O Centro de Direitos Humanos de Cristalândia – Dom Heriberto Hermes emitiu nota pública nesse sábado, 6, em que manifesta “extrema preocupação” com os fatos revelados pela Operação Fames-19, que culminou no afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e “expôs o envolvimento de políticos, agentes públicos e deputados em esquemas de desvio de verbas públicas”. “Trata-se de um crime de lesa-pátria e de desumanidade, uma vez que o dinheiro público que deveria saciar a fome dos mais pobres foi supostamente utilizado para benefício pessoal e político”, lamenta a nota assinada pelo coordenador da entidade, padre Eduardo Lustosa de Alencar.
PREJUÍZO DE R$ 73 MILHÕES
A Operação Fames-19 apura desvios de recursos destinados à compra de cestas básicas para pessoas vulneráveis durante a pandemia da Covid-19, entre 2020 e 2021. Segundo a Polícia Federal, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, com prejuízo estimado superior a R$ 73 milhões aos cofres públicos.
ENFRAQUECE AS INSTITUIÇÕES
O centro também avalia no documento que o “ciclo de corrupção” do Estado que resultou em “sucessivas cassações de governadores, inelegibilidades de políticos e até mesmo afastamentos de magistrados” “enfraquece as instituições e a confiança pública”.
APURE COM RIGOR
O centro ressaltou que em sua atuação testemunha “situações dramáticas: mães diluindo leite com água para alimentar os filhos, crianças chorando ao ganharem um pacote de bolacha, e até casos extremos como o suicídio de um adolescente cercado pela pobreza”. “A fome é uma realidade cruel e cotidiana para milhares de tocantinenses”, lamenta a nota. “Diante disso, exigimos que a Operação Fames-19 apure com rigor todos os envolvidos, respeitando o contraditório e a ampla defesa, mas buscando a responsabilização penal, civil e administrativa exemplar dos culpados”, defende a entidade.
RECONHECIMENTO A KASARIN
No final, o centro faz um reconhecimento ao prefeito de Colinas, Josemar Kasarin (UB), que, pelos diálogos transcritos pela Polícia Federal da troca de mensagens de dois operadores do esquema, se recusou a participar ao tomar conhecimento de ilegalidades no processo. “Reconhecemos e valorizamos a postura íntegra de agentes públicos que resistiram a esses esquemas, como o Prefeito Josemar Carlos Kasarin, da cidade de Colinas do Tocantins, citado pela Polícia Federal como exemplo de conduta firme e honesta, quanto aos fatos objeto da investigação”, afirma o coordenador, padre Eduardo Lustosa de Alencar.
Leia a íntegra:
“NOTA PÚBLICA – CENTRO DE DIREITOS HUMANOS DOM HERIBERTO
O Centro de Direitos Humanos de Cristalândia – Dom Heriberto Hermes, manifesta extrema preocupação com os fatos revelados pela Operação Fames-19, que culminou no afastamento do Governador do Estado do Tocantins e expôs o envolvimento de políticos, agentes públicos e deputados em esquemas de desvio de verbas públicas.
Conforme alertou o jurista Dr. Rui Barbosa, em que já dizia: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar de virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”, de modo que a constante vitória da desonra e da injustiça pode abalar a fé na virtude e na honestidade. Há anos, o Tocantins presencia sucessivas cassações de governadores, inelegibilidades de políticos e até mesmo afastamentos de magistrados, um ciclo de corrupção que enfraquece as instituições e a confiança pública.
A operação em questão investiga o desvio de recursos destinados ao combate à fome, especialmente durante a pandemia da COVID-19. Trata-se de um crime de lesa-pátria e de desumanidade, uma vez que o dinheiro público, que deveria saciar a fome dos mais pobres, foi supostamente utilizado para benefício pessoal e político.
Em nossa atuação, testemunhamos situações dramáticas: mães diluindo leite com água para alimentar os filhos, crianças chorando ao ganharem um pacote de bolacha, e até casos extremos como o suicídio de um adolescente cercado pela pobreza. A fome é uma realidade cruel e cotidiana para milhares de tocantinenses.
Diante disso, exigimos que a Operação Fames-19 apure com rigor todos os envolvidos, respeitando o contraditório e a ampla defesa, mas buscando a responsabilização penal, civil e administrativa exemplar dos culpados.
Por fim, reconhecemos e valorizamos a postura íntegra de agentes públicos que resistiram a esses esquemas, como o Prefeito Josemar Carlos Casarin, da cidade de Colinas do Tocantins, citado pela Polícia Federal como exemplo de conduta firme e honesta, quanto aos fatos objeto da investigação.
Que prevaleça a justiça, e que os bons exemplos sejam replicados, para que possamos, como ensinou Tereza de Calcutá, ser lembrados por tercemos dignidade aos mais necessitados, através da coerência no testemunho de vida, já que não seremos julgados pelos diplomas ou dinheiro que juntamos, mas sim pelo: “Eu tive fome e você me deu de comer; estava nu e você me vestiu; não tinha casa e você me abrigou”.
Paraíso do Tocantins – TO, 6 de setembro de 2025.
Pe. Eduardo Lustosa de Alencar
Coordenador Executiva”