 1 bilhão. Além disso, o Estado deve R$ 351.786.355,25 retidos dos servidores e do patronal e não repassados. Há um risco de ter que, no curto prazo, aumentar a contribuição do servidor para o instituto, ou logo o Igeprev se tornará deficitário e o Estado terá que complementar a folha. Como o sr. pretende lidar com essas questões, caso eleito?
Mauro Carlesse — Sim. A questão do Igeprev é urgente. Mas não há milagre para resolver esse problema. Um primeiro passo nós já estamos dando: repassar ao instituto o que é recolhido dos servidores. Como mostramos recentemente, mais de R$ 350 milhões – entre o patronal e o que foi descontado dos servidores – deixaram de ser repassados ao Igeprev pelo governo anterior.
CT — Há um déficit enorme de Policiais Militares na Corporação. O governo Marcelo Miranda preparou um concurso para mil policiais, mas os sindicatos defendem pelo menos 2 mil novas vagas. No entanto, novamente, volta o tema da crise financeira e fiscal. Na outra ponta, a violência é muito grande nos principais municípios, com números elevados de assassinatos em cidades como Araguaína e Gurupi. Droga por todos os municípios. Na Polícia Civil não é diferente: faltam policiais, delegados e as delegacias e viaturas são precárias. Como aliviar o clamor do cidadão por mais segurança, em meio à falta de recursos?
Mauro Carlesse — Na área da Segurança Pública já determinei que os policiais militares que estavam em funções administrativas retornassem às ruas. O mesmo se aplica a um grande número de policiais que estava à disposição de outros Poderes ou até mesmo no Palácio. Estamos tentando destravar o concurso da Polícia Militar e vamos convocar mais policiais civis – do cadastro reserva – aprovados no último concurso. Estas são medidas emergenciais, mas não basta aumentar o número de policiais, é preciso também oferecer-lhes condições de trabalho, melhorar as delegacias, adquirir novas viaturas, entre outras medidas. Isso precisa ser feito, a médio e longo prazo. A curto prazo, estamos fazendo o que é possível, com os poucos recursos financeiros que temos.
CT — Por que o sr. deve ser eleito e não seus adversários? Qual a sua diferença em relação a eles?
Mauro Carlesse —Vamos começar pela segunda pergunta. Não sou melhor nem pior que ninguém, mas não estou fazendo nenhuma proposta mirabolante, como alguns dos meus adversários têm feito. Não adianta fazer esse tipo de promessa agora, afinal o mandato para a eleição suplementar vai apenas até o dia 31 de dezembro. Por isso, nossas propostas são todas exequíveis, planejadas para esse período. Outra coisa muito importante a ser considerada é que o Estado não suporta tanta mudança, tanto troca-troca de governadores. Uma mudança agora gera ainda mais instabilidade política, jurídica e econômica ao Estado.