O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira, 27, que o Brasil poderia “ter sido o primeiro do mundo” a vacinar contra a Covid-19 não fosse a demora nas ações do Ministério da Saúde.
A fala ocorreu durante a audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado.
A sessão começou com os questionamentos do relator Renan Calheiros (MDB/AL), que apresentou vídeos do presidente Jair Bolsonaro e do ex-funcionário do Ministério da Saúde Élcio Franco falando que o governo “não iria comprar a vacina chinesa”.
“Muitas vezes declarei que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tivemos que enfrentar nesse período, tanto do ponto de vista do contrato quanto do uso regulatório. Quer dizer, a Anvisa aprovou o uso em dezembro, mas poderíamos ter começado antes se tivesse uma agilidade de todos esses atores”, disse aos presentes.
Segundo Covas, o Instituto já tinha quase 10 milhões de doses prontas em dezembro de 2020, que vieram prontas da Sinovac Biotech. Ele ainda afirmou que, após a fala de Bolsonaro em uma live, em outubro, de que o país não compraria a “vacina chinesa”, as negociações ficaram suspensas por cerca de três meses.
A fala contradisse o que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello contou à CPI, de que as falas públicas de Bolsonaro “não afetaram” as negociações com o Butantan.
O diretor-presidente ainda pontuou que se o Ministério tivesse firmado o primeiro contrato apresentado, em julho, haveria a possibilidade de entrega de até 100 milhões de doses até maio de 2021.
Agora, por conta de atrasos no envio do IFA, Covas disse que não sabe se o Instituto conseguirá cumprir a entrega de 54 milhões de doses do segundo contrato firmado com o Ministério. As primeiras 46 milhões de doses foram entregues todas com 13 dias de atraso.
Sobre a empresa chinesa, o presidente do Butantan informou que a escolha por ela foi por conta da tecnologia de produção da vacina CoronaVac já ser de conhecimento do instituto brasileiro e que ela era a “mais avançada” das analisadas naquele momento, no meio de 2020.
Ainda conforme Covas, a “coparticipação” na produção da vacina era vantajosa para ambos porque a China já tinha controlado a pandemia naquele período e precisava de voluntários para os estudos de fase 3. Já o Brasil, enfrentava uma alta nos casos e seria um local adequado para isso.
Sobre as críticas públicas feitas pelo governo federal à China, Covas citou que se o país tivesse uma postura mais “pragmática” com os chineses, os atrasos no envio das doses ou do IFA não ocorreriam. Citando falas do embaixador chinês, o líder do Instituto afirmou que as “posições causavam inconformismo” no governo de Pequim.
Um dos pontos positivos, foi a troca do ex-chanceler Ernesto Araújo por Carlos França. Segundo Covas, foi a primeira vez que ele foi convocado para uma reunião em nível federal para debater as vacinas desde o início das tratativas.
Pressionado pelo senador governista Marcos Rogério (DEM) sobre o fato da China estar “boicotando” o Brasil, Covas voltou a usar as falas do embaixador chinês de que essa postura “atrapalha” a liberação, coisa que não ocorreu com outras nações.