Independente de qual seja o governo, o Palácio sempre foi disputado a tapas pelos diversos candidatos nos municípios tocantinenses.
Assim, surge a pergunta: Quem quer o Governador Mauro Carlesse em seu palanque?
Para avaliar essa situação, é importante dizer que ter o governo como aliado significa dar ao eleitor a perspectiva de firmar convênios, obter apoio e obras, liberar emendas, mas, sobretudo, ter o comando dos órgãos estaduais no município. A vantagem não é pequena, e isso faz do governador um reforço considerável em campanhas municipais.
[bs-quote quote=”O Governador Mauro Carlesse, ao invés de se incomodar com eventuais apelidos, seja de ‘ditador’ ou de ‘camaleão branco’, que grudaram nele, deveria se livrar de quem não se preocupa com a sua imagem e parece estar sempre nos bastidores da crise” style=”default” align=”right” author_name=”EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS” author_job=”É deputado estadual licenciado” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/eduardo-siqueira-60.jpg”][/bs-quote]
No entanto, para fazer uma boa análise desse cenário, cabe verificar como a população enxerga o atual governo. Quanto maior a cidade, mais cuidado terão os grupos para considerar uma aliança, pois pesarão fatores críticos como número de funcionários públicos, hospitais estaduais, condições de segurança pública, entre tantos outros.
A existência de uma grande obra em andamento traz a esperança da sua inauguração, com a presença do governador, pousando para fotos e discursando para os seus aliados. Porto Nacional seria um bom exemplo. Se a obra estiver em franca evolução, maior será a força do governador.
As cidades maiores, como Palmas, Araguaína, Paraíso e o grupo dos dez grandes centros, merecem atenção caso a caso. Aí cabe a pergunta: Como anda a popularidade do governador e como o eleitor irá recebê-lo no palanque?
Segundo princípio de Maquiavel, deve-se começar um governo implantando-se medidas amargas de uma só vez e concedendo-se benefícios em pequenas e permanentes doses. De acordo com esse princípio, há um aspecto curioso a ser desvendado no Palácio: o governador está conseguindo contratar grandes empréstimos, tem gerenciado bem o programa de recuperação de estradas e acena com a possibilidade de um repasse considerável para os municípios. Seriam as doses do bem, ministradas ao longo do tempo.
Mas o que intriga no Palácio é que parece haver alguém, ou lá de dentro, ou de fora, mas com grande influência, que consegue criar uma crise de tempos em tempos, colocando o governo na lona, exposto a desgastes desnecessários. É o caso, por exemplo, da nova mexida com os delegados de polícia. Quando tudo parecia estar se acalmando, lá vem essa figura oculta e atira o governo em uma nova e imprevisível crise.
Outro exemplo é a medida provisória dos tais 40% para o alto escalão. Logo após anunciar e conseguir aprovar reajuste de 1%, para o quadro geral do estado e dos demais poderes, vem o anúncio dessa MP. Nesse ponto, o governador precisa ter em mente que, ao final do seu governo, quando vierem as eleições, secretários não serão julgados. Ao contrário, terminado o mandato do governador, os secretários desaparecem. A conta será cobrada, exclusivamente, dele, nunca de secretários ou frequentadores do Palácio que influenciem nas decisões.
Em Palmas, por exemplo, as pesquisas que li apontam um governo exposto na mídia, apanhando diariamente por problemas no HGP e vivendo um inferno astral com as centrais sindicais, contexto que revela o risco de ser desgastante a presença palaciana em qualquer palanque na capital.
Em Araguaína não é diferente. O quadro só começa a melhorar em Gurupi, terra do Mauro Carlesse, onde o processo eleitoral exigirá muita habilidade do governador, para que ele não seja considerado um perdedor em sua própria casa.
A comunicação do governo começou a reagir. A presença do Presidente Bolsonaro, neste mês, para a assinatura de um importante empréstimo, pode ser o divisor de águas. A partir daí, começará uma verdadeira guerra entre deputados, para tentar puxar o governador para os seus grupos nos municípios. Para essa articulação, o governador conta com dois secretários leais e competentes, o Divino Allan e o José Humberto.
Mas somente o governador, com seu temperamento forte, pode puxar as rédeas e dar voz de comando nas decisões de estado, visando desarticular sombras palacianas que agem por interesses próprios e arrastam o governo para infindáveis crises e desgastes.
Não houve um governador mais apelidado de ditador do que o Velho Siqueira Campos, mas decidir era com ele mesmo. O Governador Mauro Carlesse, ao invés de se incomodar com eventuais apelidos, seja de “ditador” ou de “camaleão branco”, que grudaram nele, deveria se livrar de quem não se preocupa com a sua imagem e parece estar sempre nos bastidores da crise.
Às vezes, dá a impressão de que o governador não esquenta a cabeça com essas coisas. O fato, no entanto, é que cada governo termina com uma imagem. Melhor que seja a de um Carlesse sem papas na língua, mas que decida. Quem escolhe sua marca é o governador e não amigos, frequentadores assíduos do Palácio ou eminências pardas palacianas. Que prevaleça o Carlesse duro e decidido, que rompeu amarras para desenvolver o estado.
É sempre bom lembrar: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”! Mãos à obra, governador!
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS
É deputado estadual licenciado, foi prefeito de Palmas, deputado federal, senador e secretário de Estado no Tocantins
palmas14777@icloud.com
(Afastado da política, Eduardo Siqueira Campos escreverá quinzenalmente neste espaço)