Com o sistema de saúde do Brasil em colapso, o presidente Jair Bolsonaro fez na noite desta terça-feira, 23, um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV e tentou mudar o tom em relação às vacinas anti-Covid.
O discurso foi acompanhado por panelaços nas principais cidades do país e marca a estratégia do governo de emplacar uma nova imagem de Bolsonaro, que agora prometeu fazer de 2021 o “ano da vacinação dos brasileiros”.
“Não sabemos por quanto tempo teremos que enfrentar essa doença, mas a produção nacional vai garantir que possamos vacinar os brasileiros todos os anos, independentemente das variantes que possam surgir”, disse o presidente.
Em seu pronunciamento, Bolsonaro afirmou que o Brasil é o “quinto país que mais vacinou no mundo”, ignorando as diferenças de população entre as nações. Até o momento, cerca de 12,8 milhões de pessoas receberam pelo menos uma dose de imunizantes anti-Covid, o que deixa o Brasil atrás somente de Estados Unidos, China, Índia e Reino Unido em números absolutos.
No entanto, isso representa apenas 5,4% da população brasileira, índice inferior ao de mais de 50 países, segundo o portal Our World in Data. Embora o Brasil esteja atravessando o pico da pandemia, com recordes consecutivos nas mortes e média de óbitos em alta há mais de um mês, Bolsonaro declarou que, “muito em breve, retomaremos nossa vida normal”.
O presidente também citou a liberação de R$ 20 bilhões para a compra da Coronavac, vacina chinesa trazida ao Brasil pelo governo de São Paulo, mas ignorou o fato de ter tentado sabotar o imunizante no ano passado.
Em publicações no Facebook, Bolsonaro chegou a dizer em 2020 que não compraria a “vacina da China” e a comemorar a suspensão dos testes do produto devido ao suicídio de um voluntário. “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu o presidente na ocasião.
O mandatário ainda afirmou no pronunciamento que intercedeu “pessoalmente junto à fabricante Pfizer para a antecipação de 100 milhões de doses, que serão entregues até setembro de 2021, e também com a Janssen, garantindo 38 milhões de doses para este ano.” “Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população”, acrescentou. Do total de doses contratadas, menos da metade será entregue no primeiro semestre, sendo que a Fundação Oswaldo Cruz anunciou na terça-feira que vai disponibilizar 11,2 milhões a menos que o previsto em abril.
Já o contrato com a Pfizer prevê 100 milhões de doses, como disse Bolsonaro, sendo 1 milhão em abril, 2,5 milhões em maio e 10 milhões em junho. As 86,5 milhões restantes chegarão ao Brasil somente no segundo semestre.
O acordo com a Janssen, por sua vez, prevê que todas as 38 milhões de doses sejam entregues na segunda metade do ano, sendo 21,1 milhões no último trimestre. A Pfizer tentava vender sua vacina ao Brasil desde agosto do ano passado, mas o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse que o governo ignorou as ofertas da farmacêutica porque seu cronograma de entregas, com 2 milhões de doses já no primeiro trimestre, causaria “frustração” nos brasileiros.
Como o acordo com a Pfizer foi assinado apenas em março de 2021, o Brasil ainda não recebeu nenhuma dose da fabricante. Em seu discurso, Bolsonaro ainda mandou uma rara mensagem de condolências às famílias de vítimas da Covid. “Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em sua família. Que Deus conforte seus corações”, disse Bolsonaro, que há menos de 20 dias havia afirmado: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.
O Brasil tem atualmente 298.676 mortes pelo novo coronavírus, sem contar a subnotificação, e registrou o recorde de 3.251 óbitos apenas na última terça-feira. Isso representa quase 30% das mortes contabilizadas em todo o mundo no período.